
Yara Gouvêa no JSB Feminista. Foto: Humberto Pradera
Um dos principais desafios para os socialistas democráticos é elaborar novos modelos sociais e econômicos que protejam trabalhadores e trabalhadores das mudanças em curso com a Quarta Revolução Industrial. Inúmeras profissões deixarão de existir em curto prazo a reboque de inovações trazidas pela Indústria 4.0, Inteligência Artificial e Big Data.
Na avaliação da assessora internacional do PSB, Yara Gouvêa, os prognósticos são os mais obscuros possíveis: dois terços da população serão condenados à inutilidade com o avanço dos robôs. A médio prazo nenhuma atividade humana permanecerá imune à automação. Ela fez esse alerta durante a palestra ‘Da ditadura à resistência de hoje’, ministrada para a Juventude Socialista Brasileira (JSB) Feminista dia 11 de junho. O evento integrou a programação da JSB no 57º Encontro da União Nacional de Estudantes, na Universidade de Brasília (UnB).
“Hoje, além de proteger os empregos devemos muito mais proteger os trabalhadores e nos perguntar a partir de agora como é que bilhões de pessoas poderão superar as mudanças que em breve lhes serão impostas, sem que elas venham a perder o equilíbrio mental e sem que sejam ameaçadas puramente de ‘extinção’”.
Yara Gouvêa
Outra reflexão proposta por Yara é sobre a concentração dos dados em poucas mãos, resultado dessa quarta revolução industrial em curso, que trará como consequência uma desigualdade econômica ainda maior, aprofundando o abismo entre ricos e pobres e criando uma “subespécie” de inúteis.
A socialista falou também sobre as ameaças à democracia neste processo de avanço da inteligência artificial. Com robôs, as mídias digitais são manipuladas para propalar discursos que inspiram o ódio e a intolerância, comentou. “Hoje, precisamos reinventar a democracia, para não sermos vítimas das ditaduras digitais, das discriminações, das opressões, das censuras”, disse.
Para Yara, a reinvenção da democracia implica necessariamente em questionar a propriedade dos dados. “Reinventar a democracia é se perguntar se amanhã poderemos ou não confiar na inteligência artificial escolhendo por nós o que estudar, onde trabalhar, com quem se casar”, adverte. “Mesmo eliminando a filosofia de nossos currículos, reinventar a democracia é saber que só a ética e a moral poderão intermediar entre nós e a IA”, afirmou.
A leitura da socialista para os desafios desse novo mundo hiperconectado vem sendo feita por intelectuais mundo afora a partir de recortes de trabalho, sociedade e política. Entre eles está um dos principais teóricos da comunicação da atualidade, o espanhol Manuell Castells. Em entrevista ao jornal O Globo publicada no dia 17 de julho (leia aqui), ele comentou que o Brasil está vivendo um novo tipo de ditadura, que tem como pilares a disseminação de notícias falsas e sucessivos ataques à Educação.
“Nosso mundo da informação é um mundo baseado nas redes sociais e nas redes sociais há de tudo. Elas permitem a autonomia dos indivíduos, acreditávamos que era um instrumento de liberdade e é, mas é uma liberdade que é usada tanto pelos manipuladores como pelos jovens que tentam mudar o mundo.”
Manuel Castells
O espanhol comenta ainda que foram desenvolvidas técnicas muito poderosas de desinformação e manipulação, que incluem a utilização massiva de robôs manipulados por organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) e financiadas pela extrema direita internacional, que estão preenchendo as redes sociais e manipulando-as muito inteligentemente. “A construção coletiva do que ocorre na sociedade está totalmente dominada por movimentos totalitários, que querem ir pouco a pouco anulando a democracia”, alertou.
Outro pensador que mergulha no entendimento dos efeitos da avalanche de mudanças é o especialista em Big Data Martin Hilbert, professor da Universidade da Califórnia e assessor de tecnologia da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. O alemão, doutor em Comunicação, Economia e Ciências Sociais investiga a disponibilidade de informação no mundo contemporâneo.
Em 2017, Hilbert concedeu uma entrevista para a BBC Mundo (leia aqui) em que afirmou que a tecnologia é apenas uma ferramenta e não é tecnologicamente determinada, sempre é socialmente construída.
“Não me preocupo tanto com o comércio ou com a economia. Quem não está preparada para esta transparência brutal entre cidadão e representante é a democracia representativa.”
Martin Hilbert
Com informações do PSB Nacional