
O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga se o bicheiro Rogério de Andrade teria participação no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, em 2018.
A Operação Calígula foi deflagrada nesta terça-feira (10) pelo MP-RJ e tem como alvo Andrade e o policial militar reformado Ronnie Lessa, réu pela morte de Marielle.
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A ação cumpriu 12 mandados de prisão, incluindo os dos delegados Adriana Belém, ex-titular da 16ª Delegacia, na Barra da Tijuca e Marcus Cipriano.
Ambos são suspeitos de participar do esquema de contravenção liderado por Rogério, banqueiro de uma rede de jogos de azar.
Ao lado do filho, Gustavo de Andrade, Rogério liderava a organização de jogo do bicho. Os dois estão foragidos e estão incluídos na lista vermelha da Interpol.
Linha de investigação
Em entrevista coletiva concedida por promotores do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na tarde desta terça-feira (10), o promotor Diogo Erthal afirmou que as investigações levaram sobre os assassinatos levaram até Rogério de Andrade.
A linha de investigação aponta tratativas para que Ronnie Lessa virasse sócio de Rogério em um bingo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
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Essas negociações começaram em abril de 2018, dias após o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
“Essa investigação deflagrada hoje evidencia que, no momento contemporâneo à morte da Marielle, os dois eram muito próximos”, disse Erthal.
O promotor Fabiano Cossermelli explicou sobre o cruzamento da organização criminosa de Rogério de Andrade e a morte da vereadora.
“Em determinado momento, essa organização se cruza com o homicídio da vereadora Marielle em março de 2018. A partir daí, o Rogério e seus financeiros entram para administrar. É algo muito rápido”, explicou.
De acordo com Cossermelli, o bingo na Barra da Tijuca começa a funcionar. A PM fecha a casa, mas a organização passa a atuar para reabrir e resgatar 80 máquinas.
“Além disso, eles passam a corromper pessoas para que a casa não fosse fechada. Essa estrutura é violenta”, avaliou o promotor.
Familiares de Lessa teria jogado arma do crime no mar
Os promotores disseram, ainda, que o delegado Marcus Cripriano tinha um papel de intermediador entre o poder público e a organização criminosa.
“Foram várias reuniões entre Lessa e policiais civis e militares que foram reportadas e aguardadas por Cripriano”, conta o promotor Fabiano Cossermelli.
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“Ele atuava diretamente. Nas investigações da morte de Marielle e Anderson, em uma das operações, descobriu-se que familiares e pessoas do Lessa estiveram no local e jogaram a arma do mar”, informou Fabiano.
De acordo com o promotor, nesse episódio, uma delegacia da defraudações foi flagrada nesse imóvel, o que não era para ocorrer. A situação indicou o relacionamento delegado e Ronnie.
“A gente não sabe se ele (o delegado) ajudou na retirada das armas”, informou Cossermelli.
O MP espera além de desvendar o esquema de pagamentos de propina de Rogério Andrade, produzir novas provas contra Ronnie Lessa, que está preso e será julgado pela execução de Marielle Franco.
A Operação Calígula deve cumprir 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, incluindo endereços de quatro bingos comandados pelo grupo de Rogério Andrade.
Além da relação com o envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson, o grupo de promotores denunciou 30 pessoas pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro.