2020 já tem há meses seus slogans derradeiros: o ano inesquecível, o ano perdido, o ano que marcou a história, o ano como nenhum outro. Para as mulheres, certamente foi um ano duro e que pediu, a todo momento, resiliência e resistência. Se o mundo precisou ser mais forte em 2020, às mulheres foi exigido ainda mais força. A pandemia nos castiga com requintes de desigualdades e opressões misóginas que só sociedades patriarcais podem expressar. Se ser mulher sempre foi pagar um preço mais alto em comparação aos homens, ser mulher no ano inesquecível foi exaustivo, violento, desafiador e angustiante.
Em 2018, Margaret Atwood , autora do romance distópico O Conto da Aia , chegou a dizer em entrevistas: nas catástrofes que atingem a humanidade, as mulheres são as mais prejudicadas. A crise do novo coronavírus confirmou sua teoria. Em todo o planeta, coube às mulheres ocupar a linha de frente dos serviços de saúde – a enfermagem é formada, em sua grande maioria, por força de trabalho feminina. No Brasil, por outro lado, também nos restou a menor participação no mercado em 30 anos (os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea). O desemprego na pandemia atingiu em cheio as trabalhadoras.
O quadro de perdas e impactos difíceis para as mulheres é mais dramático do que o início deste texto sugere. Mas em anos terríveis, coisas incríveis e inéditas também acontecem. Foi bem assim com 2020: heroínas da vida real se destacaram por bravas atitudes e, por muitas primeiras vezes, mulheres chegaram a lugares antes apenas ocupados por homens. Há ainda as que foram destemidas, diga-se de passagem, um modo grandioso a se chegar se você é mulher neste mundo. Denunciar publicamente um crime sexual, sabemos, é algo que merece o apoio e o reconhecimento de todos nós. Ir contra a corrente, algo que as mulheres fazem todos os dias, também.
Por isso, administrar (e de maneira exemplar) um país em um pandemônio; perder um filho para o racismo e seguir lutando; bater o seu próprio recorde; resgatar a história de um feminicídio histórico; se erguer sozinha, e em festa, em meio à escuridão; dizer todos os dias não vão me silenciar ; ser a artista, entre mulheres e homens, mais tocada; a vereadora mais votada; e se tornar a maior ativista de direitos humanos de um país sob ditadura são feitos que merecem nossos olhares e, mais, um selo de registro no tempo. É mais ou menos isso que a lista abaixo intenta, relembrar as mulheres a seguir e louvar suas existências neste ano singular.
Com vocês, as 20 mulheres que marcaram o ano de 2020 segundo a revista Marie Claire.
Branca Vianna

A linguista Branca Vianna cresceu impactada pela morte da socialite belorizontina Ângela Diniz , ocorrida na Praia dos Ossos, Búzios, em 1976. Na época, Branca tinha 14 anos e, embora não fosse afeita às histórias de crime (como não é até hoje), acompanhou a repercussão do caso nas revistas, que traziam fotos de página inteira da vítima. O crime fugia da trivialidade dos cadernos de segurança pública primeiro porque os envolvidos eram figuras de destaque da alta sociedade fluminense e, mais tarde, por causa do inacreditável julgamento do assassino, o empresário Doca Street . Seus advogados usaram a tese da legítima defesa da honra. “Retrataram Ângela como culpada pela própria morte. Uma mulher que, com seu comportamento libertino, teria provocado no namorado uma ânsia assassina”, lembra a linguista. O crime contra Ângela ficou latente em Branca até o início de 2019, quando decidiu, depois de uma conversa com a amiga Paula Scarpin , transformá-lo em podcast. “Nossa vontade mais legítima era, para além do feminicídio, tratar um tema pouco debatido na sociedade brasileira. E essa história, que atravessou os anos e continua de grande importância para todas as mulheres, se mostrou perfeita.” Conseguiram. Praia dos Ossos se tornou o podcast nacional mais comentado do ano , resgatando o feminicídio de ngela e pautando a imprensa sobre o machismo ainda impregnado em nossa sociedade, mesmo 44 anos depois.
Carol Solberg

