
Em meio à crise política de seu governo, o presidente peruano, Pedro Castillo, descreveu na quarta-feira (10) como “ilegal” a operação de busca no Palácio do Governo conduzida por uma equipe do Ministério Público na última terça-feira (09). A ação foi realizada por policiais que estavam atrás de Yenifer Paredes, cunhada do mandatário, acusada de participar de uma rede de corrupção e de lavagem de dinheiro.
Castillo afirmou se tratar de uma conspiração contra sua administração após tomar conhecimento sobre o mandado de prisão contra Paredes. Também disse que um setor do Congresso, o Ministério Público e parte da imprensa estão “desestabilizando a ordem democrática”.
Após quase quatro horas de buscas, os agentes da operação deixaram a residência presidencial sem encontrar Paredes. Nesta quarta, a Justiça Peruana ordenou sua prisão preventiva e de empresários ligados à mesma rede de corrupção.
Também na terça-feira, a Subcomissão de Acusação Constitucional do Congresso do Peru entregou um relatório sugerindo cinco anos de inabilitação política para Castillo por “suposto crime de traição à pátria”, fazendo referência a declarações dadas pelo presidente sobre o acesso marítimo à Bolívia através do território peruano ao canal CNN em Espanhol em janeiro deste ano.
“Hoje o Palácio do Governo foi violado com uma busca ilegal, coincidentemente, quando é pedida a minha inabilitação [política] por 5 anos, para tirar do povo o seu governo legítimo”, afirmou o presidente.
“Aqueles que hoje buscam romper a ordem constitucional e democrática são os mesmos que denunciaram uma fraude eleitoral inexistente para ignorar minha eleição”, acrescentou o chefe de Estado peruano.
Durante as eleições no país, a então candidata e filha do ditador Alberto Fujimori, Keiko Fujimori, que tinha vantagem em relação a Castillo na contagem dos votos, passou a questionar o primeiro lugar conquistado pelo representante do Peru Livre, alegando, sem provas, fraudes eleitorais.
Após os questionamentos de Fujimori e um mês depois das eleições, o Júri Nacional do Peru empossou Castillo como presidente eleito.
“Caso não deve ser particularizado”
Segundo a agência peruana Andina, o ministro da Justiça e Direitos Humanos do Peru, Félix Chero, afirmou que a procuração relacionada à cunhada de Castillo “se trata de uma medida não só contra ela e que o caso não deve ser particularizado”.
Chero também apontou para uma “constante tentativa” de abertura de inquéritos contra Castillo. De acordo com o portal peruano, o ministro considerou que “não há classificações legais corretas dos tipos penais a que se destinam os inquéritos”.
Até o momento, a promotoria de Lima abriu cinco investigações contra o presidente por suposta corrupção.
Castillo vem resistindo às tentativas de golpe
Dede março desse ano, Castillo resiste às investidas da direita para derrubar seu governo. Em meio à crise que se instalou no Peru, pessoas ligadas ao mandatário são alvo de uma operação do Ministério Público do país e da polícia anticorrupção.
Três pessoas foram presas e outras são procuradas, entre elas, dois sobrinhos de Castillo.
A operação foi deflagrada horas da sessão parlamentar que debateu a moção para retirar o atual mandatário do cargo.
Na ocasião, os empresários Zamir Villaverde, que teve contratos com Castillo, e Víctor Valdivia foram presos, além do ex-secretário George Passapera, supostamente ligado à construtora Termirex.
A construtora teria sido contratada irregularmente para construir uma ponte na região norte da selva peruana e que deu origem à operação deste terça. O contrato foi anulado.
As buscas seguem em vários endereços e têm como alvo ex-Secretário Geral da Presidência, Bruno Pacheco, bem como de outras sete pessoas sob investigação pelo contrato, entre elas Fray Vásquez Castillo e Gian Marco Castillo, sobrinhos do presidente.
Pacheco e os sobrinhos de Castillo estão impedidos de deixar o país. Eles foram incluídos no processo por usarem carros e apartamentos cedidos pelos empresários que se beneficiaram do contrato sob investigação.
Proposta de Castillo enfrenta resistência no Congresso
O primeiro-ministro do Peru, Aníbal Torres defendeu a realização de um referendo constitucional junto às eleições regionais, de outubro. Uma nova constituição para substituir a atual, da época da ditadura de Alberto Fujimori, foi um dos principais lemas da campanha do atual presidente, Pedro Castillo.
O posicionamento de Torres dá força à proposta, que enfrenta resistência no Congresso.
Ainda em abril, Castillo apresentou um projeto de lei com reformas constitucionais, que iriam permitir a realização de um referendo sobre a convocação para uma Assembleia Constituinte no país – algo que não está previsto na norma vigente.
A atual carta magna peruana foi aprovada durante o regime de Alberto Fujimori, em 1993, e não possui qualquer mecanismo que preveja sua reforma através de consulta popular.
Com informações do Opera Mundi e Telesur