
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (24) que não sabe dizer quando a taxa básica de juros vai cair.
Atualmente em 13,75% ao ano, a Selic está no maior patamar em mais de seis anos. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pressiona, publicamente, por uma queda nessa taxa para acelerar o crescimento da economia, enquanto o Banco Central aponta risco de inflação.
“Eu não tenho capacidade [de dizer quando o juro vai cair], até porque eu sou um voto dos nove, de dizer quando isso vai acontecer. Mas eu acho que a gente tem explicado que é um processo técnico, que tem o seu tempo e que as coisas têm caminhado no caminho certo”, declarou.
Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, Campos Neto lembrou que as decisões sobre a taxa de juros são tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) – colegiado formado por ele e pelos diretores do Banco Central.
De acordo com pesquisa realizada pelo Banco Central na semana passada com mais de 100 instituições financeiras, a expectativa dos economistas é de que a taxa Selic comece a cair somente em meados de setembro deste ano – quando a taxa passaria para 13,50% ao ano.
Críticas de Lula
O presidente do Banco Central também comentou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tem sido alvo de críticas pelo atual patamar da taxa de juros e seu reflexo no crescimento do país e no emprego.
“Acho que o presidente [Lula] tem direito de falar sobre os juros, em nenhum momento reclamei sobre isso. Minha função é explicar de forma técnica como o BC vê isso. O Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país passa, o BC é ator, esta no mesmo barco que o governo sempre. E tem de buscar harmonia com o governo e buscar achar solução para os problemas do país”, declarou Campos Neto.
Com autonomia fixada por lei, o Banco Central será comandado até 2024 por Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Decisões sobre juros
Questionado por senadores, Campos Neto afirmou que o BC presta atenção, nas decisões sobre a taxa de juros, para as contas públicas (aumentos de gastos tendem a pressionar a inflação, por exemplo), além da inflação atual e das expectativas para os preços nos próximos anos.
O presidente do BC afirmou, novamente, que o chamado “arcabouço fiscal”, ou seja, a proposta do governo de uma nova regra para as contas públicas, no lugar do teto de gastos (que limitava a maior parte dos gastos à inflação do ano anterior), foi um “movimento na direção certa”.
“A gente entende que o arcabouço remove o risco de ter uma trajetória de alta grande na dívida. Mas que não tem relação mecânica [com o processo de corte de juros pelo Banco Central]”, afirmou ele.