
Afora o fato de sermos um partido socialista, historicamente situado no campo da esquerda democrática brasileira, o que naturalmente nos colocaria em oposição à candidatura de Bruno Covas apoiada pelo governador João Doria, da ala direita do PSDB, eleito com o apoio de Bolsonaro e agora disputando com ele a liderança da direita no Brasil , existem, a meu ver, razões objetivas da realpolitik do PSB de São Paulo para que decidamos pelo apoio a Guilherme Boulos e Luiza Erundina do PSOL.
Antes de apresentá-las, no entanto, seria bom examinar o conceito de demarcação de campos, da qual nos fala com muita propriedade o companheiro Marcio França.
O campo da direita em São Paulo já está devidamente ocupado por Dória, Russomano, Artur do Val, Joyce Hasselman e Felipe Sabará, que felizmente, para nós, também se dividiu em São Paulo.
O campo da esquerda ocupado agora pelo PSOL e, simbolicamente, pelo PT e PCdoB, e também por nós do PSB, se dividiu em candidaturas próprias, inclusive a partir da infeliz decisão do PT de apresentar candidaturas próprias em todas as capitais do país.
As candidaturas de Marcio França, de Andrea Matarazzo e do próprio Bruno Covas, também se caracterizaram por uma disputa do eleitorado mais ligado a um Centro diluído e volátil na maior cidade do Brasil. Nesse eleitorado de Centro estão as pessoas mais velhas, de escolaridade média e de pessoas menos dependentes do setor público. Exatamente o eleitorado que vai ser mais disputado no segundo turno das eleições paulistanas.
Assim, o primeiro argumento estratégico, é de que seremos o fator mais importante para uma eventual na vitoria de Boulos e Erundina neste segundo turno, na medida em que Marcio França conseguiu, com sua coerente história e excelente performance na campanha, se aproximar do eleitorado de centro e de mais idade em São Paulo. O apoio a Boulos dará , por sua vez, ao PSB de São Paulo a oportunidade de se aproximar das camadas mais jovens da sociedade.
O segundo argumento é o de que a eventual vitória de Covas na capital paulista, junto com o crescimento do DEM e do PSDB no resto do Brasil, tornará o governador João Doria uma candidatura muito forte nas eleições de 2022 . E, certamente, com muita chance de eleger o seu sucessor no estado de São Paulo.
O terceiro argumento estratégico, embora de caráter nacional, também afeta profundamente a politica paulista. Diz respeito ao fato de que o PSOL, apesar das ligações de Boulos com Lula, não é o PT. Eventuais vitórias do PSOL em São Paulo, de Manuela DÀvila, do PCdoB em Porto Alegre e de Edmilson Rodrigues, em Belém, serão muito importantes para um maior equilíbrio das forças de esquerda, reduzindo a sanha hegemonista do PT.
Claro que se Boulos no primeiro turno tivesse sido mais cuidadoso e menos ofensivo em relação a França teria facilitado em muito o segundo turno.
Mas o PSB tem responsabilidade histórica. Entre os interesses Brasil e do partido, ao contrario de outros, fica com o Brasil.
*Domingos Leonelli é ex-deputado federal, atualmente presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo