
Prestes a completar 100 dias de governo, o fenômeno Gabriel Boric, presidente mais novo do Chile, chegou ao poder rodeado de esperanças. Foi escolhido uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, em 2022, pela revista Time, e já experimentou quedas na aprovação, como era de esperar em todo novo governo.
Jovem, tatuado, sem gravatas. A popularidade ele tem conseguido melhorar. Após apresentação do primeiro balanço de sua gestão, pesquisa realizada pela empresa Cadem na primeira semana de junho, Boric teria 44% de aprovação popular e 47% de rechaço. Número considerado bom para quem fechou maio com 56,8% de reprovação, de acordo com pesquisa Pulso Cidadão.
Porém, Boric conseguiu também o maior salto de aprovação no início de seu governo desde a gestão de Michelle Bachellet, em 2014.
Medidas importantes foram tomadas por Boric. Aumentou o salário mínimo no Chile para U$ 60; anunciou o ‘Plano Menos Armas, Mais Segurança’, que inclui a reforma da polícia, além da proibição do porte de armas; e estendeu a militarização na região de Araucanía, no sul do Chile, para conter uma onda de violência.
Promessa de campanha, Boric se comprometeu a resolver os conflitos envolvendo os indígenas mapuche no sul, que reivindicam o direito ancestral às terras hoje ocupadas por empresas florestais e agrícolas.
Ele também já começou outra de suas promessas e, esta semana, anunciou que “continuará a procurar incansavelmente os desaparecidos por meio de um plano nacional de busca” dos desaparecidos políticos de seu país.
Em setembro, faz 50 anos do golpe militar contra Salvador Allende e os 17 anos sombrios sob a ditadura de Augusto Pinochet. São 1.162 desaparecidos políticos desse período.
Durante a Cúpula das Américas, cobrou do presidente dos EUA, Joe Biden, a ausência de Cuba, Nicarágua e Venezuela; cobrou Jair Bolsonaro (PL) sobre questões diplomáticas e atraiu empresários com seus posicionamentos firmes e a defesa da responsabilidade fiscal.
Leia também: Roqueiro e tatuado: o fenômeno Boric começa a governar
Deputada vê grandes avanços no Chile com Boric
A coalizão Apruebo Dignidad, criada durante o processo constituinte do Chile, reuniu vários partidos de esquerda, incluindo o Partido Comunista do Chile, para disputar as eleições gerais.
Para a deputada Karol Cariola, eleita pelo Partido Comunista Chileno, em 2021, com a maior votação para a Câmara do Chile, a eleição de Boric sem dúvida foi um grande avanço para o país. O que, evidentemente, que dificuldades e problemas deixarão de existir.
“Problemas de segurança, criminalidade, o crime organizado. Existe um conflito em curso há muitos anos no Chile, que é o conflito de La Araucanía, em nosso país, que tem a ver com o papel do povo mapuche, que não foi incorporado da maneira adequada no desenvolvimento de nossa democracia”, avalia em entrevista ao Caminhos do Mundo, do Brasil de Fato.
Leia também: Boric é o reflexo da nova frente socialista na América Latina
Ela avalia, no entanto, que “há setores políticos, sobretudo dentro da direita, que usaram esse momento de transformação para gerar uma sensação de desestabilização e para incentivar ações sediciosas que geraram uma situação complexa com ameaças de greve dos caminhoneiros, que são responsáveis pelo abastecimento do país”.
As cobranças ela vê com normalidade, especialmente, para um governo eleito com expectativas tão altas.
“Nós assumimos um compromisso de governo para quatro anos. Esse é o programa, que contempla três grandes reformas: a reforma tributária, a reforma da saúde e a reforma previdenciária, que buscam acabar com o sistema privado de AFP para poder estabelecer um sistema de seguridade social real”, ressalta.
Nova Constituição
Somado a isso, o aguardado plebiscito que vai decidir sobre a nova Constituição do país, em setembro.
“A distribuição de recursos no nosso país é absolutamente desigual. É uma realidade que enfrentamos todos os dias e é produto da Constituição feita durante a ditadura que herdamos desse período tão duro e difícil da nossa história. Nós não queremos ter essa Constituição. Queremos o fim dela. Queremos que o Chile tenha uma Constituição feita na democracia, uma Constituição redigida por pessoas eleitas pelo poder popular e uma convenção constitucional que foi paritária, metade homens e metade mulheres e com representatividade indígena, algo que nunca tinha acontecido”, pontua.
O que Boric já vem fazendo em sua gestão quando decidiu montar um “gabinete paritário, mas corrigido”, nas palavras de Cariola.
Leia também: Momento histórico: Guarda do Chile saúda neta de Allende
“Ou seja, com uma correção histórica. Por isso, há mais mulheres que homens no gabinete. E isso é extremamente relevante, uma sinalização política muito importante”, destaca.
E, para o Brasil, assim como Boric, Karol Cariola também conta com a vitória de Lula (PT) à presidência.
“Achamos muito importante o que isso significará para a América Latina, que Bolsonaro deixe de ser presidente desse país e ter a volta de um presidente progressista que, além de tudo, mostrou em seu primeiro governo capacidade de gerar mudanças importantes, de promover processos de integração na América Latina”, avalia ao se referir a Lula.
Com informações da Folha, g1, Outras Palavras