Estudo britânico feito com 26 países evidencia o problema da subnotificação diante da pandemia de coronavírus

Em recente estudo realizado pela Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical (London School of Hygiene and Tropical Medicine), foi identificado que o Brasil detecta, em média, somente 11% dos casos sintomáticos do novo coronavírus. A taxa é maior que a da Itália, que identifica cerca de 6%, e menor que a da Coreia do Sul, que identifica em média 83% dos casos.
Na prática, significa que a cada dez casos de contaminação pelo ‘Sars-CoV-2’, somente uma é registrada pelo governo.
Metodologia
O estudo londrino se baseia em um modelo matemático que usa como referência a taxa de letalidade do coronavírus na China, definida em 1,38% por pesquisadores daquele país.
A taxa de 1,38% é um resultado ajustado por pesquisadores chineses, levando em conta que a simples divisão de mortes por casos gera um número enviesado, uma vez que não considera o atraso de confirmação de óbito e os casos de subnotificação.
Os britânicos ajustaram, da mesma forma, as taxas de letalidade do Brasil e de outros 26 países e compararam-nas com a da China. Se a taxa ajustada for maior que 1,38%, isso sugere que apenas uma fração dos casos foi registrado.
No caso do Brasil, eles chegaram ao resultado médio de notificação de 11%.
Tomando como base os dados desta quarta (24), em que o Ministério da Saúde atualizou para 2.433 os casos confirmados no Brasil, pode-se estimar que há 22.118 casos sintomáticos de coronavírus, dos quais 19.685 não foram identificados.
Para Antônio Augusto Moura da Silva, médico epidemiologista e professor da Universidade Federal do Maranhão, a taxa de identificação talvez seja até inferior a 10%.
O médico explica que a demora em chegar à conclusão sobre a causa da morte em casos suspeitos de infecção por coronavírus faz com que o número de casos identificados esteja atrasado em relação à realidade.
“As pessoas estão morrendo nos hospitais e sem diagnósticos. Temos algumas mortes diagnosticadas como suspeitas, mas você não tem a confirmação do óbito”, disse para a Folha de S. Paulo.
Um problema
A demora para confirmar que uma morte foi por coronavírus é um dos fatores que causam a subnotificação. Outro são os casos assintomáticos. Sem sintomas, a pessoa não sabe que tem coronavírus, não irá ao hospital e não será testada. Há ainda os casos em que os sintomas são leves.
Em caso de sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma, o portador do vírus talvez continue circulando pelas ruas, podendo transmitir a doença para outras pessoas. Por isso que o isolamento social é considerado uma das estratégias mais efetivas para combater o coronavírus.
Com informações da Folha de S. Paulo.