
Por Marcelo Hailer
A Secretaria da Justiça e Cidadania de SP deve mediar uma audiência de conciliação entre rede Assaí Atacadista e o ajudante geral Luiz Carlos da Silva, homem negro que foi obrigado a se despir para provar que não tinha roubado nada.
Na semana passada, Luiz Carlos foi a uma loja da rede em Limeira (SP) para pesquisar o preço de alguns produtos, para depois retornar e comprar, mas, ao sair da loja foi cercado pelos seguranças que suspeitavam que ele tinha roubado alguma coisa, para provar o contrário, ele teve que tirar a sua roupa na frente de todas as pessoas que estavam presentes na loja.
O estado de São Paulo possui uma lei estadual que permite a punição administrativa por racismo, mas também para atos homofóbicos e machistas.
Por conta do episódio racista em Limeira, a rede Assaí pode receber uma advertência, pagar uma multa que pode chegar a R$ 870 mil e perder a sua licença de funcionamento estadual.
A secretaria de Justiça de São Paulo já entrou em contato com a defesa de Luiz Carlos da Silva para combinar uma data para realizar a audiência de mediação que será presidida pelo Tribunal de Justiça.
Em nota encaminhada à Fórum, a rede Assaí afirmou que até este momento “não recebeu notificação” da Secretaria de Justiça e Cidadania de São Paulo, mas afirmou que “permanece à disposição para a audiência de conciliação”.
Além disso, o grupo também informou que, assim que tomou conhecimento do ocorrido entrou em contato com a família de Luiz Carlos e que se prontificou “para a assistência necessária e se colocando à disposição”.
Confira abaixo a nota na integra:
“Sobre a notícia referente à Secretaria da Justiça e Cidadania de São Paulo, a companhia não recebeu ainda qualquer notificação, mas permanece à disposição para a audiência de conciliação. O Assaí está contribuindo com as autoridades responsáveis para que o ocorrido em 6 de agosto seja rapidamente apurado e entrou em contato com a família do sr. Luiz Carlos, tão prontamente soube do ocorrido, se desculpando, se prontificando para a assistência necessária e se colocando à disposição. A família informou que entraria em contato e a empresa, em respeito a esse pedido, permanece no aguardo. Como decisão imediata diante do ocorrido, a companhia realizou uma apuração interna e desligou o funcionário responsável pela abordagem, solicitando ainda o afastamento do terceiro que o acompanhava. Realizou ainda treinamento de reciclagem a todos(as) os 160 colaboradores(as) da loja de Limeira, cujo foco esteve em diversidade, preconceito e protocolos de atendimento. O mesmo está sendo planejado para as demais lojas. Esta não é uma medida isolada: o Assaí está atualizando e evoluindo continuamente em procedimentos internos e construindo planos de reciclagem e aprimoramento, além de estudar outras iniciativas para serem implantadas em toda a companhia, adicionando às políticas atuais, como o Código de Ética e Política de Diversidade e promoção dos Direitos Humanos”.
O caso
Luiz Carlos , um homem negro de 56 anos foi humilhado em um mercado na região de central de Limeira (SP). Acusado pelos seguranças do estabelecimento de ter furtado, ele foi obrigado a tirar a sua roupa para provar o contrário.
De acordo com o Boletim de Ocorrência, ele foi abordado por dois seguranças quando saía do Assaí Atacadista. O homem teve que tirar parte de sua roupa na frente de outros clientes que estavam no local para provar que não tinha roubado.
Segundo a vítima, ela entrou no mercado para verificar o preço de alguns produtos e iria retornar mais tarde.
“Eu tirei a camisa e como não tinha nada, os seguranças ficaram se olhando, como se eu tivesse algo na calça, aí eu acabei abaixando a calça”, relatou o homem.
Outras denúncias
Essa não é a primeira vez que a rede Assaí e denunciada por racismo.
Por meio de suas redes sociais, Yagoh Jesus, homem negro que vive no Rio de Janeiro, postou um vídeo onde é possível observar que Ferreira e seus amigos são perseguidos por seguranças da rede atacadista Assaí.
Em determinado momento do vídeo, quando Yagoh Jesus e seus amigos já estão na fila do caixa para pagar as compras, eles chegam a ser cercados pelos seguranças.
É possível escutar alguns dos seguranças reclamarem da filmagem. Nas redes sociais da Assaí Atacadista não há qualquer menção ao caso.
Procurada pela reportagem da Fórum, a rede atacadista pediu desculpas à vítima e informou que abriu uma investigação interna.
Movimento negro ocupa mercado
Representantes de organizações do movimento negro fizeram um ato, na última quarta-feira (11), em uma unidade da rede atacadista Assaí em Limeira (SP), para denunciar o racismo do supermercado.
Na última semana, em um caso que ganhou projeção nacional, um homem negro foi acusado por seguranças da unidade de furto e obrigado a tirar a roupa para provar o contrário.
Humilhado, o homem foi amparado por outras pessoas que presenciaram a cena. Segundo relatos, a vítima chorava de vergonha. Após o ocorrido, ele registrou um Boletim de Ocorrência pelo crime de constrangimento ilegal.
Militantes do Movimento Raiz da Liberdade e do coletivo negro do MTST, então, encamparam a ação antirracista nesta quinta-feira no supermercado.