
Uma nova onda de tecnologias de ponta, que aproveitam as vantagens da digitalização e a conectividade está em rápido desenvolvimento mundo afora. A constatação é da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), no relatório Technology and Innovation Report 2021, divulgado na quinta-feira (25).
O documento sobre tecnologia e inovação em 2021 destaca a inteligência artificial, a internet das coisas, grandes bancos de dados, blockchain, 5G, impressão 3D, robótica, drones, edição de genes, nanotecnologia e tecnologia fotovoltaica.
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A agência da ONU realça que a recuperação pós-Covid-19 oferece uma oportunidade aos governos e à comunidade internacional para uso de tecnologias novas e de ponta para combater as desigualdades geradas pela pandemia.
O estudo revela que a chamada alta tecnologia representa um mercado de US$ 350 bilhões. Em 2025, esta quantia poderá crescer para mais de US$ 3,2 trilhões.
De acordo com o documento, os Estados Unidos, a Suíça e o Reino Unido estão entre as nações mais bem preparadas para as tecnologias de ponta.
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O índice que avaliou a prontidão em 158 países coloca Portugal no lugar 32, o mais bem posicionado do ranking entre as nações de língua portuguesa. A seguir estão Brasil em 41º; Cabo Verde, na posição 101; e São Tomé e Príncipe, em 140º. Mais abaixo, aparecem Timor-Leste em 144º lugar e Moçambique, em 149º.
Tecnologia no Nordeste brasileiro
O estudo menciona ainda casos como o do Brasil, pela atuação para conectar startups com empresas já estabelecidas. Um programa nacional promove a aceleração destes pequenos negócios que utilizam novas tecnologias.
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Outro exemplo brasileiro é o do incentivo do uso de tecnologias de código aberto, com a partilha de informações gratuitas e métodos sustentáveis. O Projeto Um Milhão de Cisternas beneficiou áreas semiáridas do nordeste com esses depósitos, promovendo o aprendizado e fortalecimento baseado na comunidade.
O Relatório de Tecnologia e Inovação 2021 alerta, no entanto, sobre “graves implicações para as comunidades e países pobres, suprimidos, ou simplesmente deixados para trás por essa onda tecnológica”.
É que os países mais bem preparados para usar, adotar e adaptar essas tecnologias de maneira equitativa estão principalmente na América do Norte e na Europa. Do lado oposto estão nações da África Subsaariana e em outras regiões em desenvolvimento.
China e Índia
O documento também enfatiza o papel de governos como essencial na preparação do caminho para acesso a estas tecnologias, especialmente criando um ambiente propício e garantindo que os benefícios sejam compartilhados por todos.
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A China e a Índia tiveram um bom desempenho em áreas como pesquisa e desenvolvimento como reflexo da “oferta abundante de recursos humanos qualificados e altamente qualificados”.
Os dois países contam com grandes mercados locais, que atraem investimentos de multinacionais. No caso da China, o progresso é, em parte, atribuído ao gasto de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) na pesquisa e desenvolvimento.
Adaptação
O relatório alertou ainda que as novas tecnologias levaram, ao mesmo tempo, a novas formas de desigualdade. Atualmente, há maiores preocupações com riscos da automação substituir postos de trabalho em larga escala.
Outros fatores de apreensão são a chamada gig economy, marcada por formas de emprego alternativo, e a redução dos direitos trabalhistas, as desigualdades criadas pela concentração de mercado e lucro, o aumento da desigualdade impulsionada pela inteligência artificial e o aumento das lacunas tecnológicas.
Com informações da Agência ONU
É importante notar que foi o próprio Karl Marx quem, em sua Contribuição à Crítica da Economia Política, discerniu o cenário em que se formam as condições para um processo de revolução social, descrevendo-o da seguinte forma:
“Em um determinado estágio de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade contradizem as relações de produção existentes ou – que é apenas sua expressão legal – com as relações de propriedade em que se moviam até então. A partir das formas de desenvolvimento das forças produtivas, essas relações se transformam em grilhões delas. Então, é um momento de revolução social. ‘ *
Ao rejeitar a busca da maximização do lucro como instrumento de estímulo à inovação, os países socialistas acabaram se condenando à obsolescência. Assim, perderam a chance de incorporar os ganhos de produtividade possibilitados pelo progresso tecnológico. É por isso que os países capitalistas conseguiram proporcionar uma maior elevação no padrão de vida de sua população, mesmo sem perseguir o ideal igualitário. Portanto, até a “crise final do socialismo” (para parafrasear as próprias definições de K. Marx mais uma vez), era apenas uma questão de tempo. Mas os fanáticos religiosos não desistem de sua fé, mesmo contra a prova indiscutível dos fatos, que a refutam completamente!
