
Em sua primeira entrevista exclusiva desde que deixou o comando da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) não poupou críticas ao seu partido e ao presidente do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto, seu “amigo de 20 anos”.
Um dia antes da votação na Casa, o DEM decidiu não apoiar o nome de Baleia Rossi (MDB-SP), capitaneado por Maia e partidos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa, que terminou vencida pelo candidato governista Arthur Lira (PP-AL).
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“Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado (Rodrigo Pacheco/DEM-MG), ele entregou a nossa cabeça numa bandeja para o Palácio do Planalto”, afirmou Maia ao Valor Econômico.
Para o ex-presidente da Câmara, o movimento conduzido por ACM Neto, de aproximar o DEM do governo Bolsonaro, faz com que o partido volte para “extrema direita dos anos 1980”. Segundo ele, há a possibilidade de Bolsonaro se filiar ao partido.
Maia ainda criticou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de trabalhar nos bastidores pela aproximação com os rivais durante o processo eleitoral na Câmara.
“Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né?”
O deputado confirmou que irá sair do partido “sem pressa ou briga”, porém, não adiantou para qual legenda deve migrar. “Estarei num partido que será de oposição ao presidente Bolsonaro”, afirma.
“Não quero participar de um projeto que respalda todos os atos antidemocráticos. Não estou preocupado com quem vai comigo. Estou preocupado que eu não posso ficar. A questão para onde vou eu terei tempo para construir, conversando com os partidos sobre um projeto para 2022.”
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ACM Neto reage
Ao jornal O Globo, ACM Neto reagiu às críticas feitas por Maia. Segundo ele, o ex-presidente da Câmara “está procurando um culpado” para os seus próprios erros.
“Rodrigo está procurando um culpado e desculpas para os erros que ele próprio cometeu. Infelizmente, ele deixou o poder subir à cabeça e não considerou que os cargos são passageiros, transitórios. A gênese de tudo isso foi Rodrigo ter trabalhado, no fundo, para ele ser o presidente da Câmara. O candidato de Rodrigo Maia era Rodrigo Maia. No momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) não concedeu a ele o direito à reeleição, ele perdeu a força na condução desse processo e foi cometendo um erro atrás do outro, a ponto de ter chegado ao final sem sequer ter apoio de terço da bancada dele”, disse ACM Neto à coluna.
O presidente do DEM ainda afirmou que o seu foco era o Senado e ele tentou até o fim manter apoio ao Rossi, no entanto, a “rejeição de Maiara era muito grande”.
“Não consegui, porque o desgaste e a rejeição com Maia eram tão grandes que no final ficou impossível construir maioria para o Baleia. Se não fosse a minha intervenção no final para garantir a neutralidade, a maioridade da bancada teria aderido ao bloco de Arthur Lira (PP-AL). Entrei para evitar que o vexame de Rodrigo fosse maior” disse ACM.
Para ACM Neto, a aproximação com o candidato de Bolsonaro, que já declarou apoio as pautas do presidente, não significa apoio ao Planalto. “Ele sabe que não existe esse movimento de aproximação com o governo. Tudo isso que Maia diz é para justificar a falha de articulação política dele”, concluiu.
Com informações do jornal O Globo