
“Dois MÉDICOS se recusaram a liberar a cloroquina, que tem efeitos colaterais e nenhum estudo comprovando sua eficácia contra a covid-19. Bolsonaro então escala um leigo pra fazer o trabalho sujo. Vidas estão em risco!”
Foi com este alerta e pedindo que o brasileiro ignore as falas de Bolsonaro que o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), se posicionou a respeito da polêmica em torno do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. Nesta quarta-feira (20), o ministério da Saúde anunciou a mudança de protocolo para ampliar a possibilidade do medicamento no Brasil após uma determinação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A publicação do documento, que amplia a possibilidade do uso da substância em infectados pela covid, ocorre no mesmo dia em que a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia divulgam um texto no qual afirmam que o nível de evidência em relação à droga é fraco e existe risco cardíacos adversos.
Na última terça, dia em que o Brasil chegou à marca dos 17.971 mortos pela doença, médicos da rede pública afirmaram estar sendo pressionados para prescreverem a cloroquina a pacientes infectados. Na rede privada, a indicação pelo uso da droga também cresceu, fazendo com que planos de saúde incluíssem a substância em seus protocolos.
Repercussão
Representante do PCdoB, o ex-ministro do Esporte e deputado Orlando Silva (SP) afirmou que Jair Bolsonaro será responsabilizado pelas mortes resultantes do novo tratamento. “Bolsonaro será diretamente responsável por cada morte de eventualmente ocorrer por efeitos colaterais dessa droga. Deverá ser julgado e condenado por crimes contra a Humanidade”, disse, indignado.
Documento
Destacando parte do documento emitido pelo ministério, o deputado Bohn Gass (PT-RS) questionou a intenção do presidente em incluir a recomendação no protocolo nacional. “’Ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o beneficio inequívoco dessas medicações para o tratamento da covid-19’. Essa é a Nota 1 do Protocolo lançado hoje por Bolsonaro sobre a cloroquina. Por que, então, fazer o protocolo?”, indagou.
Requerimento
Ivan Valente, deputado do PSOL-SP, usou as redes sociais para anunciar que seu partido exigirá os pareceres que embasaram a decisão. “Protocolo que libera Cloroquina destoa de todos feitos até hoje pelo ministério da Saúde, não tem assinatura de um médico sequer. Entramos com requerimento para obter a íntegra do processo e pareceres recebidos pelo Ministério sobre uso da Cloroquina para tratamento da Covid-19”, anunciou.
No Senado, Fabiano Contarato (Rede-ES) pediu a reação da comunidade médica ao que chamou de charlatanismo do Governo. “ A cloroquina é propagandeada como uma poção mágica por charlatões: a saúde pública nunca foi exposta a tamanho risco com fins meramente eleitoreiros. A comunidade médica precisa reagir a esse crime de lesa-humanidade de Bolsonaro!”.
SBI
Em entrevista à GloboNews na manhã desta quarta, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns da Cunha afirmou que a comunidade médica não entrará em embates ideológicos, mas que os resultados das pesquisas até este dia 20 de maio são considerados “decepcionantes”. “Os estudos feitos até hoje mostram que não há eficácia comprovada e apontam potencial para efeitos colaterais”, disse, esclarecendo que a entidade não foi procurada pelo ministério.