
A fila para receber ossos em um açougue reflete a insegurança alimentar que se instalou no Brasil durante o governo Bolsonaro. Moradores de Mato Grosso, o estado com o maior rebanho bovino do país (cerca de 32 milhões de cabeças de gado), recebem ossos de um açougue que doa restos do processo de desossa do boi.
De acordo com o portal Uol, a distribuição dos ossos começa às 11h, às segundas, quartas e sextas, e a fila de pessoas em situação de vulnerabilidade social começa com duas horas de antecedência.
O estabelecimento informou que há mais de dez anos as doações de ossos são realizadas para os moradores sem renda da região, mas a fila aumentou nos últimos tempos. Por dia, são quase 500 quilos e eles garantem que sempre “dão um jeito” para que ninguém volte para casa sem um pouco de proteína. Açougues da região, que vendem o produto, cobram até R$ 10 o quilo.
A doutora em sociologia política Silvana Maria Bitencourt afirma que não é de hoje que a desigualdade social assombra as famílias brasileiras. Para ela, cada região do país tem a sua realidade.
Silvana reforça que correntes de solidariedade são extremamente importantes, mas isso também envolve politicas públicas. “Não podemos tirar a responsabilidade do estado. É preciso olhar para essa população”, pontuou.
Fome no Brasil
Os pagamentos do auxílio emergencial e do Bolsa Família não evitaram o avanço da fome no Brasil durante a pandemia de covid-19. Estudo divulgado pelo movimento Food for Justice, em abril deste ano, aponta que seis em cada 10 domicílios brasileiros passaram por uma situação de insegurança alimentar entre agosto e dezembro de 2020. São 125 milhões de brasileiros que acordavam sem saber se teriam como se alimentar adequadamente.
O estudo foi feito pela Universidade Livre de Berlim em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ouviu duas mil pessoas entre novembro e dezembro do ano passado. A conclusão foi de que a insegurança alimentar, que atingia 36,7% dos brasileiros em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alastrou no país no ano passado.
De acordo com a pesquisa, 59,4% dos brasileiros estavam em insegurança alimentar no fim de 2020, e 15% enfrentavam insegurança alimentar grave. Essa situação era mais comum em domicílios chefiados por pessoas pretas (66,8%) e por mulheres (73,8%); que têm crianças de até quatro anos (70,6%); e uma renda per capita mensal de até R$ 500 (71,4%). A insegurança alimentar também é mais frequente nos domicílios situados em áreas rurais (75,2%) e nas regiões Nordeste (73,1%) e Norte (67,7%).
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A pobreza e o governo Bolsonaro
A loucura caótica de Jair Bolsonaro (sem partido), somada a uma absoluta ausência de qualquer forma de planejamento ou estratégia, junto às legiões de abutres da pilhagem que se encostaram em seu “governo” para impor o pragmatismo aético do “mercado”, cujo emissário é o parasitário ministro Paulo Guedes, resultam hoje, três anos depois, num país devastado, empobrecido e vergonhosamente mendicante.
15 milhões de brasileiros não têm qualquer renda, enquanto outros 33 milhões fazem bicos e biscates. A economia, que era a 6ª maior do mundo há 10 anos, caiu para a 13ª posição. As universidades viram seus bancos esvaziarem, a juventude voltou ao limbo da total falta de horizonte e a pobreza visível está espalhada por todos os 5.568 municípios do país.
Em maio, a Comissão de Presidentes de Conselhos Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional divulgou em nota que o governo Bolsonaro modificou dados sobre a realidade brasileira para mascarar a situação do Brasil perante a comunidade internacional. O governo Bolsonaro, que já havia distorcido dados sobre o meio ambiente em discurso na Cúpula de Líderes, em abril, dessa vez modificou o cenário nacional no que se refere ao sistema alimentar do país.
A Cúpula foi convocada pela ONU para setembro de 2021, na Itália, e será precedida por uma Pré-Cúpula, no período de 19 a 23 de julho, em Roma. O objetivo central do evento é repensar os sistemas alimentares na perspectiva dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Agenda 2030
Governo Bolsonaro desmantela segurança alimentar
Um dos pontos centrais expostos pelo Conselho no documento do Ministério da Cidadania é o fato de a pasta tratar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) como se ele estivesse em pleno funcionamento, o que deixou de ocorrer com a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) Nacional, no começo de 2019, como primeiro ato do governo por meio da Medida Provisória (MP) 870.
O Consea quando em funcionamento era um órgão com atuação voltada para a população mais vulnerável na sociedade do ponto de vista econômico, social e nutricional, e era especialmente focado em agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais. Sendo assim, a parcela da população que vive nas periferias recebia o foco, com o recorte de gênero, etnia e geração. Além disso, o Consea Nacional tinha como uma de suas atribuições, convocar uma conferência nacional, que foi inviabilizada pela sua exclusão.
Pandemia aumentou a fome
A nota da Comissão relembrou que a pandemia afetou diretamente o cenário alimentar no Brasil. “Com o crescimento da insegurança alimentar e nutricional e a volta do Brasil ao Mapa da Fome, o País atravessa um momento crítico. A pandemia agrava as situações de fome que já vinham em ritmo crescente no País”, afirma a nota.
Segundo dados divulgados pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar em Contexto de Covid, coletados entre 5 e 24 de dezembro de 2020, 19,1 milhões de brasileiros estão em situação grave em relação ao acesso à alimentação e 116,8 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar no brasil, mais de 50% da população brasileira atual.
Dados divulgados pelo IBGE em 2019, antes da pandemia, apontavam que 37% das famílias brasileiras se enquadravam de alguma forma na insegurança alimentar.
Documento do governo Bolsonaro ameaça
Considerando que o governo Bolsonaro prioriza a política de agronegócio, que já ganha isenções, e também considerando o desmonte de órgãos de fiscalização ambiental, Bolsonaro incentiva ações de desmatamento e cria um cenário de perda de biodiversidade, poluição ambiental, crise da água, degradação do solo e emissão de gases de efeito estufa, afirma a comissão.
“Há um foco em políticas de fortalecimento na perspectiva do agronegócio e da indústria de ultraprocessados, com a clara intenção de uma economia voltada ao mercado e ao lucro, em detrimento da geração de empregos, renda e do combate ao aumento da pobreza”
Segundo a nota divulgada, é importante que ao invés do agronegócio, a agricultura familiar seja fortalecida para desenvolver o Sistema Alimentar. A comissão ainda salienta que o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo.
Ausência dos Conselhos de segurança alimentar
A Comissão de Presidentes de Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional informou ainda na nota que decidiu, por força de todos os fatores citados, não participar das ações do governo brasileiro para essa Cúpula da ONU, aderindo à preparação e participação do evento da Sociedade Civil Mundial.
Doação em Cuiabá
Além do açougue, comerciantes das bancas da Central de Abastecimento e Distribuição de Cuiabá doam alimentos que não são comercializados nas feiras. As pessoas se cadastram e, uma vez por semana, passam pelas bancas em busca de vegetais, legumes ou frutas.
Atualmente, são 420 pessoas e 40 entidades cadastradas para receber os alimentos.
Segundo o auxiliar administrativo da Central, Pedro Viginoli Neto, todos os dias tem gente pedindo ajuda pra alimentar a família ou ajudar os vizinhos.
De acordo com a presidente da Associação dos Permissionários da Central de Abastecimento a intenção é atender mais famílias.
Com informações da Revista Fórum, Uol e Correio Braziliense