
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Por Charles Siqueira*
Dizer que ando encantado por futebol parece frase óbvia na boca de um brasileiro em plena Copa América no Brasil e rolando a Copa do Mundo feminina. Porém, não está naqueles torneios a arte que hoje me encanta em campo (e especialmente fora dele). Nem mesmo os nomes que constroem essa história são Marta, Gabriel Jesus, Cebolinha, Formiga. Deixemos dentre aqueles apenas o veterano Daniel Alves, conhecedor do território e das dinâmicas do personagem desta coluna: o Salitrão, um campeonato de futebol da região do Salitre – conjunto de vilas agrícolas de Juazeiro, à beira do rio São Francisco, norte da Bahia.
Mas futebol tem a ver com Economia Criativa?
Considerando os jogos em si, práticas desportivas não se enquadram strito senso; mas sigo a minha colega de coluna e ex-secretária brasileira de Economia Criativa, Cláudia Leitão (em www.revistas.usp.br) no esboço de uma Metodologia para o Fomento da Economia Criativa no Nordeste Brasileiro: “A economia criativa deve ser compreendida em toda sua diversidade de dinamismo; daí a necessidade de criação de novas tipologias, fruto dos cruzamentos entre produtos e serviços, novos modelos de criação e consumo”. Assim, num conceito cujos entendimentos estão mais por construir do que estabilizar, ao menos como exercício de livre-pensar considere a curiosa oportunização econômica que a criatividade encaminha sob a configuração de eventos de futebol amador, como o campeonato Salitrão.
Primeiro raciocine comigo. “Economia Criativa”, “economia da Cultura” e “economia do Entretenimento” são igualmente utilizados para descrever o que especialistas como o britânico John Howkins, no livro The Creative Economy, considera “as atividades que resultam em indivíduos exercitando a sua imaginação e explorando seu valor econômico”. De forma clara (e curiosamente mais ampla): é todo tipo de negócio gerado a partir da criatividade – pilar de um novo e promissor modelo de desenvolvimento mundial -, mas ser parte da economia é gerar algum tipo de valor para quem o produz ou para o consumidor daquele bem. Ao mesmo tempo, “Cultura” corresponde aos diversos modos de vida, valores e significados compartilhados por grupos e períodos históricos. Manifestações e conteúdos culturais espontâneos são transmitidos pela tradição da experiência socialmente compartilhada e de maneira contínua, que caracterizam no grupo uma identidade cultural própria. Nos territórios periféricos do personagem desta coluna, as manifestações esportivas são práticas sociais produtoras e transformadoras de costumes e culturas locais, que só perdem em apelo popular para as festas de devoção religiosa. Fique claro então que o bem cultural em destaque aqui (inclusive economicamente) não está prioritariamente configurado em produto ou serviço: seu valor espelha um preceito fundador da noção social – indispensável à inclusão: o senso de pertencimento local.
“…as manifestações esportivas são práticas sociais produtoras e transformadoras de costumes e culturas locais, que só perdem em apelo popular para as festas de devoção religiosa”
O campeonato de futebol amador do Salitre é organizado pela Liga Desportiva Médio-Baixo Salitre (LDMBS), um grupo que reúne doze times de vilas com nomes curiosos: Alfavaca, Lagoa, Horto, Bebedouro, Campo dos Cavalos (Planalto), Curral Novo, Sabiá II, Bananeira, Umbuzeiro, Boa Vista, São Gonçalo e Rodeadouro. Apesar desta diversidade na nomenclatura a realidade é bem semelhante em todas.
Oficialmente o distrito chama-se Junco e aquele subconjunto nomeado pelo rio Salitre tem população estimada em 10 mil pessoas; a maior das vilas (Lagoa do Salitre) não chega a 1.500 moradores, segundo informações de Ana Clécia Miranda, do posto de Saúde da Família. São grupamentos pequenos, muitas vezes familiares, cuja vida social está intimamente ligada ao que acontece nos campos locais. Na região a vida é de peleja física já que a matriz econômica se resume às demandas da agricultura irrigada, da construção civil e à subsistência pela produção agrícola familiar. Desse moto-contínuo onde as oportunidades profissionais braçais são inversamente proporcionais ao desenvolvimento intelectual, resulta um ciclo perverso de evasão e baixa escolaridade que alimenta um mercado de trabalho imediato e extenuante – que por sua vez desestimula ainda mais a busca por saberes mais qualificados (duradouros mas longos). Uma exceção neste ciclo é Márcio Reges, um dos mais novos líderes do time da Lagoa cuja diretoria – semelhante aos demais – é composta por homens acima da meia-idade como José Jaime (Zenga) e Osvaldo Leite (Valtinho), cabendo à novas lideranças como Márcio, a tarefa de manter o interesse da juventude naquele campeonato em seus 40 anos de existência. Graduando em Jornalismo em Multimeios e interesse na cobertura esportiva, Márcio atua também como juiz de campo, atividade econômica que oportuniza renda para dezenas de “profissionais”, a partir da agenda de eventos, campeonatos e torneios distribuído de janeiro a dezembro pelas roças, vilas e bairros de Juazeiro. Assim, numa média salarial que gira em torno de mil reais por mês, receber cem reais por jogo faz muita diferença no orçamento doméstico de um juiz requisitado.
