
Líder do PSB na Câmara, o deputado Alessandro Molon (RJ) afirmou que pedirá ao Ministério Público Federal (MPF) que apure se houve abuso de poder ou uso político por parte da Polícia Federal na operação que apura desvios de recursos públicos para o enfrentamento à covid-19 no Estado do Rio de Janeiro. A operação, deflagrada nesta terça-feira (26), chegou a ser anunciada pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP) ontem, durante uma entrevista.
Ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, a parlamentar, uma das mais próximas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou: “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’ ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”.
Na manhã de hoje, Molon disse que ‘as interferências de Bolsonaro já são realidade’.
“Vamos representar ao MPF para que investigue para quem a operação contra Witzel foi vazada! Denúncias de desvios devem ser investigadas, mas como a aliada do presidente adiantou o fato? Sinal de que as interferências de Bolsonaro já são realidade. A PF não pode ser aparelhada!”, disse Alessandro Molon, acrescentando: “As investigações da Polícia Federal têm que acontecer, doa a quem doer. O que não é admissível é o vazamento das operações para quem quer que seja, bolsonaristas ou não. O sigilo deve ser preservado!”, apontou.
A polêmica revelação feita por Zambelli também recebeu o protesto de outras lideranças.
“O Brasil conheceu ontem e teve confirmação hoje de uma nova ‘função’: a de porta voz informal de operação da PF. Com direito a antecipar em um dia o anúncio da operação. A porta voz é a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), da intimidade do presidente Jair Bolsonaro. Deputada e Polícia Federal devem explicações sobre tamanha capacidade de ‘adivinhação’”, cobrou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry, que na segunda já havia apontado o vazamento de informações privilegiadas por parte de aliados do presidente.
Conselho de Ética
Representante do PSOL, o deputado Marcelo Freixo (RJ) também garantiu que exigirá providências da Casa. “Nós, do PSOL, já tínhamos entrado no Conselho de Ética da Câmara contra Carla Zambelli. Agora vamos incluir no processo o vazamento de informações privilegiadas da operação da PF no Rio de Janeiro. A parlamentar antecipou ontem que haveria ações contra os governadores. Como sabia disso?”, questionou.
Instrumentalização
Para o líder da oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), a fala de Zambelli é mais uma prova da tentativa da tentativa de instrumentalização dos órgãos de controle e investigação do país.
“As ingerências na PF começam a ficar claras . Em um momento de pico da pandemia, mais uma vez, tentam tirar do foco a saúde, pra um pretenso e falso (pelo menos, em Fortaleza) combate à corrupção. E o vazamento da informação está comprovado”, declarou.
Alvo na PF
Atualmente, a PF foi colocada no centro do debate nacional após o ex-ministro Sérgio Moro acusar o presidente de tentar interferir na instituição para proteger aliados e os filhos, atualmente investigados pelos crimes de ‘rachadinha’ e de gerenciar uma rede de distribuição de fake news.
Moro renunciou ao cargo de chefe da Justiça após Bolsonaro tentar nomear o atual presidente da diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, amigo da família, para o posto de diretor-geral da PF.
Após ser impedido de assumir o cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Rolando Alexandre de Souza assumiu a função e já no início de maio decidiu trocar a chefia da superintendência do Rio.