
A Alemanha e a França, mais importantes países da União Europeia, fecharam o cerco contra movimentos suspeitos de atividade e discurso de extrema direita.
Na Alemanha, o maior partido de oposição, Alternativa para a Alemanha (AfD), de direita radical, está sob investigação. O Escritório Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla alemã) colocou o partido sob vigilância. A decisão foi tomada depois de dois anos de investigação sobre a atividade xenófoba do AfD, segundo a mídia europeia.
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Líderes do partido reagiram ao anúncio. Eles afirmaram haver motivação eleitoral e que vão recorrer à Justiça. Criado em 2013, o AfD tem um discurso contra imigrantes, principalmente muçulmanos, e cresceu após a crise dos refugiados de 2015. Naquela ocasião, cerca de 2 milhões de imigrantes entraram na Alemanha.
Discurso de ódio ameaça a democracia alemã
Advogados e especialistas em extremismo analisaram discursos de políticos da AfD e publicações na internet. A conclusão foi de que o partido é suspeito de extremismo e pode significar risco à democracia alemã.
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As autoridades alemãs já haviam dissolvido em 2020 a ala extremista da AfD, chamada Flügel (asa). Mas a agência de segurança diz que os membros ainda mantêm influência preocupante na agremiação.
Em setembro passado, o partido também demitiu seu ex-porta-voz Christian Lüth por declarações em que ele sugeria mandar imigrantes para a câmara de gás (a fala foi filmada sem que ele soubesse).
Já estavam sob investigação diretórios em quatro dos 16 estados; agora, o BfV poderá seguir as atividades de toda a sigla. A nova decisão inclui escutas da comunicação entre os militantes do partido, com exceção de parlamentares eleitos e candidatos às eleições deste ano.
Presença extremista no Parlamento alemão
Em 2017, nas últimas eleições para o Parlamento alemão, a AfD ficou em terceiro lugar, com 12,6% dos votos e 94 (13,3%) dos 709 deputados.
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Desde então, o partido perdeu popularidade e recebeu críticas pela retórica xenófoba e pela participação em protestos, entre os quais um em que manifestantes tentaram invadir o Parlamento.
Pesquisas recentes dão à AfD de 8% a 11% das intenções de voto para as eleições do segundo semestre.
Alemanha mantém radicais sob vigilância
A AfD é o primeiro partido com representação no Parlamento alemão (Bundestag) a ficar sob vigilância do BfV, departamento criado após a Segunda Guerra Mundial para impedir a expansão de grupos extremistas.
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De 2007 a 2014, a agência investigou também o partido A Esquerda, por causa das raízes comunista na antiga Alemanha oriental.
No ano passado, ao apresentar relatório sobre extremismo no país, o presidente do BfV, Thomas Haldenwang, afirmou que o extremismo de direita e o terrorismo de extrema-direita eram o maior perigo para a democracia alemã.
Governo francês enfrenta as milícias
Na França, o governo baniu o grupo xenófobo Geração Identitária. O Ministério do Interior o classificou nesta quarta (3) como “uma ideologia que incita ao ódio, à violência e à discriminação com base na origem, raça ou religião de alguém”.
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O decreto apresentado pelo ministério afirma que atividades do grupo deixam claro que ele pretende atuar como milícia.
Fundada em 2012, a Geração Identitária tem ramificações em vários países da Europa, está sob investigação na Áustria e, na Alemanha, é considerada de extrema direita.
França alertou para a chance de banir extrema direita
O governo francês havia levantado a possibilidade de proibir o grupo em janeiro. Na ocasião, cerca de 30 membros do Geração Identitária usaram um drone para “caçar” imigrantes ilegais na fronteira da França com a Espanha.
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O grupo tem relações com o Reunião Nacional, partido de direita radical liderado por Marine Le Pen. O fundador do Geração Identitária francês, Damien Lefèfre, ingressou no RN e é hoje assistente do eurodeputado Philippe Olivier.
Em janeiro, o partido de direita atacou os planos do governo francês de banir o Geração Identitária chamando-os de atentado contra a liberdade de consciência, expressão e associação.
Proibição de grupos radicais islâmicos
Em outubro, o governo francês também proibiu organizações consideradas extremistas islâmicas, após a decapitação do professor de história Samuel Paty por um refugiado tchetcheno.
“Não vamos deixar nenhum grupo, seja ele qual for, minar nossas leis ou nossos valores”, disse o porta-voz do governo do presidente Emannuel Macron nesta quarta.
Com informações da Folha de S.Paulo