
Poucas horas depois de ser preso sob acusações de fraude nesta quinta-feira (20), Steve Bannon, o ex-estrategista-chefe de Donald Trump e guru de políticos de extrema direita, foi solto após pagar uma fiança de US$ 5 milhões. Em sua primeira aparição no tribunal, ele se declarou inocente.
Bannon foi acusado de cometer fraude numa campanha de financiamento coletivo para a arrecadação de fundos para apoiar a construção do muro na fronteira do país com o México, segundo informou o Departamento de Justiça dos EUA. Os valores ultrapassam os US$ 25 milhões, o equivalente a cerca de R$ 141 milhões.
Além dele, outros três acusados também foram detidos: Andrew Badolato, Brian Kolfage e Timothy Shea. De acordo com os investigadores, Bannon e seus comparsas fraudaram centenas de milhares de doadores por meio da campanha “We Build the Wall” (“Nós vamos construir o muro”, em tradução livre), iniciada em 2018.
Segundo os promotores, Bannon prometeu usar todo o valor arrecadado na obra, mas o dinheiro foi usado, entre outros, para financiar despesas pessoais e o luxuoso estilo de vida de Brian Kolfage, descrito como o rosto público e fundador da campanha.
20 anos de prisão
A procuradora interina do distrito sul de Nova York, Audrey Strauss recomendou a pena mínima de 20 anos de prisão para cada acusado. Nesta quinta, o juiz Stewart D. Aaron afirmou que a fiança, estabelecida em 5 milhões de dólares, deve ser assegurada em US$ 1,75 milhão em dinheiro ou em bens, e que duas pessoas devem assinar como responsáveis financeiras.
Segundo a rede americana CNN, o ex-conselheiro de Trump estava impaciente durante a audiência, balançando em sua cadeira. Mesmo usando uma máscara, por conta da pandemia da Covid-19, era possível ver que Bannon estava bronzeado.
O ideólogo também terá supervisão antes do julgamento e terá suas movimentações restringidas aos distritos Sul e Leste de Nova York, ao distrito de Connecticut e a Washington. Ele não poderá usar aviões particulares, iates ou barcos sem permissão do tribunal. Os termos da decisão expiram em 3 de setembro.
Steve Bannon é conhecido por espalhar teorias conspiratórias de extrema direita, além de ser dono de uma rede de sites de desinformação. O ex-conselheiro foi peça chave durante a campanha de Trump à Casa Branca em 2016. Com um discurso incendiário, Bannon teve discordâncias com o presidente nos meses seguintes à eleição e rompeu totalmente com o republicano.
Nomes ligados a Trump
A repórteres nesta quinta-feira, Trump disse se sentir “muito mal” sobre as acusações, mas tentou se distanciar do esquema investigado. “Acho que é um evento triste”, disse o presidente americano. “Eu não lido com ele há anos, literalmente anos”. O presidente americano também disse ter pouco conhecimento do projeto. No entanto, uma das pessoas envolvidas, Kris Kobach, ex-secretária de Estado do Kansas, disse em 2019 que Trump havia fornecido apoio, segundo o New York Times.
Bannon é a oitava pessoa próxima a Trump a ser preso ou condenado por um crime, em uma lista que inclui o ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn; Michael Cohen, ex-advogado pessoal do presidente; o amigo de longa data e assessor Roger Stone; e Paul Manafort, ex-chefe de campanha.
Bannon e Bolsonaro
Em 2018, Bannon se aproximou da família Bolsonaro. Em agosto daquele ano, ele se reuniu com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em Nova York. Na ocasião, o deputado federal relatou que Bannon era um entusiasta de seu pai e que ambos manteriam contato “para somar forças, principalmente contra o marxismo cultural”. Em outubro, o extremista de direita declarou apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (sem partido).
“Tivemos uma ótima conversa e compartilhamos a mesma visão de mundo. Ele disse ser um entusiasta da campanha de Bolsonaro e certamente estamos em contato para unir forças, especialmente contra o marxismo cultural”.
Com informações da Deutsche Welle e Veja