Mas seja no Salitrão ou no Campeonato Interdistrital (a competição amadora da cidade), uma realidade em desequilíbrio se evidencia: a exclusividade de times masculinos e o preconceito arraigado de que “mulher no futebol é sapatão”, como destaca a jovem Erlaine Nogueira, do Alagadiço, comunidade de origem quilombola (como outras vilas e a ilha do Massangano, uma joia ambiental e cultural da região). Erlaine afirma: “Nossa comunidade chegou a ter um dos times mais destacados, mas o apoio é nenhum e a pressão, enorme – maridos e até amigas desestimulam, acham feio mulher jogando bola”. Triste constatação, já que hoje somente a vila do Rodeadouro mantém com regularidade um time composto por mulheres, com atuação permanente e bom desempenho em campeonatos. “É uma dificuldade permanente conseguir recursos básicos e garantir as meninas treinando para obter um bom rendimento”, afirma João Paulo “Baraca”, treinador do time das Coleguinhas, ao longo dos últimos anos. Valoroso time, com rendimento regular e bem sucedido, as Coleguinhas agora reorganizam-se para que sua gestão também fique a cargo delas mesmas. João Paulo, apesar do quadro desolador, ainda acredita na expansão de gênero no futebol e segue em novo desafio: a formação de um segundo time feminino local, Unidos do Rodeadouro. O que pode parecer expansão apenas reforça o contexto isolado daquela vila numa questão que foge à realidade local e mostra o abismo preconceituoso que cerca a prática desportiva brasileira: basta avaliar a discrepância entre o reconhecimento que é dado às seleções nacionais masculina e feminina (e nem cito a imoral diferença financeira entre contratos de um Neymar e de uma Marta, mesmo sendo aquele de pífio desempenho com a camisa brasileira e esta a maior goleadora das Copas, dentre homens e mulheres). Segundo Jayanne Rodrigues, outra jovem graduanda daquele mesmo curso de Comunicação da Universidade do estado da Bahia (UNEB), a fraca representatividade feminina no futebol da cidade de Juazeiro vem se intensificando: “Basta saber que há dois anos não se realiza uma edição do Interdistrital Feminino, com a justificativa de que faltam recursos. Mas para o campeonato dos homens, sempre há”. Jayanne e outros aluno/as da UNEB desenvolveram uma série de reportagens denominada “O Campo é Delas” sobre a tríade “mulheres/quilombolas/futebol”, que vale muito a pena você dar uma olhada: http://bit.ly/2L3MP07
Pois bem, se a questão feminina é desprezada, imagine a variedade de gêneros… Na contramão do anacrônico moralismo religioso do Brasil atual, o documentário “Meu Nome é Nega Tonha” ilumina uma figura ímpar naquele universo: o goleiro travesti Antônio Carlos Alves dos Santos, exemplar único de jogador homossexual respeitado no meio por seu talento nos campos. Mais uma produção ligada ao saber universitário – um dos poucos campos de prática igualitária que ainda restam ao país e que está sob ameaças – aquele documentário sobre um transgênero sem vergonha de ser o que é, foi coproduzido pelo salitreiro Márcio Reges e pode ser acessado aqui: http://bit.ly/2Zxg5jR
Não é preciso conhecer campos de futebol ou áreas rurais para saber do machismo que cerca a ambos, assim, é impossível não tratar desta questão entre os resultados simbólicos das tradições que as comunidades repetem e a oportunidade de ressignificar costumes e combater preconceitos. Nação, estados e municípios têm a obrigação de apoiar iniciativas de combate ao racismo e promoção da igualdade entre gêneros. Quem sabe olhando melhor para aqueles lugares, seus contextos de cor e gênero e o enorme potencial que a economia criativa tem de valorizar a criatividade comunitária, essa curva descendente não possa ser revertida?
