
A base evangélica, que é uma das sustentações do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), está rachada. A causa é a péssima gestão da pandemia da Covid-19 pelo chefe do Executivo. Lideranças religiosas que votaram no presidente em 2018 articulam uma terceira via para 2022, outros ainda insistem em apoiá-lo para evitar o retorno do PT. Nem mesmo o empenho do governo federal para manter templos abertos durante a crise sanitária melhorou o humor de parte desse apoio evangélico.
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Imagem de Bolsonaro está desgastada
A redução do entusiasmo com o mandatário começou a ficar clara em 29 de março, quando Bolsonaro fez uma convocação para um “dia do jejum”. No ano passado, 36 líderes evangélicos gravaram um vídeo em que atendiam “à proclamação santa feita pelo chefe supremo da nação”. Este ano não houve vídeo. A cerimônia, realizada no mesmo dia em que foi anunciada a troca de seis ministros, teve a presença de três lideranças.
O pastor Samuel Câmara, da Assembleia de Deus Belém, aparecia no vídeo do ano passado, mas hoje tem restrições ao presidente.”O exercício do poder tende a desgastar, e a pandemia tem participação nisso. Gostaríamos que o presidente fosse mais protagonista. Acho que em alguns momentos ele é extremamente inflexíve”, afirmou.
O religioso defende o uso de máscara e a vacinação e acredita que essas medidas devem se sobrepor às convicções pessoais de Bolsonaro. “Se houver uma terceira via, creio que o apoio será menor”, analisa.
Líder da Igreja Plenitude do Trono de Deus, emergente entre as neopentecostais, o apóstolo Agenor Duque condenou a troca de André Mendonça por Anderson Torres no Ministério da Justiça e a entrada da deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo. “O jejum não era para o meu Deus”, escreveu o pastor, que, no ano passado, também aparecia no vídeo pró-Bolsonaro.
Evitar volta do PT
Líderes evangélicos ainda apoiam Bolsonaro com o objetivo de evitar a volta do PT à Presidência, na opinião do pastor batista Carlito Paes, líder da Igreja da Cidade de São José dos Campos.
“Penso ser um erro, porque este ato pode ser lido pelo governo como apoio incondicional e (levar o governo a que) cometa novos erros”, escreveu no Twitter, no começo de março. Apesar da crítica, Paes já rezou com Bolsonaro depois que ele foi eleito presidente e chegou a tentar indicar nomes no Ministério da Educação.
Desde que assumiu o poder, Bolsonaro sempre obteve seus melhores índices de aprovação entre os evangélicos. Em abril de 2019, pesquisa do Datafolha mostrava que 42% dos eleitores desse grupo consideravam o governo como ótimo ou bom. Em março deste ano, esse número era de 37%. Apesar da redução, os evangélicos ainda avaliam Bolsonaro melhor do que a média da população. Segundo o Datafolha, o percentual geral dos que consideram o governo ótimo ou bom é de 30%.
Católicos polarizados
Entre os católicos, persiste a polarização entre opositores e apoiadores de Bolsonaro. Mesmo no grupo mais alinhado ao presidente, como os integrantes da renovação carismática, há críticas à atuação do governo no combate à pandemia.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, em julho de 2020, a “Carta ao Povo de Deus“, assinada por 152 bispos e arcebispos brasileiros com críticas ao governo Bolsonaro. Dias depois, 1058 padres brasileiros assinaram um manifesto em apoio à mensagem do episcopado.
A iniciativa desses sacerdotes esquentou o embate entre as chamadas alas “progressista” e “conservadora” na Igreja Católica. Grupos conservadores haviam reagido ao documento dos representantes do episcopado.
Na carta, os bispos disseram que o Brasil atravessa um dos momentos mais difíceis de sua História e vive uma “tempestade perfeita”, combinando uma crise sem precedentes na saúde e um “avassalador colapso na economia”, com questionadas e polêmicas ações do presidente da República que resultam “numa profunda crise política e de governança”.
Com informações de O Globo, Terra e BBC Brasil