
Segundo dados recentes do Ministério das Relações Exteriores, há 4,2 milhões de brasileiros vivendo longe do país, um aumento de quase 20% sobre o número de 2020. Esse dado fica ainda mais impressionante quando se considera que não é possível computar com precisão quem saiu daqui e se encontra em situação ilegal lá fora. Essa “diáspora brasileira” é um fenômeno sem precedentes na história do país. Este início de século já registra o maior movimento de migração de cidadãos brasileiros rumo a outros países pelo mundo. Essa diáspora foi agravado por crises agudas (sanitária e econômica) que o Brasil vem vivendo durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O ceticismo em relação a um futuro melhor tem levado um número recorde de pessoas a tentar a vida no exterior.
Os dados revelam que a saída de brasileiros para morar em outros países aumentou 122%. E, pela quantidade atual de expatriados, pode-se dizer que cerca de 2% dos brasileiros vivem hoje em um país estrangeiro. E esse cenário tende a prosseguir. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2018 indicou que, se pudessem, 70 milhões de brasileiros maiores de 16 anos se mudariam para o exterior. No recorte por qualificação, essa era uma vontade de 56% dos adultos com curso superior.
De acordo com levantamento publicado este ano pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, 47% dos brasileiros entre 15 e 29 anos gostaria de deixar o país, se possível. É um recorde histórico. Entre 2005 e 2010, este era o desejo de 26,7% dos jovens; de 2011 a 2014, anseio de 20,1%.
“No cenário atual, de aumento da inflação, afetando o preço do que consumimos no dia a dia, a alta do dólar, e com a ausência de perspectivas de melhorias, a situação tende a piorar”, contextualizou a historiadora Renata Geraissati Castro de Almeida, pesquisadora de imigração na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.
“As crises econômicas pelas quais o Brasil tem passado nos últimos anos fez com que muitos decidissem emigrar buscando melhores condições de trabalho, quer sejam profissionais altamente qualificados, ou de baixa qualificação”, acrescentou.
O professor da Fundação Getúlio Vargas Pedro Brites também comentou o atual quadro de emigração de Brasileiros para outros países. “Ao longo dos últimos anos, o Brasil tem perdido postos de emprego em pontos-chave, com enfraquecimento de setores como a engenharia civil, baixo investimento em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento. Essa mão de obra qualificada tem procurado oportunidades fora. E ainda, o Brasil atravessa um período de baixo crescimento econômico, estagnação relativa da economia. Isso efetivamente tira perspectivas de oportunidades de boa parte da população, que passa a procurar mecanismos para seguir sua vida”, afirmou.
Além do aumento de quase 20% entre 2018 e 2020, no número de brasileiros morando fora, os números estimados pelo Itamaraty revelam o surgimento de novos destinos de preferência. O aumento mais notável foi registrado na Irlanda, onde a comunidade brasileira mais que triplicou e, de uns anos para cá, tornou-se o lugar favorito de intercambistas atraídos por preços de cursos mais em conta do que no vizinho Reino Unido e por um visto que permite conciliar estudo e trabalho. Quem vai para o país também conta com oportunidades nas áreas de tecnologia, saúde ou finanças.
A queda nos investimentos em pesquisas também tem sido determinante para a diáspora. Uma nota técnica do Instituto de Pesquisas Econômicas mostra que os gastos do governo Bolsonaro em ciência e tecnologia somaram 17 bilhões de reais em 2020, um nível inferior ao observado em 2009 (19 bilhões em valores reais).