
Basta pesquisar em alguma rede social para ver dezenas de comentários a visão da sociedade brasileira sobre o socialismo. No Twitter, uma usuária declarademente bolsonarista, comenta: “O socialismo é um método muito eficaz para converter ricos em pobres, converter pobres em miseráveis e governantes em bilionários”.
Em resposta, outro apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma: “E converter mentiras em verdades”.
A compilação é apenas um exemplo da gigantesca deturpação que o socialismo e o comunismo sofreram com os anos, crescendo ainda mais com a demonização praticada pelo chefe do Executivo brasileiro. Com um governo que jogou o país novamente no mapa da fome e ampliou o número de brasileiros na miséria, Bolsonaro é assombrado pelo “fantasma imaginário” do socialismo enquanto o capitalismo — atrelado ao governo incopetente —, castiga a população.
Mas por que o socialismo e o comunismo são demonizados?
As falácias antisocialistas e anticomunistas são comuns, mas foram ainda mais endossados no Brasil com a obra de título racista “Livro Negro do Comunismo“, de 1997. O texto, que chegou a ser denunciado por dois de seus colaboradores pela imprecisão, continham informações falsas e especulativas sobre o quantitativbo de mores e colocava até os nazistas mortos por prisioneiros de campos de concentração e mortes de guerra são contados como “vítimas do comunismo”.
Desde então, jornais de direitas a comentários em redes sociais utilizam da inverdade para desqualificar qualquer debate sobre. “Você é socialista? Cem milhões de mortos”, “você quer um salário mínimo mais alto? Cem milhões de mortos”, “você quer uma saúde melhor? Cem milhões de mortos”. A onda direitista cospe a mentirada a qualquer momento, sem qualquer baseamento ou fonte de informação verdadeira.
A metodologia hipócrita do Livro Negro resultaria em números expressivos de bilhões se fosse aplicada de forma igualitária ao capitalismo. Noam Chomsky, que não é nenhum apoiador do stalinismo ou do maoísmo, fez a mesma análise ao comparar a China com a Índia.
Por causa da baixa desigualdade e melhor distribuição dos recursos médicos na economia planificada chinesa, o número de mortes desnecessárias somente Índia alcançaria 100 milhões em 1979. E quanto à dizimação das populações indígenas nas Américas do Sul e do Norte? O comércio capitalista de escravos na África? O impacto do imperialismo globalmente?
O próprio ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, tem uma responsabilidade-chave na Fome de 1943 em Bengala, na qual milhões morreram. Durante a fome, os britânicos controlavam a Índia, que exportava comida e Churchill foi citado dizendo: “Odeio os indianos. São um povo bestial com uma religião bestial”. Isso tudo sem citar os milhões e milhões que morreram nas guerras por lucros e interesses estratégicos imperialistas. Mais de 1 milhão de mortes somente no Iraque, mais as guerras mundiais e as constantes guerras “menores”.
Em março de 2017, a Unicef estimou que 600 milhões de crianças enfrentarão morte, doenças e desnutrição em 2040 se a tendência atual prosseguir. Nos relatórios anteriores, eles detalharam como milhões de crianças morrem todos os anos por causas evitáveis enquanto oito bilionários possuem o mesmo que o resto da metade mais pobre da humanidade.
Por estas medidas, o capitalismo, o imperialismo e o colonialismo produziriam uma biblioteca inteira de “livros negros”.
E qual é a verdade?
A realidade é: o socialismo e o comunismo não levam à fome. As fomes que a União Soviética enfrentou no início do século 20 foram devidas a uma variedade de fatores, incluindo seca, sabotagem por anticomunistas — que destruíram colheitas e outras campanhas organizadas para causar crises produtivas na URSS —, e isolamento econômico.
A Rússia é uma região que foi atormentada por secas e más colheitas ao longo da história. Além disso, sua revolução herdou condições muito subdesenvolvidas, com pouco avanço técnico na indústria agrícola e uma indústria pesada quase inexistente.
A Revolução Socialista transformou seu país de pequena nação agrária em uma grande superpotência industrial. Ela aumentou a expectativa de vida e diminuiu a mortalidade infantil.
Leia também: 150 anos de Lênin, o líder da grande Revolução Socialista
Agora, após derrotar os exércitos invasores que o Ocidente capitalista lançou contra a Rússia nos anos iniciais, restou a guerra ideológica que até hoje povoa o imaginário social de mentiras, afirmações descontextualizadas e ataques de todo tipo à experiência social da Revolução Russa e da União de Repúblicas Socialistas que se constituiu após seu triunfo.
Cuba, por exemplo, desenvolveu a agricultura a ponto de manter hoje a capacidade de alimentar todo o seu povo. E lembre-se de que esses países tiveram que fazer mudanças experimentais revolucionárias, nunca antes tentadas, enquanto sofriam severas pressões internas e externas de forças reacionárias e imperialistas. E, no entanto, veja seus sucessos.
A maneira que o país caribenho lidou com a pandemia da Covid-19 é um dos exemplos da excelente gestão cubana.
Leia também: Cientistas cubanos são reconhecidos pelo trabalho de combate à covid
Embora seja importante reconhecer suas falhas provenientes das contradições da época e da luta anti-imperialista, devemos elogiar seus sucessos e determinar o quê de suas condições e políticas específicas levaram a esses grandes sucessos humanos, educacionais, industriais, econômicos e científicos.
No plano internacional, enquanto o imperialismo só tinha a oferecer a guerra de agressão e conquista, a URSS foi um farol da luta internacionalista e da solidariedade entre os povos, ao apoiar todos os processos de libertação contra o colonialismo tanto na Índia, quanto na Ásia, na África e na América Latina.
As maiores vitórias contra o racismo, desde o movimento pelos direitos civis no Sul dos EUA até a libertação dos países africanos e a afirmação do Poder Negro, tinham referência direta nas lutas dos comunistas, assim como a luta de Mandela e seus camaradas contra o apartheid sul-africano — apoiado pelo ex-presidente ultrarreacionário Ronald Reagan e a ex-primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher.
E ainda mais: na Rússia socialista, a jornada de trabalho passou a ser de sete horas diárias, com dois dias de descanso por semana e um mês de férias por ano, enquanto pelo mundo afora a jornada de trabalho era de 12 a 14 horas, sem descanso semanal e com apenas uma semana de férias por ano. O direito à educação e à saúde universais foram conquistas que a União Soviética apresentou ao mundo como possibilidade concreta.
Diferente do acreditado, o socialismo e o comunismo conseguiram constituir sociedades prósperas e com ideais progressistas que o mundo capitalista não poderia sequer fornecer no mesmo período. Mas enquanto o Ocidente preferir confiar de olhos fechados nas mentiradas antisocialistas, estaremos fadados a engolir o capitalismo, que tem “sabor” de riqueza e retrogosto de fome, desigualdade e miséria.
Com informações do Vermelho e Esquerda Marxista