
Como resultado do negacionismo e da desastrosa política ambiental, um levantamento mostrou que 92% de 1.179 textos publicados em veículos estrangeiros ao longo de 2020 apresentaram um viés negativo sobre a administração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As informações foram publicadas nessa quinta-feira (11) na Carta Capital.
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O estudo sobre a “Crise de Reputação” foi realizado pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem. A análise das publicações feitas pela consultoria chegou a um índice de imagem – tecnicamente chamado de índice de Valor, Gestão e Relacionamento (iVGR) – de -3,38, numa escala que vai de -5 a +5.
Pela metodologia do índice, criado em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), as crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2. O patamar negativo foi mantido nos 12 meses do ano.
Para chegar ao número, os consultores analisaram textos de sete veículos internacionais de reconhecida relevância: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Le Monde (França).
No comando do segundo país com mais número de mortos por Covid-19 (236.397), o atributo “irresponsável” manteve média de 20% nas reportagens direcionadas a Bolsonaro ao longo de 2020.
Para Anthony Pereira, professor do Brazil Institute e do Department of International Development do King’s College de Londres, o resultado do estudo foi gerado por causa de assuntos como meio ambiente e a pandemia, mas não apenas em função de dados.
“Os discursos também contribuem para isso, como o de que as ONGs incentivam a queimada da floresta e o de que os dados sobre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) são uma mentira. Esse discurso negacionista e o desmantelamento da infraestrutura de combate a incêndios gerou essa imagem. Fora as falas na área de direitos humanos e política externa, como ter sido um dos últimos líderes a parabenizar Joe Biden pela vitória na eleição”, afirmou.
Pereira relatou ainda que, em seus contatos recentes com o governo britânico, não há qualquer interesse de estreitar relacionamento com o presidente Bolsonaro. “Não conheço um governo da Europa que gostaria de receber uma visita de Estado de Bolsonaro”.
Itamaraty de Bolsonaro minimiza pesquisa
Procurado, o Itamaraty, responsável pela política externa do governo brasileiro, afirmou que considera que o levantamento em veículos de imprensa “não parece refletir a opinião da população ou governos de outros países”.
“O exercício da atividade diplomática no exterior inclui a comunicação formal, quando o assunto requer, entre o representante diplomático e os órgãos de imprensa, para permitir ao público conhecer também a perspectiva oficial brasileira a respeito de determinado assunto – contexto em que se inscreve o exemplo citado”, afirma, em nota, o Ministério das Relações Exteriores.
Com informações da Carta Capital