
A ativista indígena Txai Suruí, que discursou na abertura da COP26, a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, foi intimidada por brasileiros após sua fala.
“Depois do meu discurso, fui dar algumas entrevistas, muitas pessoas queriam falar comigo, e uma parte brasileira ficou me intimidando. Ele chegou depois em um momento e falou ‘não fala mal do Brasil, porque a gente está aqui para ajudar’. Me senti muito intimidada e não foi muito legal”, disse Txai ao Uol News.
Txai não conseguiu identificar essas pessoas, apenas que são brasileiros devido às credenciais que usavam.
Em seu discurso, a ativista denunciou o avanço da exploração ilegal de terras indígenas na Amazônia.
Ela também criticou a falta de representantes do alto escalão do governo na conferência.
“O Brasil, que é um dos países que sempre tiveram no centro dessa discussão, sempre um dos países mais importantes, não tem os seus representantes aqui, do governo”, disse.
E defendeu a participação dos povos indígenas nas decisões da cúpula do clima e lembrou o assassinato do amigo Ari Uru-Eu-Wau-Wau.
Ataque aos direitos dos indígenas
Txai também se mostrou pessimista em relação aos compromissos que o Brasil assinou na COP26. Dentre os acordos firmados entre os países presentes na conferência está a redução em 30% das emissões de gás metano até 2030.
“O Brasil fala que vai colocar os povos indígenas no centro dessa discussão, vai acabar com o desmatamento, mas o que a gente está passando no Brasil é uma enorme pressão dos nossos direitos”, disse a indígena.
Txai cita a tese do Marco Temporal, ação que corre no STF e prega que povos indígenas só podem reivindicar terras onde já estavam no dia 5 de outubro de 1988.
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“São projetos que querem acabar com as terras indígenas no Brasil. Hoje, se você pega o mapa do Brasil, você vê que só tem floresta em pé onde há presença dos povos indígenas. Isso está sendo muito pouco levado a sério, principalmente porque o Brasil fala, mas não cumpre com o que vem prometendo”, enfatizou.
Genocídio indígena
Perguntada sobre a tese de genocídio dos povos originários defendida inicialmente pela CPI da Covid, Txai diz concordar que os indígenas são alvos de um extermínio. A imputação do crime de genocídio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acabou ficando de fora do relatório final da comissão.
“É exatamente isso que a gente está passando, um genocídio… durante a pandemia, perdi duas avós, tios, primos. É sim um genocídio. Tudo o que a gente vem passando, toda invasão, o desmatamento que vem assolando as nossas terras indígenas”, disse Txai.
A ativista contou que antes de ir para a COP26 esteve na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, onde viu criação de gado.
“O governo incentivou a invasão das terras indígenas, que leva a nossa perseguição, e ameaça a nossas vidas. Então sim, é um genocídio e deveria ser chamada como tal”
Txai Suruí
Bolsonaro ataca ativista indígena
Em sua típica conversa com apoiadores nesta quarta, Bolsonaro não citou Suruí nominalmente.
“Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá —para substituir o [cacique] Raoni— para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém viu o americano criticando as queimadas lá no estado da Califórnia. É só aqui”, queixou-se Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada.
Com informações do Uol e da Folha de S.Paulo