Ações de Bolsonaro na pandemia são ‘uma loucura’, diz ex-presidente colombiano e Nobel da Paz

Em entrevista exclusiva para a BBC News Brasil, o ex-presidente da Colômbia e receptor do Prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, disse que é “uma loucura” como o Brasil, governado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), está conduzindo a pandemia do novo coronavírus.

Visto como de centro-direita no espectro ideológico, Santos afirmou que os presidentes da região deveriam chamar Bolsonaro “à sensatez”, pois o quadro brasileiro repercute no resto da região. “Nessa situação, o Brasil é um péssimo exemplo na região. Uma política que está produzindo um fracasso total, uma verdadeira tragédia para os brasileiros e para o mundo”, disse, falando da Colômbia.

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Mesmo com histórico na carreira militar e sendo ex-ministro da Defesa, ele avalia que forte presença de militares no governo brasileiro não tende a dar bons resultados. Além disso, Santos reforçou a atitude do líder brasileiro ameaça as comunidades indígenas da Amazônia de extinção.

BBC News Brasil – O governo brasileiro conta com forte participação de militares. Bolsonaro tem um discurso de que a ditadura militar não foi negativa para o país. Qual a sua opinião?

Santos – Como democrata, não gosto nunca que militares respondam pelos governos. Os militares – e eu fui militar – devem cumprir com seu mandato constitucional. E não virar um co-governo. O governo deve estar nas mãos dos civis. A essência da democracia exige que os militares cumpram seu dever e não interfiram na administração dos assuntos públicos porque essa fórmula, geralmente, gera consequências negativas.

BBC News Brasil – Na Colômbia, a cidade de Leticia, que faz fronteira com o Brasil, era até poucos dias atrás a mais afetada por coronavírus no país. O Brasil faz fronteira com dez países da região. O Brasil virou uma ameaça nesta pandemia por não ter uma política contra a Covid-19?

Santos – Sem dúvida. Nós estamos muito preocupados porque essa região amazônica (onde está Leticia) não está apenas sofrendo pela pandemia, mas as comunidades indígenas, que devemos preservar, porque são os melhores guardiões de um ecossistema que é fundamental para o mundo, podem desaparecer. Estão totalmente desprotegidas.

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