O que sempre tem acontecido à sociedade humana desde a época da pedra lascada é que o desenvolvimento tecnológico dispensa o ser humano de se dedicar a determinadas atividades, que passam a ser realizadas de forma mais intensiva, com aumento de produtividade de declínio no contingente de mão-de-obra empregada, eliminando-se determinados postos de trabalho com o auxílio da tecnologia desenvolvida. Mas os postos de trabalho eliminados são compensados com o maior emprego de mão-de-obra em setores mais desenvolvidos tecnologicamente.
Foi basicamente isso o que aconteceu quando o advento da Revolução Industrial ajudou a ampliar a produtividade do setor extrativista e agropecuário – notadamente a partir do advento da agroindústria – ao mesmo tempo em que reduzia a necessidade do emprego de mão-de-obra humana nesses setores, que compõe o setor primário da economia. Paralelamente, a Revolução Industrial deslocou a população economicamente ativa para o setor secundário da economia (artesanato, indústria e manufatura).
Esse processo foi primeiramente percebido pelo economista austríaco Joseph Alois Schumepeter, que o definiu como uma espécie de “destruição criativa” – isto é: o progresso tecnológico destrói oportunidades de trabalho em alguns setores, mas também cria novas oportunidades em outros setores!
O problema é que Schumpeter era um pessimista, que detestava o regime soviético, mas acreditava piamente em que ele encarnava o “futuro da humanidade”. Schumpeter não percebeu que ele havia encontrado a chave para explicar porque o capitalismo não se autodestrói numa imensa crise de superprodução, da forma como K. Marx previra que aconteceria: ao invés disso, ele se evolui, criando as condições para a superação da civilização tecnológica industrial e o subsequente advento de uma civilização tecnológica de caráter pós-industrial, da mesma forma como a Revolução Industrial já havia feito com a civilização agrícola ou pré-industrial.
Portanto, podemos concluir que desde a invenção das primeiras ferramentas de pedra lascada até a inteligência artifical e as viagens espaciais, a história humana não é movida por uma famigerada e altamente questionável “luta de classes”, mas pelo progresso tecnológico: desde que descobriu como manusear o fogo e produzir ferramentas, dentre as quais se inclui a roda, a evolução humana passou a ser mais tecnológica e menos biológica, ao contrário dos outros animais. O principal motivo para este fenômeno reside em que, com o auxílio da tecnologia que criamos, a raça humana passou a ficar gradativamente menos sujeita às limitações impostas pela natureza. Foi por obstruir esse mecanismo da evolução humana – desprezando a importância da maximização do lucro numa sociedade tecnológica industrial – que o chamado “modo de produção socialista” mostrou-se incapaz não apenas de competir com o capitalismo, mas até mesmo de subsistir. Portanto, é fácil deduzir que se trata de uma mera questão de TEMPO até o chamado “socialismo do séc. XXI” na Venezuela acabar seguindo o mesmo caminho do seu congênere do século passado. Contudo, se ainda houver reformas econômicas, é possível que ele sobreviva por mais algum tempo.
Parafraseando Marx mais uma vez, pode-se afirmar com certeza que o socialismo é um sistema repleto de contradições, que traz em si o germe da sua própria destruição: é o sistema que cava o seu próprio túmulo!
* Reproduzido de acordo com MARX, K. Prefácio ao Contributo para a Crítica da Economia Política, organizado por Florestan Fernandes e publicado sob o título K. Marx: Teoria e processo histórico da revolução social, In Marx & Engels, Great Social Scientists Collection , História, vol. 36. São Paulo: Ática, 1983. p. 232. Edição comemorativa do centenário da morte de Karl Marx
Obs.: Adaptação feita a partir de texto da minha autoria publicado na edição nº 72 da Revista da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual – RABPI em setembro de 2014.