
A bancada ruralista se dividiu na eleição da presidência da Câmara: enquanto o atual e o próximo presidente do grupo apoiam Baleia Rossi (MDB-SP), boa parte da diretoria prefere Arthur Lira (PP-AL). O racha foi evidenciado em uma declaração do presidente Jair Bolsonaro, que ontem cobrou apoio de todo o grupo ao “nosso candidato”, em referência a Lira.
A frente conta formalmente com cerca de 230 deputados – os parlamentares podem integrar várias frentes temáticas, e os interesses do agronegócio costumam ter mais influência sobre os deputados de estados onde a atividade predomina.
O atual presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), nome oficial do grupo, e o deputado eleito para comandar o grupo a partir de fevereiro já declararam apoio ao emedebista. Alceu Moreira (RS) e Sérgio Souza (PR) são do mesmo partido de Rossi, que inclusive é o presidente do MDB. Outros parlamentares do grupo, porém, são aliados de Lira e trabalham para garantir ao candidato do governo a maioria da bancada.
Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada na manhã de ontem, o presidente criticou três vezes deputados ruralistas que não apoiam o seu preferido.
O campo nunca teve um tratamento tão justo e honesto como tem comigo, em todos os aspectos. Alguns parlamentares do campo, em vez de apoiarem o nosso candidato, estão apoiando o outro candidato, não entendo -reclamou Bolsonaro. -O mínimo que eu peço para os parlamentares do campo, que eu tenho profunda gratidão e apreço por eles, é que votem no nosso candidato pra Mesa, pra gente não deixar mais caducar medidas provisórias. Vejo o pessoal do agronegócio, alguns poucos, é lógico, apoiando um candidato que está do lado da esquerda.
Após a fala de Bolsonaro, Alceu Moreira afirmou que a cobrança do presidente não faz sentido porque a eleição é na Câmara:
A eleição não é entre o Bolsonaro e o (Rodrigo) Maia, é entre o Baleia e o Lira. Nada pode ser pior para a Presidência da República do que se posicionar de forma a conseguir adversários gratuitos, que votaram sistematicamente o que é bom para o país, junto com o governo.
Já Sérgio Souza procurou minimizar a declaração, dizendo que a frente não tem candidato e que cada integrante poderá votar como quiser:
-A frente não tem candidato. Quem tem candidato são os colegas parlamentares. Nós da bancada ruralista temos dado todo o apoio ao governo. A maioria das pautas do governo são nossas pautas também. Não é uma eleição para dividir ou unir a bancada. Cada um dos colegas parlamentares terá liberdade devoto.
Um dos coordenadores da FPA, o deputado Neri Gel-ler (PP-MT) minimiza a discordância e atribuiu o apoio dos colegas a Rossi a questões partidárias.
-Posso te assegurar que a grande maioria está com o Arthur Lira. Quem não está apoiando são os parlamentares ligados ao MDB.
Outro coordenador da frente, Pedro Lupion (DEM-PR) afirma que está trabalhando para “levar a maioria da bancada” para apoiar Lira.