
Representantes das duas principais entidades de secretários de saúde no Brasil disseram que o Ministério da Saúde aceitou o pedido das entidades e voltou atrás nas mudanças das fichas que consolidam casos e mortes por Covid-19 no Brasil. Integrantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) confirmaram o recuo da pasta à TV Globo na tarde desta quarta-feira (24).
A mudança promovida pelo ministério ocorreu no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) e chegou a impactar o número de mortes por Covid-19 já divulgados por alguns estados nesta quarta, como São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. No caso de São Paulo, por exemplo, após a mudança, as mortes caíram de 1.021 (na terça) para 281 (nesta quarta).
As mudanças na ficha do Sivep-Gripe passaram a exigir o número do Cartão Nacional de Saúde (Cartão SUS); se o paciente é brasileiro ou estrangeiro; e se já foi vacinado contra a Covid-19. Também passou a ser exigido o CPF de pacientes.
Mudança em contagem de Covid-19 foi equivocada
Em seguida à divulgação da mudança, o presidente do Conass, Carlos Lula, reeleito nesta quarta-feira (24) para o comando do colegiado, disse que o ministério precisava rever “imediatamente” a norma. Ele avaliou que “‘a decisão é equivocada, gera descrédito e tem de ser revista imediatamente.”
Antes da mudança, a secretaria-executiva do Conasems disse que as mudanças “já estavam sendo discutidas anteriormente devido à necessidade de aprimoramento nas informações coletadas”.
Segundo o Conasems, “o que ocorreu foi uma falta de comunicação adequada” na hora de de fato implementar os novos campos. “Por este motivo solicitamos a retirada desses campos como obrigatórios por enquanto”, disse o órgão.
Ficha do Sivep-Gripe vale em todo o país
A ficha do Sivep-Gripe é válida para todos os hospitais e vigilâncias municipais do país. A ficha do paciente vai sendo preenchida conforme ele evolui e novas informações são obtidas – como o resultado de exames, a necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou de ventilação mecânica, além da data da alta ou do óbito.
Segundo técnicos que são usuários do Sivep, em mudanças anteriores da ficha, não houve necessidade de preenchimento retroativo de novos campos para pacientes que já constavam do sistema.
Atraso na notificação em casos e mortes por Covid-19
Coordenador do InfoGripe – plataforma da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que desde antes da pandemia já usava o Sivep-Gripe para rastrear os casos de SRAG no Brasil –, Marcelo Gomes explica que a mudança pode provocar atraso de notificação de casos e de óbitos.
“É uma mudança que facilita a limpeza de duplicidades e identificação de casos suspeitos de reinfecção, mas o impacto na ponta é muito grande por conta da falta de acesso fácil ao CPF e CNS de todos os pacientes internados.”
Marcelo Gomes, Fiocruz
Gomes explica que “diversos pacientes buscam atendimento apenas com RG, tornando a ausência de acesso ao CPF importante. Nesses casos, torna-se necessário o agente de saúde pesquisar o CNS do paciente, caso já tenha sido cadastrado ou efetuar o cadastro do CNS caso contrário”.
Para Gomes, a mudança “tende a atrasar ainda mais o registro, aumenta a carga de trabalho, por ter que buscar o CNS do paciente que não apresentar CPF, e corre-se o risco de perda de registros por conta disso”.
Com informações do G1