Mas voltemos especificamente ao desempenho econômico de nosso protagonista, o Salitrão.

Foto: Agência CH
A cadeia de eventos e oportunidades no entorno daquele campeonato mostra um belo arranjo produtivo onde a criatividade se manifesta plenamente na construção cultural, mas especialmente movimenta a economia local. O dinheiro circula logo na inovadora vitrine de talentos e destreza física que permite que jogadores sejam destacados ao longo da sequência de torneios e “babas” (peladas) que ocorrem o ano inteiro. Ser considerado um bom jogador coloca alguém na condição de objeto de desejo dos times do Salitrão. “Assinar contrato” possibilita receber a cada jogo e conquistar – com o prazer de uma brincadeira, num jogo de 2h – mais do que um dia inteiro de lida no campo.
Mazinho do Sabiá, Zé de Cida (Curral Novo/Bebedouro), Junior Silva “Rato” (Horto), Marquinhos do Alagadiço, Jamisson do Massangano e Maciel da Lagoa são nomes que brilham naquela região e tornam mais conhecidas as vilas de nascença ou de adoção momentânea. Talvez sonhem com oportunidades como a que se abriu um dia ao hoje capitão da seleção brasileira, nascido e criado na vila Umbuzeiro. Como todos aqueles, Daniel Alves iniciou sua trajetória ainda adolescente, jogando nos times dali. A realidade era a mesma que embala a centena de jogadores que hoje disputam o Salitrão e, em suas próprias palavras: “Era uma vida dura, difícil, mas feliz. Ajudei o meu pai na roça, desde os dez anos e apesar de trabalhar no campo com o sol de 40 graus na cabeça, a gente era feliz. Nos finais de semana, meu pai era um ´dono de time´ e como eu era o filho do treinador sempre jogava. Quando havia um torneio para disputar, ia de atacante e pouco a pouco fui indo para trás. Acabei como lateral-direito, uma posição que hoje eu adoro”. A esta trajetória, pouco conhecida do grande público, seguiu-se a contratação pelo Juazeiro Social Clube e logo a seguir pelo Bahia, de onde deslanchou para o sucesso internacional.
Se o futebol como oportunidade de ganhos expressivos não se concretiza para a absoluta maioria daqueles jogadores, ao menos oferta acréscimo relevante às finanças de mais famílias locais, como um dia favoreceu a de Seu Domingos, pai de Daniel Alves. Mais uma fonte de renda fazendo girar o caixa local ao longo do ano, onde cada momento representa uma oportunidade de circulação monetária que abrange agentes tão diversos quanto barbeiros como William “Djudja” Santos (Lagoa), Barral (Sabiá II) e Edinho (Horto/Curral Novo), cujos rendimentos ampliam-se à medida que inventivos penteados de jogadores transnacionais se transportam para as exóticas cabeças dos jogadores locais e se espalham pelo desejo mais criativo ainda dos espectadores dos jogos do Salitrão. E o que dizer das fábricas de confecção das cidades de Juazeiro (e Petrolina, cidade pernambucana logo ao lado), beneficiadas pela produção de centenas de uniformes personalizados, garantindo empregos? Que incrível oportunidade não seria explorar possibilidades daquela cadeia produtiva incentivando a produção na própria região do Salitre, com preços competitivos? Nicho de mercado ainda pouco percebido pelo setor privado da cidade, como atesta o pouco patrocínio conseguido por cada time na paixão de ver sua vila representada no campeonato. Exceções podem surgir, como a Fênnix Confecções, que atendeu ao apelo deste colunista encantado pelo Salitrão e resolveu apoiar a Seleção do Junco (conjunto de melhores jogadores da região no campeonato da cidade – o Interdistrital). Para Carlos Neiva, proprietário da Fênnix e ex-secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, cuja gestão foi responsável por uma das maiores expansões de emprego formal e economia criativa, entre os anos de 2008 e 2016: “A crise é justificativa recorrente para a falta de apoio que os empresários alegam. Mas entendemos que dificuldade se enfrenta com atitude e inovação e investir nas pessoas e nas suas paixões criadoras é acelerar saídas para a retomada do crescimento”.
