
Com os recursos da União cada vez mais destinado ao Orçamento Secreto para abastecer a base parlamentar, Jair Bolsonaro (PL) propôs o corte de 58% da verba destinada ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, O DataSUS, que vem sofrendo desmonte desde 2018 e provocou um apagão de dados sobre a Covid-19 em plena pandemia.
Pela proposta enviada ao Congresso, o órgão teria R$ 140,2 milhões disponíveis ao próximo ano, enquanto a verba sugerida para 2022 foi de R$ 330 milhões (em valores correntes).
Em 2021, a verba destinada ao DataSUS, de R$ 136 milhões, já havia sido a menor da história – quase três vezes menos que em 2013, quando o governo Dilma Rousseff (PT) destinou R$ 345 milhões ao órgão.
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Entre outras atribuições do departamento está a administração de aplicativos de certificação das vacinas, como a da Covid-19.
Por falta de recursos, o sistema está vulnerável e foi alvo de ao menos 7 ataques de hackers em 2021, ocasionando um apagão sobre os dados da pandemia.
Em nota, o Ministério da Saúde declara que está atento “às necessidades orçamentárias e buscará, em diálogo com o Congresso Nacional, as adequações necessárias”.
Apagão tecnológico no Brasil
Apenas no primeiro trimestre de 2021, 80 mil postos de trabalho da economia criativa foram fechados. A falta de investimentos no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro tem prejudicado inúmeros setores. Educação, ciência e tecnologia são os mais perseguidos na gestão neoliberal de desmonte do Estado pelo bolsonarismo. E o que poderia ajudar a alavancar a economia e aliviar a população tem se tornado um pesadelo. O Brasil de Bolsonaro vive um apagão tecnológico.
O panorama atual é desolador. Faltam recursos para garantir o funcionamento básico das universidades federais, bolsas de pesquisa científica foram cortadas, a única fábrica de chips do país foi fechada, há ameaça de desligamento do supercomputador Tupã, utilizado para fazer previsão meteorológica e climática.
Todos fazem parte da economia criativa, ao lado das artes, comunicação, arquitetura, turismo, tecnologia da informação e tantas outras atividades que envolvam a capacidade humana de buscar soluções para as questões que se apresentam. O desmonte realizado por Bolsonaro aliado à pandemia da covid-19 agrava a situação a cada dia.
O resultado desse apagão tecnológico são talentos de diversos setores que deixam o país para poder trabalhar, a economia atravancada e a fome que espreita mais da metade da população.
Criativos desempregados
O número de postos de trabalho ligados à economia criativa no Brasil diminuiu 4% no primeiro trimestre de 2021, em comparação ao mesmo período de 2020. Isso representa o fechamento de 244 mil vagas, de acordo com estudo do Observatório Itaú Cultural.
A queda interrompe uma série de altas nos dois trimestres anteriores. Em relação ao quarto trimestre do ano passado, são 80 mil vagas a menos. Segundo o levantamento, a economia criativa encerrou o primeiro trimestre com 6.599.590 postos de trabalho no país. No mesmo período de 2020, havia 6.843.455.
Desmonte tecnológico
A única fábrica brasileira de semicondutores, que serve para produzir chips, está sendo fechada pelo governo federal. A justificativa do conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) é que o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal federal criada em 2008 e instalada em Porto Alegre (RS) não dá lucro e sequer se sustenta.
Mas não percebeu – ou não quis perceber – a oportunidade gerada com a crise global dos semicondutores e o aumento da demanda mundial, que tem crescido fortemente.
A liquidação Ceitec vai significar a dispensa de 180 funcionários de alta qualificação técnica, muitos dos quais só vão conseguir mercado no exterior, num evento que entidades científicas consideram um “capítulo dramático” do apagão que atinge o setor tecnológico no Brasil.
Empresa perto do equilíbrio econômico
Os semicondutores são fundamentais em computadores em geral e estão presentes em itens de consumo e na infraestrutura de comunicações. O Ceitec produziu chips para colocar em animais e rastreá-los para passagem em pedágios. Desde que começou a funcionar, o centro forneceu um terço dos insumos consumidos nesse setor no Brasil.
As projeções avaliam que a empresa caminha para o equilíbrio econômico, que seria atingido entre 2025, no cenário mais otimista, e 2029, no mais pessimista. Mesmo assim, a decisão foi pela extinção (opções para o não fechamento seriam a manutenção, uma parceria com a iniciativa privada ou a privatização).
Desligar o supercomputador para economizar
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é outro órgão essencial ao país que enfrenta a crise da falta de verba. Para economizar recursos e energia elétrica, o governo disse que desligaria o Tupã, um supercomputador utilizado para fazer previsão meteorológica e climática. Previsto para agosto, seria o primeiro desligamento da história e traria diversos problemas para o Brasil.
Após a repercussão negativa do anúncio, o Inpe anunciou que o Tupã será substituído. As diferenças, contudo, são gritantes. A começar pelos custos.
Em 2010, o supercomputador Tupã custou US$ 23 milhões e chegou a ser o 29° equipamento mais potente do mundo, com capacidade de fazer 258 trilhões de cálculos por segundo. O Inpe informa que comprou uma nova máquina, em junho, pelo valor de US$ 729 mil, ou R$ 3,7 milhões. O equipamento será entregue em um prazo de 50 a 60 dias.
Solução paliativa
Com o alerta de crise hídrica, os documentos são entregues semanalmente ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Sem os dados, o governo ficaria às cegas quanto à gestão do problema. A decisão de comprar uma máquina menor foi criticada pelo coordenador-geral de Ciências da Terra do Inpe, Gilvan Sampaio de Oliveira.
Ele afirmou em comissão da Câmara dos Deputados, que os novos equipamentos não apresentam o mesmo desempenho do supercomputador. De acordo com Oliveira, uma máquina menos potente foi adquirida em 2018 e já vem sendo usada pelo instituto. O novo computador adquirido pelo Inpe com recursos do PNUD, porém, também seria um equipamento de menor capacidade em comparação ao atual Tupã.
“Tanto a máquina que adquirimos em 2018, quanto essa máquina que vem agora com recursos do PNUD, através no MCTI para aprimorar os modelos numéricos, são paliativos”, firmou Oliveira. “O que nós realmente precisamos é de recursos para adquirir uma máquina de grande porte, que permitirá que avancemos mais rapidamente em todo o sistema nacional de meteorologia”, adicionou o especialista.
Abandono da ciência
Em 2021, o Inpe recebeu R$ 44,7 milhões, frente a um total previsto de R$ 76 milhões, junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
As possíveis consequências imediatas do desligamento estariam relacionadas ao funcionamento do operador nacional do sistema elétrico que coordena o funcionamento das usinas hidrelétricas, termelétricas e das plantas eólicas e à atuação da Agência Nacional de Energia Elétrica na distribuição da energia pelo Brasil. Tudo isso em meio à crise hídrica e energética que já aumentou as tarifas de luz e trouxe de volta a ameaça do racionamento.