
Depois de receber uma avalanche de críticas e registrar a pior repercussão negativa no Twitter desde o início da gestão, em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (sem partido) revogou, em uma edição extra do Diário Oficial da União publicada na noite desta quarta-feira (28), o decreto que previa a inclusão das Unidades Básicas de Saúde (UBS) no programa de concessões e privatizações do governo.
O decreto, agora sem validade, tomava como base uma resolução de 2019 do Conselho do programa de PPI, de investimento privado, para autorizar o Ministério da Economia a realizar estudos e avaliar parcerias com a iniciativa privada para a construção, modernização e operação das Unidades de Saúde de estados, municípios e Distrito Federal.
Atualmente, o Brasil conta com 40 mil UBSs em funcionamento. As unidades são consideradas a porta de entrada de todos os atendimentos prestados a cerca de 180 milhões de brasileiros.
Decreto da saúde, mas sem Pazuello
Sem participação oficial do ministério da Saúde, como previsto no documento do ano passado, o texto não chegou a ser assinado pelo chefe da pasta, Eduardo Pazuello, o que causou desconfiança entre parlamentares.
Na assinatura da norma estavam apenas as assinaturas ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente.
Rejeição no Twitter
Dados levantados pela consultoria Arquimedes e obtidos pelo Instituto Sonar indicam que 98,5% das menções feitas nesta quarta na plataforma sobre o tema foram desfavoráveis ao governo Bolsonaro. A pressão online, junto com a movimentação política em Brasília, levou a um recuo, levando o presidente a dar um passo atrás.
A consultoria Arquimedes analisou mais de 150 mil menções no Twitter ao Sistema Único de Saúde e às unidades de saúde, publicadas entre meia-noite e 16h desta quarta. Além das 98,5% mensagens negativas em relação à proposta, 1,5% das publicações adotaram tom favorável à iniciativa que tinha, de acordo com Bolsonaro, a intenção de levantar recursos para terminar obras de unidades inacabadas e “permitir aos usuários buscar a rede privada com despesas pagas pela União”.
Diante da possibilidade de uma brecha para a privatização de ativos da rede de saúde, a hashtag #DefendaOSUS permaneceu como a mais citada por usuários da plataforma durante a maior parte do dia e a revogação foi comemorada por congressistas que estiveram na linha de frente do embate travado com o Planalto.
Bolsonaro em sua própria defesa
Pelas redes, o mandatário buscou se defender e embasar a decisão da revogação no fim da tarde.
“O SUS e sua falsa privatização. Temos atualmente mais de 4.000 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 168 Unidades de Pronto Atendimento (UPA) inacabadas. Faltam recursos financeiros para conclusão das obras, aquisição de equipamentos e contratação de pessoal. O espírito do Decreto 10.530, já revogado, visava o término dessas obras, bem como permitir aos usuários buscar a rede privada com despesas pagas pela União. A simples leitura do Decreto em momento algum sinalizava para a privatização do SUS. Em havendo entendimento futuro dos benefícios propostos pelo Decreto o mesmo poderá ser reeditado”, escreveu.
Falha no Enem
Ainda de acordo com a Arquimedes, a falha na correção da prova do Enem, em janeiro deste ano, havia sido o episódio mais desastroso para o governo no Twitter até hoje. Naquela ocasião, a consultoria identificou cerca de 90% menções negativas à administração federal.
“A base de apoiadores do governo não encontrou argumento para defender o decreto sobre as unidades de saúde. As críticas, no entanto, ultrapassaram o diálogo sobre política, alcançando influenciadores de toda sorte. O alcance e a velocidade foram impressionantes”, afirmou Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes e responsável pelo levantamento.
Emicida protagonizou debate
Entre as publicações sobre o SUS verificadas pela Arquimedes, a que mais obteve impacto digital foi feita pelo cantor e compositor Emicida, com mais de 100 mil retuítes em contas de outros usuários. Às 11h21m da manhã desta quarta, o artista publicou uma foto de uma projeção em um prédio onde se lia: “O SUS salva vidas. Ele não”. A mensagem é uma referência à mobilização virtual e presencial feita em 2018 por opositores a de Bolsonaro naquele ano.
Além de Emicida, o youtuber Felipe Neto também se destacou entre os autores de conteúdos que mais mobilizaram o Twitter. O influenciador obteve mais de 24 mil retuítes ao escrever: “Quem defende a privatização do SUS é GENOCIDA”.
Com informações do jornal O Globo