
Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), recebeu 1.272 relatórios de inteligência produzidos por diversos órgãos do governo entre os anos de 2019 e 2020, informou neste sábado (23) o jornal O Globo. Os relatórios, enviados ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), foram usados para repassar informações estratégicas ao Palácio do Planalto.
Os dados contradizem as reclamações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro durante a reunião ministerial de 22 de abril, na qual o mandatário se queixa de não estar recebendo informações eficientes dos órgãos de inteligência e diz precisar utilizar seu sistema “paralelo” de dados.
Apenas em 2019, o Sisbin recebeu 951 documentos de inteligência e 321 até agora, no ano de 2020.
Atualmente, a Agência que controla o sistema é comandada pelo delegado Alexandre Ramagem, homem de confiança do presidente, a quem Bolsonaro tentou indicar para comandar a PF. A nomeação, no entanto, foi barrada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
A Polícia Federal, outra instituição que sofreu reclamações do presidente, produziu 54 documentos de inteligência enviados ao Sisbin em 2019 e 11 neste ano.
Na última terça-feira, o ex-diretor de Inteligência da PF Cláudio Ferreira Gomes afirmou em depoimento aos investigadores do inquérito sobr3e as supostas interferências de Bolsonaro que o número de documentos de inteligência produzidos pela Polícia Federal no ano de 2019 foi “superior aos anos anteriores”.
O Centro de Inteligência da Marinha foi um dos órgãos que mais produziram esse tipo de informação, tendo enviado 221 relatórios ao Sisbin em 2019 e 62 neste ano. O Centro de Inteligência do Exército enviou 183 relatórios em 2019 e 36 neste ano.
O jornal também teve acesso aos temas dos relatórios de inteligência produzidos pela PF em 2019, segundo a classificação feita pela própria corporação. São eles: crime organizado (16), fluxos migratórios (15), terrorismo e extremismo violento (13), contrainteligência (5), conflitos (3), processo decisório e Estado democrático de Direito (1) e segurança cibernética (1).
Vídeo ministerial
No vídeo da reunião, divulgado na sexta-feira (22) por decisão do ministro do STF, Celso de Mello, Bolsonaro reclama diversas vezes da falta de informações de inteligência, diz que a PF e Abin não o deixavam informado.
Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as … as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. Abin tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento etc. Mas a gente num pode viver sem informação – afirmou.
“Sistema Paralelo”
Em outro momento, Bolsonaro disse que recorria a um sistema “privado” de inteligência que o mantinha informado. Em entrevista à rádio Jovem Pan na noite de sexta, Bolsonaro acrescentou que o “sistema particular” de informações que ele citou durante a reunião ministerial é formado por conhecidos dele.
O que é meu serviço de informações particular? É o sargento do batalhão do Bope do Rio de Janeiro, é o capitão do grupo de artilharia lá de Fortaleza, é o policial civil que tá em Manaus, é meu amigo que tá na reserva e me traz informação da fronteira.
Este é meu serviço de informação particular que funciona melhor do que este que eu tenho oficialmente, que não traz informação. Esta sempre foi a minha crítica. Este problema, temos aqui o aparelhamento de instituições e não é fácil mudar isso – afirmou na entrevista.
Com informações de O Globo.