
Foi libertada nesta quarta-feira (10), após quase três anos, Loujain al-Hathloul, 31 anos, ativista pelo direito das mulheres na Arábia Saudita. Presa em 2018 por fazer uma campanha onde defendia o direitos das mulheres de dirigir e pelo fim do sistema de tutela masculino do país, Hathloul, sofreu tortura em cárcere.
Hathloul foi detida junto com várias outras ativistas dos direitos das mulheres e foi condenada por acusações de tentar mudar o sistema político saudita e prejudicar a unidade nacional. A Human Rights Watch chamou sua condenação de “farsa de justiça”.
A família de Hathloul diz que ela foi submetida a choques elétricos, afogamento, açoites e agressão sexual enquanto esteve na prisão. Especialistas em direitos humanos da ONU classificaram as agressões de “espúrias”, sob as amplas leis antiterrorismo.
Segundo reportagem do O Globo, as autoridades sauditas negaram a alegação de que Hathloul foi torturada na prisão, citando a falta de provas, disse sua família na terça-feira (9). O tribunal que avaliou o caso, suspendeu dois anos e 10 meses de sua sentença, que era de seis anos. No entanto, a ativista não pode deixar o país pelos próximos cinco anos.
De volta ao lar
“Loujain está em casa!!!!!!”, sua irmã Lina tuitou. Sua outra irmã, Alia, disse em outra postagem que Hathloul estava na casa de seus pais na Arábia Saudita, acrescentando que este era o melhor dia da de sua vida. Ela postou uma foto de Hathloul sorrindo em um jardim, parecendo muito mais magra e com mechas grisalhas no cabelo.
Biden endurece discurso
O governo americano, sob comando do presidente Joe Biden, revelou que está adotando uma linha mais firme com a Arábia Saudita e diz esperar que Riad (local onde a ativista estava presa) melhore seu histórico de direitos humanos, incluindo a libertação de ativistas pelos direitos das mulheres e outros prisioneiros políticos.
O histórico de direitos da Arábia Saudita ganhou destaque internacional após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Diplomatas disseram que o reino, cujo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, contou com forte apoio de Trump nos últimos meses, parece estar agindo para lidar com os possíveis pontos de atrito com o novo governo Biden.
Autoridades sauditas libertaram dois ativistas com cidadania norte-americana sob fiança este mês, enquanto aguardam julgamentos por acusações relacionadas ao terrorismo. No mês passado, um tribunal de apelações saudita reduziu quase pela metade a pena de seis anos de prisão para um médico saudita dos Estados Unidos e suspendeu o restante de sua pena, o que significa que ele não teve que voltar para a prisão
Histórico de Hathloul
Hathloul ganhou destaque em 2013, quando começou a fazer campanha pelo direito das mulheres de dirigir na Arábia Saudita. Foi presa pela primeira vez em 2014, enquanto tentava atravessar a fronteira dos Emirados Árabes Unidos para a Arábia Saudita.
Em 2016, um ano depois de se tornar uma das primeiras mulheres a se candidatar às eleições municipais na Arábia Saudita, ela estava entre os 14 mil signatários de uma petição ao rei Salman pedindo o fim do sistema de tutela.
Em 2018, participou de uma reunião pública em Genebra para informar o Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) sobre os direitos das mulheres na Arábia Saudita. Em março do mesmo ano foi presa nos Emirados Árabes Unidos, onde estudava, e foi levada à força para Riad. A mídia saudita a classificou como traidora.
Seu julgamento começou em março de 2019 no tribunal criminal de Riad, após dez meses de detenção. Em agosto de 2019, a família de Hathloul disse que ela rejeitou uma proposta para garantir sua libertação da prisão em troca de uma declaração em vídeo negando relatos de que ela foi torturada sob custódia.
Hathloul fez greve de fome em outubro passado para protestar contra as condições de sua detenção. Sua família disse que ela foi forçada a abandonar a greve de fome depois de duas semanas porque seus carcereiros a acordavam a cada duas horas.
Em novembro de 2020, seu caso foi transferido de um tribunal criminal comum para um tribunal especial contra terrorismo. Em dezembro, o promotor público saudita foi inocentado de acusações de abuso contra Hathloul pelo tribunal criminal. Este mês, um tribunal de apelações também rejeitou suas alegações de tortura, que as autoridades sauditas negaram.
Em 28 de dezembro de 2020, Hathloul foi condenada a cinco anos e oito meses de prisão, com dois anos e 10 meses de suspensão. As acusações contra ela incluem tentar mudar o sistema político saudita e prejudicar a segurança nacional.
Com informações do O Globo