
Após o guerreiro Amoim Aruká, último indígena do povo Juma, morrer pela Covid-19, na última quarta-feira (17), lideranças indígenas e indigenistas associaram a pandemia do coronavírus com o extermínio de povos indígenas. “É uma falta de responsabilidade do governo ter deixado essa doença chegar dentro da aldeia”, diz à BBC News Brasil Bitaté Uru-eu-wau-wau, neto de Aruká.
O guerreiro indígena tinha entre entre 86 e 90 anos e era o último homem Juma. Ele deixou três filhas, netos e bisnetos. As três filhas de Aruká casaram-se com homens do povo Uru-eu-wau-wau, uma vez que a população do povo Juma era pequena demais, resultado dos massacres e doenças.
Isso significa que os descendentes de Aruká carregam no sangue as duas etnias, mas, segundo o sistema patrilinear, são Uru-eu-wau-wau, e não Juma. É por isso que Aruká era considerado o último guerreiro de seu povo.
“O governo não cuidou, e agora nós temos que manter o legado do meu avô”, diz Bitaté. “Ele continua com a gente, vive com a gente, representa o nosso povo através dos netos e dos futuros netos que vierem.”
Covid-19 e o extermínio de indígenas
A indigenista da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, lembrou que a luta de Aruká em meio à pandemia é a mesma pela qual muitos índios, de diversas etnias, têm passado. Ela diz que o problema tem contribuído, principalmente, para o desaparecimento desses povos e até mesmo para o extermínio cultural.
“A pandemia é uma nova forma de exterminar os indígenas. Se o povo que vive na cidade já não tem tantos recursos, imagina o povo que vive na floresta. Você imagina a angústia desse homem, internado em um hospital onde ninguém entendia ele. Era um homem muito tradicional. Quando morre um indígena, você não pode fazer o ritual. Isso é muito doloroso na cultura indígena. Psicologicamente, é um efeito muito grave”, afirmou.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), 571 indígenas morreram em decorrência da covid-19. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contabiliza 970 indígenas mortos pela doença. Segundo o censo do IBGE de 2010, a população indígena no Brasil é de 896,9 mil pessoas.
Há outros povos indígenas que estão reduzidos a poucos indivíduos pelo país. Os dados são da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Fundação Nacional do Índio (Funai).
- Avá-canoeiro: localizados entre Tocantins e Goiás, estão reduzidos a cinco pessoas
- Kanoê: com sua terra situada no estado de Rondônia, contam com apenas 3 sobreviventes
- Akuntsu: nação que fica em Rondônia e tem apenas seis remanescentes
- Piripkura: restam dois indivíduos do povo que tem sua Terra Indígena no estado do Mato Grosso
- O “índio do buraco”: de etnia desconhecida, este homem é o último sobrevivente de um povo. Ele vive sozinho há 22 anos dentro da Terra Indígena Tanaru, no oeste de Rondônia
Com informações da BBC News, G1 e Nexo