“…Se o futebol como oportunidade de ganhos expressivos não se concretiza para a absoluta maioria daqueles jogadores, ao menos oferta acréscimo relevante às finanças de mais famílias locais”
É caro ser “dono de time”: contratar jogadores e juízes, material esportivo, transporte, alimentação, hidratação e primeiros socorros, “ternos” (uniformes), ratear a premiação dos vencedores, entre outras despesas, costuma ser bastante dispendioso. Gilmar Ribeiro Leite (Mazinho do Planalto) calcula em torno de 6 a 8 mil reais a média de cada um daqueles times inscritos no Salitrão 2019. Mais uma vez se constata a miopia pública no apoio ofertado àquele campeonato, uma vez que são as próprias comunidades que se lançam ao desafio de arrecadar fundos através de rifas, sorteios, feijoadas, doação de comerciantes, ajuda dos fazendeiros locais e complementação pela diretoria do time. Outra bola fora de poderes públicos nacionais que não entendem nem aproveitam as tradições populares de maneira transversal – como aquelas atividades que cruzam lazer, cultura, economia, saúde, organização comunitária, tradição e inovação – para agir com eficácia em benefício de sua própria população. Que pena que no Brasil a sabedoria popular seja tão pouco utilizada como instrumento de transformação social e gestão de recursos públicos, como vemos acontecer em nações civilizadas menos centralizadoras.
Cada evento do Salitrão é uma potência em si. Para João Paulo, cantor da banda JP Swing Massa: “A agenda local de shows está relacionada aos eventos cuja atração se dá pelo futebol”. Para Carlos Rocha (Totoinho), outro conhecido cantor local e manobreiro de água na empresa municipal de água e esgoto: “Não dá para viver como artista, mas o reconhecimento do talento complementa muito a minha renda”. Henrique Fraga (Henrique Divulgações) faz das redes sociais uma ação monetizada, disseminando a agenda de shows que vão da cidade de Juazeiro ao Baixo Salitre, pelo WhatsApp. Antenados com a Internet, designers criam panfletos eletrônicos para bandas e músicos como Stillus.com, Dan Jamaica e Novo Destak – garantias certas de público cuja média de shows superiores a 10 por mês fortalece o mercado para todos. Assim, o rodízio de jogos pelas vilas vai movimentando a arte e as pessoas e diversificando os pontos de arrecadação e circulação do dinheiro por canais e ambientes variados, mas especialmente através de bares informais, vendedores de lanches, salgados e espetinhos; além de casas de festas legalizadas. Eliene é uma dessas comerciantes, dona de uma palhoça localizada na borda do campo da vila do Sabiá II: “Aqui é a fonte de renda minha e da família e nos finais de semana de jogo fica concentrado meu faturamento”. Dono de um dos bares mais festejados da região, José Erivelton Moreira é muito popular, mas ali seu nome é outro: “Há 16 anos, o Bar do Ronaldo abre todo sábado e domingo para os moradores se divertirem; contratando artistas, garçons e segurança. Vendo uma média de 60 grades de cervejas quando o show é bom; mas nunca menos que 30 grades por evento. Como o meu, há vários estabelecimentos espalhados pelas vilas que vivem das competições de futebol. Tudo com o devido imposto das distribuidoras de bebidas para a Prefeitura”. Marcos Antonio Silva, o “Marcão” é categórico: “Tudo gira em torno de futebol!”. Fala com autoridade, sendo um personagem singular e composto: “dono de time”, diretor da Liga de futebol, motorista do ônibus escolar, pai de Marcos Junior (jovem de 19 anos, tecladista da Banda Stillus.com, que deseja seguir carreira como músico); é ainda proprietário do Curral Novão Clube, um dos clubes de sucesso na região – que rivalizam apenas com o movimento permanente do Bar do Edilson, na orla do Rodeadouro, lado continental da Ilha de mesmo nome e principal destino turístico de toda a região, dividida entre Bahia e Pernambuco. Já Expedito Gomes, lagoense por adoção, cujo carisma e acolhida faz o sucesso do Bar do Dito, na Lagoa, completa: “Não estou no entorno dos campos, mas os outros bares muitas vezes fecham antes e as turmas passam sempre por aqui”.
