
O café da manhã da família Bolsonaro foi quente e com bastante ‘suco de laranja‘ nesta segunda-feira (15), após a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) mostrarem indícios de que seu pai, Jair Bolsonaro, e seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), também aderiram ao esquema de “rachadinhas” em seus gabinetes.
Quatro ex-funcionários do chefe da família que o acompanharam no período em que ocupou a cadeira de deputado federal deixaram indícios de participação no esquema. De acordo com matéria veiculada pelo Portal Uol, os quatro funcionários que trabalharam para Jair Bolsonaro em seu gabinete na Câmara dos Deputados retiraram 72% de seus salários em dinheiro vivo. Eles receberam R$ 764 mil líquidos, entre salários e benefícios, e sacaram um total de R$ 551 mil.
O intenso volume de saques dos assessores do pai é bastante semelhante aos dos funcionários do filho. O padrão chama atenção porque foi identificado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) como parte do método da suposta organização criminosa que atuava dentro do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A partir dos saques, os salários eram transformados em dinheiro vivo e entregues a operadores da “rachadinha”.
Flávio Bolsonaro e o pagamento do apartamento
A quebra de sigilo também identificou que Mariana Mota, ex-chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, fez pagamentos do aluguel de uma quitinete no centro do Rio de Janeiro onde morava Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo do atual senador. O dinheiro saía da conta de Mariana no período em que Flávio foi deputado estadual. Léo constava como seu assessor na Alerj, ao longo de 2007.
Foram cinco pagamentos em benefício de Léo Índio. Em fevereiro de 2007, Mariana fez uma transferência identificada como “al.leo” para Norival Dantas, que alugava imóvel para Leo Índio. O valor foi de R$ 503.
No mês seguinte, repetiu a operação para Dantas, no valor de R$ 460 — dessa vez, anotou “condomin”. Em maio, outra transferência, identificada como “leo” e valor de R$ 503. Em julho do mesmo ano, outra operação chamada de “aluguel”, no total de R$ 500. Em agosto, mais R$ 500 com anotação “leo”.
Assessores de Carluxo sacaram R$ 470 mil em dinheiro vivo
Nem o Carluxo ficou fora. Entre os funcionários de gabinete do 02 que tiveram o sigilo bancário quebrado estão Márcio Gerbatim e seu sobrinho Claudionor Gerbatim. Marcio, ex-marido de Márcia Aguiar, atual mulher de Fabrício Queiroz, tornou-se funcionário do gabinete de Carlos Bolsonaro em abril de 2008. Ficou no cargo por dois anos. Nesse período, recebeu R$ 89 mil e sacou pelo menos R$ 86 mil, 97% do que recebeu.
Claudionor, na Câmara Municipal do Rio, sacou R$ 54,8 mil de seus pagamentos de R$ 58 mil, o que equivale a 94% do valor total.
Nelson Rabello, militar reformado que serviu no Exército ao lado do atual presidente, também fez saques da maior parte do salário quando trabalhou com Jair Bolsonaro, atuou com Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio. No período, sacou 70% do salário em dinheiro vivo.
Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina Valle, segunda mulher de Jair, foi vinculada ao gabinete de Carluxo na Câmara Municipal do Rio de 2006 a 2008. Nesse período, não morou na capital fluminense, mas em Resende, a mais de 150 quilômetros do Rio. Vivia de faxinas e outros trabalhos temporários. Ela recebeu R$ 76 mil e sacou pelo menos R$ 79 mil.
MPF recorre contra fim do sigilo
No último domingo (15), o Ministério Público Federal (MPF) apresentou um recurso contra a decisão da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de anular a autorização de quebra de sigilo bancário do senador Flávio Bolsonaro e outras 100 pessoas.
Os ministros do STJ consideraram que faltou fundamentação na decisão do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, ao quebrar o sigilo. A decisão foi dada em 22 de fevereiro. Os ministros devem se reunir na terça-feira (16) para julgar o caso.
Jair Renan e o tráfico de influência
Empresários que fazem parte de um grupo com atuação nos ramos de construção e mineração se reuniram com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, um mês após doar um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil a Jair Renan, um dos filhos mais novos do chefe do Executivo, e a outro parceiro comercial.
A reunião contou com a presença de Jair Renan e representantes da Gramazini Granitos e Mármores Thomazini (que compõem o grupo) e foi agendada a pedido de um assessor da Presidência da República.
A empresa recebe, desde setembro de 2019, um benefício fiscal de 75% no pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ). Ele é válido até 2028 e foi concedido pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Em 2021, segundo números do Diário Oficial da União (DOU), o grupo já conseguiu ao menos 15 autorizações da Agência Nacional de Mineração (ANM) no estudo de novas áreas de exploração. Ciente de alguns desses dados e fatos, o MPF instaurou um inquérito que investigará a proximidade de Jair Renan com os empresários.
A suspeita é de “possíveis crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro”. O grupo empresarial é sediado em Barra de São Francisco, no Espírito Santo, e, segundo O Globo, aposta em Jair Renan para ampliar sua atuação no Brasil e no exterior.
Com informações do UOL, O Globo e Folha de S. Paulo