Essas famílias tem renda superior a R$ 1.780 mensais por pessoa, violando um dos critérios legais para receber o auxílio, que é ter renda de até R$ 522,50 por pessoa.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva revelou que 3,89 milhões de famílias integrantes da parcela mais rica da população brasileira pediram o auxílio emergencial de R$ 600 e receberam o benefício do governo federal, mesmo sem ter direito. Essas famílias possuem renda superior ao exigido para receber o auxílio, ou seja, renda superior a R$ 522,50 por pessoa ou renda familiar mensal maior que R$ 3.135.
A pesquisa foi obtida pelo Valor aponta também que um terço das 17,1 milhões de famílias com renda acima de R$ 1.780 por pessoa no país pediram o auxílio, mesmo sem ter direito pelo critério de renda, e 69% delas conseguiram o benefício.
O Instituto Locomotiva entrevistou 2.006 pessoas com 16 anos ou mais em 72 cidades entre os dias 20 e 25 de maio. E classificou essas famílias, que correspondem a 25% da população brasileira, como pertencentes às classes A ou B. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O perfil dessas famílias
Segundo Renato Meirelles, fundador e presidente do Instituto Locomotiva, esses indivíduos não consideram que burlaram as regras do auxílio, mesmo tendo omitido a renda familiar no cadastro no site da Caixa Econômica.
A maioria dos casos são jovens dependentes dos pais no Imposto de Renda, mulheres que declaram não ter renda no cadastro porque apenas o marido trabalha na família, pessoas que declaram apenas o próprio salário, sem informar as rendas dos outros familiares que moram na mesma casa.
“O argumento, em geral, é algo do tipo: ‘Sempre paguei impostos e nunca tive nada em troca do governo’. Ou ainda que ‘a crise está difícil para todo mundo’. São pessoas que realmente acham que têm o direito ao benefício por esses fatores. Não existe um sentimento de que estão cometendo fraude”, explicou Meirelles ao Valor.
Enquanto isso, nas favelas…
Pesquisa do Data Favela, uma parceria do Instituto Locomotiva com a Cufa (Central Única das Favelas), mostra que 65% dos moradores de favelas pediram o auxílio emergencial e desses 39% ainda não conseguiram receber. Dos que conseguiram receber, mais da metade afirma ter ajudado amigos e parentes com uma parcela do que recebeu de auxílio emergencial.