
O Instituto Marielle Franco e a editora Fundação Rosa Luxemburgo lançam hoje (27) uma história em quadrinhos, nos formatos impresso e digital, que conta parte da história de vida da vereadora Marielle Franco (PSOL), que faria hoje 42 anos. A trama da HQ ‘Marielle Franco – Raízes’ tem como foco sua trajetória no Rio de Janeiro em defesa dos Direitos Humanos.
Em todas as oportunidades possíveis, Marielle Franco gostava de dizer que era “cria da Maré”, em referência ao complexo de favelas da Maré, na zona Norte do Rio de Janeiro, onde ela viveu grande parte da sua vida com a sua família e amigos. Anielle Franco, irmã da vereadora, ajudou na elaboração da obra.
“Estamos muito ansiosas para contar essa história de maneira linda, acessível e simples para todos que se sentirem tocados em ler. A gente vai trazer a Mari de forma leve. Pelo o olhar da família. Eu sou suspeita pra falar porque está bem bonita”, diz Anielle Franco, irmã de marielle, ao site Alma Preta.
A proposta dos quadrinhos é inspirar crianças e adolescentes negras com a história da menina favela e negra que conquistou os seus sonhos e lutou contra as desigualdades.
A Maré é formada por 17 favelas e tem cerca de 150 mil habitantes. Os primeiros moradores começaram a construir os primeiros barracos ainda nos anos 1940, porém, a prefeitura só reconheceu a região no final dos anos 80.
“O intuito é fazer com que a sua história seja conhecida pela nova geração e que essas meninas tenham em Marielle Franco uma referência para saberem que podem ser e fazer o que quiserem”
Anielle Franco
Freixo lembra aniversário de Marielle
O socialista Marcelo Freixo (PSB-RJ) lembrou no Twitter o aniversário de Marielle Franco. Freixo frisou que segue exigindo respostas sobre o caso.
Banalização da imagem e contagem de dias da morte
“Não houve na vida da minha irmã um aniversário que tenha passado em branco”, lembra Anielle. “Na infância, tinha muito aquela coisa da lambada, a sainha rodada, de lycra”, lembra a caçula de Marinete e Antonio. “Quando a Mari começa a ser garota Furacão 2000, a lambada perde um pouco pro funk.”
Marielle foi mãe, filha, irmã, dançarina de funk, socióloga, vereadora do PSOL-RJ e aniversariante pela última vez no dia 27 de julho de 2017, quando comemorou seus 39 anos na Pedra do Sal, reduto do samba na zona portuária carioca. Quase oito meses depois, ela foi assassinada numa emboscada a poucos quilômetros dali, um crime com mandante até hoje desconhecido.
A menina que dançava a lambada “Chorando se foi” no Complexo da Maré celebraria seus 42 anos nesta terça-feira (27) como ícone para outras mulheres negras e LGBTQIAP+ —quando foi morta, ela estava casada com a hoje vereadora Monica Benicio (PSOL-RJ). Estrela em ascensão na esquerda, Marielle foi a segunda mulher mais votada no Brasil para uma Câmara Municipal, nas eleições de 2016.
“Festejar é preciso”, diz Anielle. Exaltar a vida em vez de remoer a perda virou um mote para Anielle.
“Me incomoda a contagem de dias da morte de Marielle. Prefiro contar os dias em que ela esteve viva comigo. Entendo que é a maneira para algumas pessoas de pedir justiça, mas não consigo caminhar desse lado. Prefiro falar sobre um ano e três meses de mandato [de Marielle], 27 projetos de lei apresentados, 39 anos de vidas bem vividos”
Anielle Franco
Também a perturba ver a figura da irmã transformada em cultura pop por quem muitas vezes sequer tem interesse real em sua história, mas veste uma camiseta com seu rosto estampado.
“Me preocupa a banalização de quem usa sem de fato saber quem é a Mari. A imagem dela sendo banalizada até mesmo entre políticos, ou gente que faz pra vender, pra conseguir uma graninha extra, sem de fato conhecer sua história”
Anielle Franco
Anielle conta que a própria irmã se inquietava com a possibilidade de heróis dos direitos civis serem reduzidos a acessório fashion. Certa vez, a caçula chegou em casa com uma camisa que comprou na feira, com uma foto de Martin Luther King no peito. Marielle só sossegou quando a irmã a convenceu de que conhecia a trajetória do pastor americano.
Ela disse: ‘Muito bem, não pode usar sem saber o que representou’”.
Caso Marielle é alvo de interferências externas
Vazamentos de informações e as constantes trocas no comando da investigação têm preocupado familiares da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados em abril de 2018, no centro do Rio de Janeiro.