Porém, há uma sombra na celebração eufórico-festiva embalada por bebida alcoólica: o consumo desenfreado tem gerado brigas e no momento é objeto de estratégia repressiva da polícia, que força o encerramento das festas cada vez mais cedo (embora nem de longe aquela violência se compare ao cotidiano de qualquer cidade de médio porte). Alcoolismo é uma realidade presente no meio rural brasileiro e não está diretamente ligado aos eventos decorrentes do Salitrão, mas quantas oportunidades ligadas à educação e prevenção não poderiam ter naqueles campos de terra batida um dos palcos mais eficientes para a melhoria na qualidade de vida daquela população? Basta citar a espontânea ação que parou uma rodada do campeonato para realização de torneio em prol do menino Paulo Henrique, filho do jogador Noquinha, e vítima de leucemia. É a força solidária de povoados que sabem que tem que cuidar de si e, infelizmente, contam na maior parte das vezes apenas com eles mesmos. Pesquisa realizada pelo IBOPE/Revista lance, em 2017, levantou que mesmo sendo uma paixão nacional, apenas 10% dos brasileiros tem o hábito de ir aos estádios de futebol. Um número menor do que os 27% de nordestinos que assistem às partidas de jogos amadores, em suas localidades. Em São Paulo, utilizando o esporte amador como palanque para a divulgação da campanha do ‘Novembro Azul’, que conscientiza homens sobre a importância de prevenir o câncer de próstata, instituições promovem palestras associadas às partidas de futebol sobre aquele tema. Aproveitam justamente aquele ambiente machista de piadas preconceituosas para a conscientização sobre uma doença cada vez mais frequente e agravada pelo tabu e desinformação. Imagine o poder de disseminação de conhecimentos que os eventos ligados ao futebol poderiam proporcionar nos rincões do Nordeste brasileiro, onde a comunicação se dá no boca-a-boca e grande parte dos problemas de saúde prolifera na ignorância?
Razões para incentivar o esporte podem ser de diferentes naturezas e mesmo que o argumento econômico seja o motor da sociedade capitalista é consensual que o esporte contribui para a saúde, o bem-estar e a identidade, atuando sobre os indivíduos e caracterizando as culturas das comunidades e da nação. Auxiliam na construção do caráter, na escolha de estilos de vida sadios, no desenvolvimento físico e moral, no aperfeiçoamento da autoestima e no aumento da alegria de viver. Aos indivíduos permite a expressão pessoal, combinando aspectos físicos, mentais e emocionais; às comunidades contribui com a coesão social gerada pela integração de seus espectadores. Geram recursos financeiros. Não há dados que apontem a grandeza econômica da prática amadora de futebol, mas apenas no estado de São Paulo, em 2018, campeonatos amadores como o Salitrão movimentaram um milhão e quinhentos mil reais (Portal R7, em 27/08/2018). Quantas destas criativas dinâmicas esportivas amadoras não se espalham por TODOS os cantos de um país continental, que ama futebol? Basta perceber que o futebol e sua paixão no lado baiano do Vale do São Francisco, se expande para todas as regiões e é vigoroso também nas periferias da cidade de Juazeiro. Genilson Ferreira é integrante do time Fumaça, no bairro do Argemiro onde vive há anos, vindo da vila do São Gonçalo, no Salitre. Ele intui com sabedoria que há oportunidades de unir paixão a geração de renda: “Está em muitos lugares, além das vilas: competições nos bairros, clubes, grandes condomínios, etc. Mas falta apoio, fica difícil!”.
“Razões para incentivar o esporte podem ser de diferentes naturezas e mesmo que o argumento econômico seja o motor da sociedade capitalista é consensual que o esporte contribui para a saúde, o bem-estar e a identidade, atuando sobre os indivíduos e caracterizando as culturas das comunidades e da nação”
Que oportunidades de inclusão poderão surgir daqueles contextos se tivermos gestão pública e iniciativa privada com habilidade e interesse para percebê-las e estimulá-las para o benefício social, cultural e econômico de comunidades periféricas como aquelas?
Parabéns aos heróis da resistência e da busca por qualidade de vida, saúde e autoestima de lugares com nomes tão bonitos, que valem a pena citar de novo: Campo dos Cavalos (Planalto), Boa Vista, Lagoa, Horto, Sabiá II, Curral Novo, Bebedouro, Alfavaca, Bananeira, Umbuzeiro, São Gonçalo e Rodeadouro.
São eles e elas a razão do meu encanto futebolístico. Desejo-lhes uma vida tão longa quanto a que embala a existência de um de seus mais queridos fundadores, José Bernardino da Silva – o popular “Seu Zezé do Horto” – em seus 72 anos de vida e quatro décadas de Salitrão.
E pra você: Futebol tem a ver ou não com Economia Criativa?