
Políticos e influenciadores digitais foram às redes sociais nesta sexta-feira (28) comentar a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que determinou o afastamento imediato de Wilson Witzel do cargo de governador do Rio de Janeiro.
Acusado de fraude em compras na área da saúde durante a pandemia do coronavírus, ele foi distanciado de suas funções por pelo menos 180 dias pelo ministro Benedito Gonçalves. O operação deflagrada pela Polícia Federal também determinou a prisão do Pastor Everaldo, presidente do PSC, da qual Witzel faz parte.
Ex-aliado de Jair Bolsonaro (sem partido), Witzel se tornou oficialmente um dos principais opositores do mandatário. Durante o pronunciamento que fez na manhã desta sexta, ele acusou o presidente da República de estar aparelhando a máquina pública para fazer perseguição política contra adversários, disse estar ‘preocupado’ com os rumos da democracia e com a possibilidade de instalação de um regime autocrático no país.
Pergunta sem resposta
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) aproveitou o momento para refazer o questionamento mais replicado no Brasil ao longo da última semana. “Witzel foi afastado porque usou o escritório de advocacia de sua esposa para receber propina. Isso me lembra de perguntar novamente: Bolsonaro, por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle?”.
O deputado carioca também recordou o interesse do clã Bolsonaro em influenciar e escolher quem será o próximo governador do Rio. “Isso é vantajoso pra quem é investigado por corrupção. Será que a amizade entre Flávio Bolsonaro e Witzel deu uma rachadinha? Lembrando que foi o clã Bolsonaro que elegeu Witzel!”, definiu.
Colega de partido, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) defendeu o impeachment do governo, mas ponderou sobre o papel do Judiciário no caso. “Witzel é um nazista! Seu impeachment deve ser aprovado! Chegou a governador pelas relações com a famílicia. Há briga na gangue. E por que não comemoro a decisão judicial? Por entender o caráter de classe do judiciário. A legitimada de hoje é apoio a mais um ataque ilegal amanhã.”.
‘Farinha do mesmo saco’
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lamentou as consequências para o estado e afirmou que Bolsonaro e Witzel representam a mesma classe política brasileira. “Mais uma vergonha para o nosso Estado que já esperava o desfecho do impeachment. E não adianta, Bolsonaro tentar se distanciar. A briga deles não foi por questões éticas, mas porque Witzel queria ser candidato a presidente. Eles são farinha do mesmo saco”, disse a deputada.
Marcelo Calero (Cidadania-RJ) foi outro parlamentar a lastimar a corrupção que prossegue no país. “Mais um governador afastado. A cúpula do poder mais uma vez na mira da PF [Polícia Federal]. Políticos investigados por esquemas de corrupção na saúde, em plena pandemia! Um sujeito eleito com o discurso da moralidade! É lamentável e triste, mas parece que no Estado do Rio de Janeiro vivemos em looping eterno”, afirmou.
Mesmo sem citar nomes, no Senado, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reforçou o discurso contra a corrupção diante do episódio. “Qualquer indício de corrupção deve ser investigado e julgado no rigor da lei. Em meio à pandemia, as piores pessoas se utilizam da dor e do luto para desviar recursos. Não podemos, sob hipótese alguma, nos calar diante disso. A corrupção é a pior das doenças!”.
‘Moralismo’
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) viu no caso a continuidade de um processo histórico recorrente no Brasil. “A ascensão e queda recorde de Witzel está mais ligada à briguinha politiqueira na extrema direita, mas mostra mais uma vez o destino infalível dos moralistas sem moral. Foi assim com Collor, Aécio e, agora, Witzel. Todos antipetistas com discurso moralista”.
Henrique Fontana (PT-RS) preferiu recordar a relação entre o presidente do PSC, Pastor Everaldo, cuja prisão também foi determinada nesta sexta, e Bolsonaro. “Pastor Everaldo foi preso por desviar verbas de combate ao coronavírus no RJ. Aliado de Cunha, o pastor que batizou Bolsonaro no rio Jordão também é acusado de ter recebido R$ 6 milhões para ajudar Aécio nos debates de 2014. Sempre do lado errado da história!”.
‘Miséria política do bolsonarismo’
O ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apontou que a decisão da Corte demonstra a falência do fenômeno populista que resultou na chegada de Bolsonaro no Planalto. “O afastamento de Witzel escancara a miséria política do bolsonarismo, ao expor a hipocrisia do discurso moralista que elegeu Bolsonaro e Witzel, ambos hoje envolvidos em graves suspeitas de corrupção, e o Estado de exceção que vivemos, com uma decisão monocrática afastando um governador eleito.”
O humorista Marcelo Adnet, uma das personalidades mais críticas ao atual governo, afirmou que o afastamento do governador aconteceu justamente porque ele havia se afastado de Bolsonaro. “Witzel caiu porque rompeu com o desgoverno federal, que precisa desesperadamente impedir investigações contra a família do despresidente no Rio de Janeiro”, disse.
Consequências
Em uma sequência de perguntas e respostas, a escritora Elika Takamoto tentou resumir, de forma didática, as implicações da decisão proferida nesta sexta. “Tá feliz com o afastamento do Witzel? Sim. Ele é mesmo nojento? É. Achou que foi tarde? Sim. Acha correto um único juiz fazer isso? Não. As regras estritas do processo legal estão sendo seguidas? Não. Tá feliz com ele afastado? Sim. Foi correto? Não”, comentou.
A colunista do Valor, Maria Cristina Fernandes, recordou que a decisão desta sexta trará outras implicações importante para o clã Bolsonaro. “Além do cargo, o STJ também tirou de Witzel o poder de nomear o futuro procurador-geral de Justiça, chefe do MP [Ministério Público] estadual que investiga o esquema das rachadinhas”.
Aliados de Bolsonaro
Enquanto isso, aqueles que ainda seguem como aliados de Bolsonaro, como a vice-líder do governo na Câmara, Major Fabiana (PSL-SP), os deputados Bibo Nunes (PSL-RS), Carlos Jordy (PSL-RJ) e o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, comemoraram a decisão do STj.
A defesa do governador informou que não teve acesso aos autos, e criticou o fato de o afastamento ter sido decidido monocraticamente e sem abrir espaço para manifestação do réu.