Em março, foi criada uma força-tarefa sob chefia da promotora Simone Sibilio, do Ministério Público do Rio de Janeiro. Ela deixou o caso na segunda semana de julho, junto com a promotora Letícia Emile, por insatisfação com interferências externas em um momento em que a investigação se concentra em descobrir quem foi o mandante do crime e qual o motivo.
A viúva de Marielle, Mônica Benício, em entrevista ao Alma Preta Jornalismo questionou as interferências que as promotoras do caso sofreram.
“O assassinato da Marielle é o mais expressivo atentado político do Brasil deste século. As informações sobre as interferências que as promotoras sofreram e que circularam pela mídia são bem graves. O que garantiria que o próximo promotor não sofreria o mesmo se, de fato, for à fundo nessa investigação?”
Mônica Benicio
O processo do caso tem 40 volumes e a saída das promotoras é preocupante. “Que promotor, chegando 3 anos depois, conseguiria dar conta de um processo que tem 40 volumes e se preparar adequadamente para um pleno judicial? Falta pouco pro Tribunal do Júri ser convocado para julgar os acusados de executarem a Marielle. As promotoras vinham se preparando para esse momento”, lembra Mônica.
Segundo Anielle Franco, a família não tem como comentar as informações recentes que circulam sobre o caso, mas acredita que haverá avanços nas investigações sobre o mandante do assassinato.
“A gente vai seguir pressionando sim, todos os dias. Infelizmente não temos como comentar sobre essa questão pelo fato de que nossos advogados não têm acesso aos autos das investigações e portanto não temos como afirmar nada sobre as últimas denúncias”
Anielle Franco
O comitê ‘Justiça por Marielle e Anderson’, criado para acompanhar as investigações, divulgou uma nota em que reforça a necessidade de mais transparência.
“Seguiremos pressionando para saber quem quer interferir nas investigações, quem mandou matar Marielle e porquê”, diz o comunicado.
Vazamento de informações do caso Marielle
Na Polícia Civil, a polêmica é em torno da denúncia feita contra o delegado Maurício Demétrio por conta de vazamentos de informações sobre o caso Marielle. Demétrio teria recebido um documento do delegado Moysés Santana, no final de junho. Moysés era o delegado responsável pela investigação do caso Marielle até o início de julho, quando foi substituído pelo alto comando da Polícia Civil, após a denúncia de vazamento de informações feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
No dia 14 de julho, o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, teve uma reunião com a mãe de Marielle, Marinete Silva, Anielle Franco, a filha de Marielle, Luyara Santos e Mônica Benicio.
Segundo o MP-RJ, o objetivo da reunião foi tranquilizar a família sobre a continuidade das investigações acerca dos mandantes dos crimes, cujos executores, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, já se encontram presos. “Estamos absolutamente abertos ao diálogo com os familiares e instituições de acompanhamento, para prestarmos informações relevantes e possíveis, resguardando apenas o sigilo do que for essencial para o não comprometimento do trabalho de investigação”, pontuou Mattos, segundo texto publicada no site do MP-RJ, no dia da audiência com os familiares.
Uma reportagem da Veja revelou que está em curso uma negociação de delação premiada para Julia Lotufo, viúva do ex-capitão do Bope, equipe da elite da PM, Adriano Magalhães de Nóbrega, assassinado na Bahia em fevereiro de 2020, quando era procurado pela Justiça por susposto envolvimento com a execução de Marielle e Anderson, o que não foi confirmado nas investigações e o que Julia também nega.
Ainda segundo a Veja, Nóbrega teria envolvimento com milicianos e participado de diversos assassinatos encomendados por milicianos e acobertados por agentes públicos. Ele comandava o grupo de extermínio chamado Escritório do Crime.
De acordo com a reportagem da revista, Júlia teria revelado quem foram os mandantes da execução de Marielle e Anderson. Mônica Benício tem ressalvas a respeito dessa linha de investigação.
“Sobre a delação negociada da viúva de Adriano da Nóbrega, que traria informações sobre o assassinato de Marielle, o que soubemos é que foi articulada sem a participação das promotoras que conduziam a investigação, o que é absolutamente sem sentido”
Mônica Benicio
Em nota, o MP-RJ informou que o promotor Bruno Gangoni foi designado temporariamente, no dia 19, para atuar no acompanhamento dos processos judiciais e procedimentos extrajudiciais criminais até que sejam anunciados os novos nomes para a força-tarefa.
Com informações do jornal Folha de S. Paulo e Alma Preta Jornalismo