
Entregadores de aplicativos país afora estão mobilizados pelas redes sociais com uma pauta que reivindica direitos trabalhistas. Em tempos de isolamento social devido à pandemia de Covid-19, o importante papel desses trabalhadores e trabalhadoras contrasta com a insegurança deles e delas frente ao risco de contaminação do novo coronavírus.
No Distrito Federal, um dos articuladores do até agora embrião do Sindicato dos Entregadores de Aplicativos é Pedro Igor Mendes. Aos 21 anos, o designer gráfico é morador de Sobradinho II, cidade do Distrito Federal localizada a cerca de 30 km da área central de Brasília, e trabalha há cerca de um ano como entregador de aplicativo.
“Buscamos dar mais importância ao movimento dos entregadores com a criação do sindicato. A gente quer construir um movimento mais homogêneo, que se importe mais com a vida do trabalhador. Sobretudo, queremos colocar nesse sindicato realmente uma frente combativa, já que estamos cansados desse modelo de democracia burguesa que já é um lobby.”
Pedro Igor Mendes
Fundador do Sindicato dos Entregadores de Aplicativos do DF
Nesta segunda-feira, 23 de março, no DF houve uma paralisação convocada por mensagens de WhatsApp e Facebook pelos articuladores da proposta de criação do sindicato da categoria.

Segundo Mendes, o chamado virtual mobilizou cerca de 500 entregadores de aplicativos aqui na Capital Federal. Ele, porém, admite que não é um número preciso e que a contagem foi feita de acordo com a resposta das mensagens nas redes sociais.
O discurso do jovem sindicalista é revolucionário para além da tática de organização por meio da internet. Ele tece críticas ao modelo de sindicalismo vigente, chamado por ele de “aristocracia sindical” e taxado de pouco combativo na defesa dos interesses da classe trabalhadora.
“A democracia representativa burguesa atua em prol dos interesses da burguesia nacional. É uma democracia representativa que não representa e não atende os reais interesses do povo”.
Pedro Igor Mendes
Categoria em crescimento
Com a economia patinando em devaneios do ultraliberalismo, sem vagas de emprego formal, com o enfraquecimento das garantias trabalhistas e previdenciárias, o contigente de entregadores de aplicativos disparou. Afinal, as pessoas precisam sobreviver.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgada dia 18 de dezembro passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população que trabalha em veículos, como os motoristas de aplicativo, taxistas e motoristas e trocadores de ônibus, aumentou 29,2% em 2018 e chegou a 3,6 milhões, com 810 mil pessoas a mais em relação a 2017. É a maior alta em termos percentuais e absolutos desde 2012, início da série histórica.
Já os que trabalham em local designado pelo empregador, patrão ou freguês, grupo que inclui os entregadores a bordo de motos e bicicleta, muitos recrutados por aplicativo, também registraram a maior alta desde 2012. O número desses trabalhadores avançou quase 10% em relação a 2017, chegando a 10,1 milhões em 2018. Em um ano, 905 mil pessoas optaram por esse tipo de emprego.
Realidade nas cidades confinadas
O portal de notícias The Intercept Brasil publicou matéria bastante contundente sobre os efeitos da precariedade dos vínculos de trabalho entre motociclistas e empresas de aplicativo. O relato do jovem Paulo viralizou nas redes e ilustra bem a realidade desse contigente que trafega pelas cidades para não deixar a classe média sem a comodidade dos apps.