
Foto: Reprodução/Facebook/Dulcina Vive
Entre a rodoviária do Plano Piloto, o terminal de ônibus urbano da capital federal, e o Setor Comercial Sul, a região central de Brasília, há um centro de comércio e entretenimento conhecido como Conic. O complexo ocupa uma área de 100 mil metros quadrados, possui 15 edifícios e recebe em média 90 mil pessoas por dia. Quando foi inaugurado, em 1980, era um ambiente sofisticado, frequentado pela elite, mas acabou perdendo esse título após o surgimento de outros espaços na cidade e da degradação em seu entorno. O lugar carrega no seu endereço o nome de “Setor de Diversões Sul”, mas para muitos isso não condiz mais com a realidade.
Dentre tantos prédios, lojas e restaurantes, ali fica a Fundação Brasileira de Teatro, inaugurada no mesmo ano que o Conic. Em 1982, foi instalada no mesmo espaço a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, cujo nome homenageia a fundadora do espaço, a atriz fluminense Dulcina de Moraes (1908-1996), com os cursos de Licenciatura em Educação Artística, Bacharelado em Artes Cênicas e Bacharelado em Música. Dulcina havia criado a Fundação em 1955, no Rio de Janeiro. Ao se mudar para Brasília, em 1972, transferiu sua sede para a capital.
O palco do Teatro Dulcina recebeu sempre apresentações para todos os gostos e é um dos principais espaços cênicos de Brasília. Mas, com o decorrer dos anos e o descaso do poder público, a área do Conic foi ficando abandonada e desvalorizada. Foi para reverter a degradação, revitalizar e reerguer o teatro que nasceu o movimento Dulcina Vive. O grupo é formado por ativistas culturais brasilienses, em sua maioria alunos e ex-alunos da faculdade Dulcina, mas agora conta também com o envolvimento de produtores de eventos culturais da cidade.
Para se manter, o movimento promove feiras, festas, shows, peças, além de atividades culturais formativas, como rodas de conversa e palestras. O retorno financeiro é direcionado principalmente para faculdade. “Cada dia é uma luta diferente, mas hoje precisamos reafirmar a luta pela manutenção da faculdade Dulcina e também do setor de diversões como setor de festas, bares, restaurantes e diversões”, afirma Kaká Rodrigues, coordenador de eventos do movimento.
Para que o Conic seja enfim um Setor de Diversões é necessário um processo de médio e longo prazo. Os comerciantes locais ainda resistem ao eventos, uma resistência até compreensível devido à Lei do Silêncio que existe na capital federal e limita a efervescência cultural de Brasília. Kaká acredita que até 2025 o centro da cidade tem que afirmar essa vocação. “É muito importante para as gerações futuras”, complementou.
“Falar em revitalização do Conic significa falar em revitalização e ocupação do centro de Brasília”, opina o produtor cultural João Marcondes, um dos criadores da Feira de Vinil que agita bimestralmente o espaço
Além das atividades comerciais, a sustentabilidade também é um ponto importante para o grupo. Na descrição da página Dulcina Vive no Facebook, os integrantes do movimento afirmam que o objetivo é trabalhar sempre com “modelos de relação, de trabalho e de sustentabilidade”. De acordo com Kaká Rodrigues, no momento está sendo feito um trabalho de reciclagem de lixo e garrafas de vidro.
“Penso que Brasília, por ser uma cidade nova, está formando sua identidade cultural. Por isso o centro é super importante, já que é o único local ao lado da rodoviária do Plano Piloto, onde as pessoas de qualquer cidade do DF podem chegar de forma fácil e acessível. Costumo dizer que aqui as pessoas se encontram por afinidade cultural e não por classe social”, diz Kaká.

A Feira de Vinil, no Conic. Foto: divulgação
“Falar em revitalização do Conic significa falar em revitalização e ocupação do centro de Brasília”, opina o produtor cultural João Marcondes, um dos criadores da Feira de Vinil que agita bimestralmente o espaço. “O Conic durante décadas foi um local abandonado, sujo, local de consumo de drogas, pequenos crimes, etc., como é comum nos centros das grandes cidades.”
“O Viva Dulcina tomou para si a missão de tomar esse espaço (afinal está geograficamente ali localizado) e promover, por meio de atividades culturais, um desenvolvimento orgânico via cultura. Daí tem exposições, festas, feiras, tudo junto e misturado. Dentro deste espectro, a Feira de Vinil do Conic, parte de um movimento de resistência analógica ao vácuo digital, é o evento mais duradouro e já se firmou como atração turística da capital e seu ‘downtown’. Tem três anos e segue firme no calendário, abrindo espaço para outras culturas. Nessa edição serão os livros”, explica Marcondes.