
Nesta quinta-feira (16), o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) voltou a criticar a política ambiental sob o comando de Jair Bolsonaro (sem partido). Com o título “A tomada de terras continua”, o diário repercute a preocupação manifestada por 38 executivos de grupos brasileiros e estrangeiros com o desmatamento e o pedido, feito pelo grupo, para que o governo adote uma abordagem mais rigorosa para proteção da Amazônia.
No texto, o FAZ afirma que embora o presidente tenha deixado claro que “não gosta de interferências estrangeiras quando se trata da Amazônia” – “nem quando as críticas vêm de ambientalistas ou ativistas de direitos humanos”- o remetente agora é formado por 38 executivos de grupos brasileiros e estrangeiros – incluindo Bayer e Siemens”.
Carta em prol da Amazônia
De acordo com o diário, na carta, os líderes empresariais enfatizam que a percepção negativa do Brasil no exterior sobre questões sociais e ecológicas representa “um enorme potencial de perda” – não apenas em termos de reputação”, mas também de maneira eficaz para o desenvolvimento de negócios e negócios”, considerados projetos básicos para o país.
Entre outras reivindicações, o grupo pede que o governo interrompa a extração ilegal de madeira na Amazônia incondicionalmente e que desenvolva modelos econômicos sustentáveis que levem em consideração as comunidades locais. “Agora, as decisões corretas precisam ser tomadas. Não há contradição entre produção e conservação”, diz a carta.
O documento foi enviado ao vice-presidente Hamilton Mourão, que chefia o Conselho Nacional da Amazônia, e também foi apresentado ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao Parlamento e ao procurador-geral.
Ainda segundo o jornal, o governo “não ataca a carta, mas oferece cooperação entre negócios e política. Na terça-feira, vários ex-ministros da economia e presidentes de bancos centrais aderiram à chamada por um crescimento econômico e proteção mais sustentáveis para a região amazônica. Alguns dias atrás, um grupo de investidores estrangeiros havia alertado para uma deterioração do clima de investimento devido à imagem negativa do Brasil”.
“Os investidores hesitam ou se afastam, e os importadores ameaçam boicotar produtos brasileiros. E, acima de tudo, existe o perigo de um acordo de livre comércio entre a UE e o bloco econômico sul-americano Mercosul, diz.
Holofotes sobre a Amazônia
O jornal também recorda que o Brasil esteve no centro das atenções globais no ano passado, quando a temporada de cortes e queimadas começou na Amazônia. “Os incêndios, que geralmente são definidos em determinadas áreas para ‘limpar’ o terreno, não são novidade. No entanto, um aumento maciço no número de incêndios em comparação ao ano anterior causou a apreensão – especialmente na Europa, onde um intenso debate climático estava em andamento ao mesmo tempo.
“Após uma hesitação inicial, o governo respondeu e enviou o Exército para a floresta tropical para ajudar no combate a incêndios. As fotos dos incêndios florestais, no entanto, já haviam se espalhado por todo o mundo. O medo de que o presidente Bolsonaro não levasse a proteção da floresta e de seus habitantes a sério parecia confirmado.”
“Quando as equipes com câmeras se retiraram, o governo brasileiro voltou à agenda – assim como os lenhadores, ladrões e garimpeiros da Amazônia que pensavam que o presidente estava ao seu lado.”, continua.
Dados do Inpe
“Agora, o resultado está sendo mostrado: de acordo com pesquisas publicadas na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que acompanha o declínio da área florestal com dados de satélite, mais de 3 mil quilômetros quadrados de floresta foram desmatados na Amazônia no primeiro semestre deste ano. Isso é mais de 25% a mais do que no mesmo período do ano passado. Nem todas as clareiras são ilegais, mas uma grande parte.”
“A apropriação e especulação de terras se transformaram em negócios lucrativos: as áreas de terra são ilegalmente aráveis, a floresta é vendida, os documentos são forjados, a terra é vendida. Onde as maquinações explodem, as punições são pronunciadas, mas raramente implementadas”, diz outro trecho.
Área maior que a Europa
“A região amazônica, maior que a Europa, é considerada o oeste selvagem do Brasil porque dificilmente pode ser controlada. Isso também foi destacado na segunda-feira pelo ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, em uma videoconferência organizada pela OCDE, na qual ele fez campanha por compreensão e ajuda.”
“O Brasil alimenta o mundo e protege o meio ambiente, disse Guedes. Se houver excessos e erros, eles serão corrigidos. Guedes também criticou países estrangeiros. Muitos acreditam que o Brasil foi condenado a proteger seus próprios recursos e agricultura. Vários países europeus estão relutantes em ratificar o acordo – argumentando que o Brasil está fazendo muito pouco para proteger a floresta tropical”, segue.
Publicidade e má reputação
O FAZ também comenta que o ministro das Comunicações do Brasil anunciou uma campanha publicitária para melhorar a imagem do Brasil no exterior. “Os executivos das empresas enfatizam, no entanto, que as campanhas publicitárias não foram suficientes”.
“De fato, a má reputação do Brasil não é apenas o resultado de uma campanha de difamação protecionista, mas é em grande parte caseira. O governo de Brasília tem um problema de credibilidade não apenas, mas principalmente quando se trata de questões ambientais e de proteção dos povos indígenas.”
“Se fosse para Bolsonaro, o Ministério do Meio Ambiente teria sido abolido no início de seu mandato. Ele deixou cortes drásticos e nomeou Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente que realmente representa os interesses da indústria agrícola.”
“Isso ficou particularmente claro em um vídeo de uma reunião de gabinete, em abril, usada como parte de uma investigação contra Bolsonaro. Nele, Salles diz que a distração da mídia com a crise do coronavírus deve ser usada para desmantelar uma lei ambiental após a outra”, destaca.
Demissão de Sales
Adiante, o diário, um dos maiores da Alemanha, também ressalta o descaso do presidente com os pedidos de demissão do atual ministro.
“Os pedidos de demissão contra Salles ainda são ignorados por Bolsonaro. Em vez disso, o presidente fica irritado com os dados do instituto de pesquisa espacial, que ele já questionou várias vezes. (…) Apenas três dias após a publicação dos últimos dados sobre o desmatamento, a chefe da análise de dados de satélite foi exonerada”.
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