O continente africano, que historicamente sofre com a invisibilidade global, reúne forças para enfrentar também o Covid-19

A África do Sul, país do continente africano que lidera o número de casos confirmados de coronavírus, 1000, registrou duas primeiras mortes pelo novo coronavírus. Desde quinta-feira (26/03), o presidente Cyril Ramaphosa decretou quarentena aos 57 milhões de habitantes do país, com confinamento de três semanas.
A progressão exponencial da doença no continente, que tem 1,2 bilhão de habitantes, preocupa autoridades locais.
Mesmo com números menores do que os mais de 220 mil da Europa ou os 100 mil da Ásia, dos 54 países do continente africano, 44 já registram casos de contaminação pelo Covid-19.
Ao todo, desde o início da pandemia, segundo informações do Centro para a Prevenção e Controle de Doenças (CDC) da União Africana foram 58 mortes no continente.
Até terça-feira (24), a África contava com 2.046 casos de covid-19, segundo o CDC. Entre os países africanos com casos relatados, estão em situação mais delicada Argélia, Camarões, Egito, Marrocos, Nigéria, Senegal, África do Sul , Togo e Tunísia, divulgou o Centro.
O Egito ocupa a primeira posição em número de mortes no continente, com 20 vítimas registradas até quinta (26). No mesmo período, o país teve 402 casos confirmados de coronavírus, ficando em segundo lugar.
Segundo o Brasil de Fato, em países como República Democrática do Congo e Zimbabué também registraram vítimas fatais do covid-19.
Crise Humanitária
Pelo aumento significativo no número de infecções nos últimos dias, a situação no continente africano, já devastado por epidemias como Ebola, tuberculose, HIV e malária, é considerada gravíssima.
Somado isso, as condições de altos níveis de pobreza e a má nutrição podem desencadear uma crise humanitária.
Para piorar a preocupação recorrente em relação à Africa, assim como acontece no Brasil, há o medo de que a massa da população já negligenciada seja a principal vítima das medidas de austeridade implementadas pelas autoridades. Pretos e pobres estão na linha de frente como mais afetados.
Em entrevista à agência Sputnik, o embaixador argentino em Angola, Luis Bellando, afirmou temer a “precariedade do sistema de saúde local” e a falta de “água [potável], latrinas e instalações sanitárias e de higiene”
O alerta às autoridades do continente foi dado pelo presidente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “A África deve acordar”, disse Tedros em uma coletiva de imprensa em Genebra, observando que “em outros países vimos como o vírus acelera após um certo ponto de inflexão”.
Tedros aconselhou o continente a “se preparar para o pior”.
Risco elevado pelo fluxo de estrangeiros
Por outro lado, o presidente do Instituto Brasil-África, João Bosco Monte, afirma que “Os números africanos são menos alarmantes do que se poderia imaginar, mas a ideia de que os países da África estão deixando de lado o controle do coronavírus é um mito”, afirma.
Em Ruanda as pessoas estão lavando as mãos em pias instaladas nos pontos de ônibus.
SEEN IN KIGALI: To prevent the risk of #Coronavirus outbreak, passengers at the Kigali Bus Park have to wash their hands before getting onto buses.#Rwanda has recorded NO case of the epidemic but the country has stepped up vigilance. pic.twitter.com/tb7cfUNj7K
— The New Times (Rwanda) (@NewTimesRwanda) March 9, 2020
O continente que já sofre com a invisibilidade global, internamente, reune forças para lutar também contra a pandemia.
Monte atualiza, por exemplo, que no Senegal, país que visitou na última semana, estão sendo adotados “ todos os cuidados possíveis”. Ele relata que teve contato com autoridades de outras nações e viu precauções sendo tomadas, como apurou o portal Exame.
Os países mais afetados, segundo Monte, devem ser aqueles onde circulam mais estrangeiros, Egito e a África do Sul. Juntos, os dois países têm 155 milhões de habitantes.
O Marrocos, pela proximidade com a Europa, e o Quênia, principal economia da África Oriental, que tem portos importantes também foram citados por João Bosco Monte como mais vulneráveis ao contágio.
Ele ainda alertou para o alto risco da Etiópia e vários países do continente onde milhões de pessoas vivem em comunidades com infraestrutura deficiente e muito concentradas.