
O economista Thomas Piketty aponta possíveis saídas para acabar com a desigualdade social. A “receita” de Piketty fala sobre garantias como renda básica e emprego para populações em necessidade e para jovens em formação.
Piketty, economista francês que se tornou figura de destaque internacional com seu livro O Capital no século XXI. Em artigo publicado pelo Le Monde na terça-teria (18) com o título “Da renda básica à herança para todos”, fala sobre a crise da Covid-19 e como ela “nos força a repensar as ferramentas de redistribuição e de solidariedade”.
Soluções ousadas para desigualdade
Segundo Piketty, em quase todos os lugares as propostas para combater desigualdades mencionam a renda básica, garantia de emprego e herança para todos. Para o economista, as propostas são “complementares e insubstituíveis”, e devem ser colocadas em prática em etapas e nessa ordem.
Ele divide o texto entre as três propostas. Sobre a renda básica, menciona que o sistema é quase inexistente, especialmente em locais onde a renda de trabalhadores desabou e as regras de confinamento são inaplicáveis na ausência de renda mínima. Mesmo na Europa, aonde existem diferentes formas de renda mínima, apresentam inúmeras insuficiências.
O acesso precisa ser estendido com urgência, segundo o economista, aos mais jovens e aos estudantes, como já ocorre em países como a Dinamarca, é às pessoas sem domicílio ou conta bancária.
Moedas digitais para ampliar acesso a bancos
Piketty ainda levanta nesse caso a importância das discussões em torno das moedas digitais dos bancos centrais, que idealmente deveriam levar à criação de um sistema bancário público, gratuito e acessível a todos, diferente do caminho que tomam as atuais operadoras privadas de criptomoedas.
Ainda é mencionada no artigo a necessidade “imprescindível” de generalizar a renda básica aos trabalhadores com baixos salários, por meio de um sistema de pagamento automático sobre folhas de vencimento e contas bancárias, sem que os interessados precisem solicitá-lo, em conexão com o sistema de impostos que são retidos na fonte.
Emprego para reduzir desigualdade
Piketty aponta também como ferramenta mais ambiciosa além da renda básica, o sistema de garantia de emprego. A ideia é oferecer a todos os que o desejem um trabalho em tempo integral com salário mínimo fixado a um nível “decente”. O financiamento seria assegurado pelo estado e os empregos oferecidos por agências públicas de emprego no setor público e associativo (municípios, comunidades, estruturas sem fins lucrativos).
Herança para todos
Por fim, o último mecanismo elencado por Piketty, é um sistema de herança para todos. Segundo o economista, quando se estuda a desigualdade a longo prazo, o mais impressionante é a persistência da hiperconcentração da propriedade. “A ideia de que basta esperar que a riqueza se espalhe não faz muito sentido: se fosse este o caso, já teríamos percebido há muito tempo”, completa.
A solução, para Piketty, a solução mais simples seria uma espécie de redistribuição da herança permitindo que toda a população receba uma herança mínima. Os valores seriam transferidos a todos aos 25 anos e financiados por uma mistura de impostos progressivos sobre riqueza e herança. Os valores, mesmo com essas medidas, ainda seriam bastante díspares entre as classes, e segundo o economista, ainda longe da igualdade de oportunidades.
“[Igualdade de oportunidades] Princípio muitas vezes defendido em nível teórico, mas do qual as classes privilegiadas desconfiam como uma peste assim que se considere o início de sua aplicação concreta.”
Thomas Piketty
A herança para todos proposta por Piketty visa aumentar o poder de negociação daqueles que não têm nada, permitir a eles a recusa de certos empregos, adquirir moradia, lançar-se em projetos pessoais. Segundo o economista, esta liberdade pode assustar empregadores e proprietários, que perderiam a “docilidade”, e para “deliciar” os outros. “Estamos saindo dolorosamente de uma longa redoma. Mais uma razão para começar novamente a pensar e esperar” completa.
Com informações e tradução de Carta Maior