
No último domingo (28), o ex-juiz Sergio Moro, afirmou não ter arrependimentos por seu trabalho na Operação Lava Jato, apesar da decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou sua atuação parcial em caso do ex-presidente Lula. “Não me arrependo de nada. Pelo contrário. Tenho muito orgulho do que foi feito na Operação Lava Jato”, disse.
Moro até admitiu a possibilidade de erros na Lava Jato, mas não propositais. “Pode ter tido algum erro aqui ou ali. Mas algum abuso, algo intencional? Nada.”
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De acordo com a Folha de S.Paulo, ao participar de transmissão com a presença de empresários e políticos, e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro disse ser necessário desmistificar a narrativa de criminalização e de que haveria “tramoias” nos bastidores de sua atuação.
Depois do que chamou de desabafo, Moro encerrou: “Dá para tocar [Edith] Piaf [cantora francesa] ao fundo. Non, je ne regrette Rien. Não me arrependo de nada. Foi um trabalho importante, reconhecido pela população brasileira”.
Primeira manifestação de Moro após suspeição
Essa é a primeira vez que Moro se manifesta presencialmente sobre a decisão da Segunda Turma do STF pela parcialidade do ex-juiz na condução do caso do tríplex do Guarujá (SP), que havia levado à condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Na última quarta (24), o ex-juiz divulgou uma nota sobre a decisão do STF, ocorrida na véspera, e disse que tinha “absoluta tranquilidade” sobre as decisões.
Neste domingo, embora não tenho citado especificamente a decisão do STF sobre sua conduta, Moro chamou de “muito ruim” a decisão que retirou de Curitiba a competência para julgar Lula.
“Sempre tratei o STF com o máximo respeito, mas a decisão de revisão da jurisprudência das execuções da primeira instância foi uma decisão errada, uma decisão infeliz.”
Suspeição confirmada pelo STF
A decisão da Segunda Turma do STF foi tomada por 3 votos a 2, após mudança de posicionamento da ministra Cármen Lúcia. A turma julgou procedente o habeas corpus em que a defesa do petista pedia a declaração da suspeição de Moro e decidiu anular a ação do triplex — ficam nulos todos os atos do ex-juiz.
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski foram os outros dois ministros do colegiado a votar contra Moro. Os votos derrotados foram os de Kassio Nunes Marques e Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.
A decisão abriu caminho para a anulação de outros processos da força-tarefa e investigação de procuradores por parcialidade em suas deliberações.
“Limpar a barra“
Segundo coluna da Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, procuradores da Lava Jato discutiram, em março de 2019, uma forma de “limpar a barra” e se desvincularem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que os jornalistas voltassem a dar credibilidade à operação.
A procuradora Jerusa Viecili admitiu, em conversa com colegas da força-tarefa da Lava Jato, que a operação ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro em 2018.
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O diálogo foi entregue nesta segunda ao STF pela defesa do ex-presidente Lula, que foi autorizada a ter acesso ao material da Operação Spoofing.
Na conversa, Jerusa afirma para o também procurador Deltan Dallagnol que, para tentar se reaproximar dos jornalistas, era preciso se “desvincular do Bozo”. “Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ “, disse.
“Temos que entender que a FT [Força Tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso”, acrescentou.
Confira o que a procuradora ainda disse:
“Veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais: 1. caso Flavio (se fosse qualquer outro politico envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte); 2. caso da lei de acesso à informação que o bozo, por decreto, ampliou rol de legitimados para decretar sigilo e depois a Câmara derrubou o decreto. A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o próprio caso de Onix Lorenzoni) agora, com a “comemoração da ditadura” (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura? sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (não sei como Amoedo não foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele). enfim, acho que defender a democracia, nesse momento, seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa. com relação a defender a Democracia, também seria importante um discurso de defesa das instituições. Atacamos muito o STF e seus ministros, mas sabemos que a democracia só existe com respeito às instituições. e o STF precisa ser preservado, como órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro. • 15:08:34 Jerusa pense com carinho “.
Dallagnol, então, responde: “Concordo Je. Acho nota esquisita. E se fizermos artigos de opinião? Acho que não da pra bater, mas da pra firmar posição numa abordagem mais ampla”.
Com informações da Folha de S. Paulo