Carol Solberg se viu diante de um turbilhão de emoções nos últimos meses. Ao protestar contra Jair Bolsonaro no dia 20 de setembro, quando ela e Talita Antunes conquistaram o bronze na etapa de Saquarema do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, Carol acendeu uma discussão sobre liberdade de expressão no esporte e a função do atleta enquanto formador de opinião. Atleta não é só entretenimento , defendeu. Você não pode ser exemplo para nada se não puder falar o que pensa. Em novembro, um novo capítulo: a jogadora foi absolvida em última instância pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Por 5 votos a 4, optaram por rever a decisão de 13 de outubro, quando a 1ª Comissão Disciplinar do STJD converteu multa em advertência à Carol. A decisão, claro, foi bem recebida, mas deixou um alerta. Essa história não termina aqui. Existe um debate grande sobre esse assunto e as regras podem ser revistas e alteradas até para pior , disse ela. O Fora, Bolsonaro gritado por Carol pode fazer com que esportistas sejam proibidos de se expressar politicamente. Uma bandeira que ela não está disposta a largar. Desejo que futuras gerações se inspirem nesse episódio, que acreditem na força da sua voz.
Claudia López

Ex-senadora do partido progressista Aliança Verde, Claudia López tomou posse em janeiro como prefeita de Bogotá, quando ainda ressoavam os panelaços como parte da onda de protestos contra o Governo de Iván Duque , que agitaram a Colômbia no final de 2019. Sua vitória como primeira mulher eleita nas urnas para governar a capital demonstra uma mudança de ciclo na política colombiana, após meio século de conflito armado. E aqui, há um outro detalhe que diz muito sobre essa inclinação para a mudança: além de mulher, Claudia é abertamente lésbica. Estar no comando de Bogotá significa ocupar o segundo posto em relevância política, abaixo somente da presidência do país. Também por isso sua vitória foi um feito. Defensora dos acordos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ativista pelos direitos LGBTQIA+ e feminista, ela afirmou em sua posse: “É mesmo um milagre que eu esteja na prefeitura. Venho de baixo, sou filha de professora, sou mulher e sou lésbica”.
Dani Calabresa

2020 foi ano em que Dani Calabresa tirou uma dolorosa história de assédio sexual do armário. Ao fazer isso, através de uma reportagem trazida na edição de dezembro da revista piauí , que narra as violências que teria sofrido do ex-chefe, o humorista Marcius Melhem , a atriz descortinou uma espécie de Me Too brasileiro. A reportagem, assinada pelo jornalista João Batista Jr. , ouviu 43 pessoas, em conversas presenciais, virtuais ou por meio da troca de mensagens de texto ou áudio. Entre elas, duas possíveis vítimas de assédio sexual de Marcius Melhem, sete que relataram assédio moral e três dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral. O caso, até então, só foi judicializado pelo acusado e, por tanto, há muito o que acontecer ainda. A advogada do grupo de treze pessoas ouvidas pela piauí , Mayra Cotta , costuma dizer em entrevistas que o objetivo com o caso é que a amplitude do debate seja maior que a simples punição legal do agressor. “Gestores em empresas e organizações precisam entender que um chefe assediador deixa para trás uma verdadeira terra arrasada.” Dani Calabresa é uma mulher que marcou 2020 por dar rosto e visibilidade a um tipo de denúncia naturalmente silenciada em nossa sociedade , a de uma mulher contra um homem em lugar de poder.
Debora Diniz

Há ao menos duas décadas a antropóloga alagoana Debora Diniz volta suas pesquisas e seu ativismo aos direitos reprodutivos das brasileiras. Em 2020, foi homenageada com o prêmio Dan David Prize por sua atuação na defesa da igualdade de gênero. Então vice-diretora da região do hemisfério ocidental na International Planned Parenthood Federation (IPPF) , ONG que promove a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos em mais de 170 países, ela se manteve ativa nas redes sociais em 2020. Um dos seus papéis foi interpelar altos cargos do Governo Federal, despertando a atenção de Damares Alves , ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e uma conservadora nos costumes. Foi também neste ano em que Debora teve o resultado de um longo processo judicial que ajudou a mover contra um padre. Em agosto, o Supremo Tribunal Federal tornou definitiva a decisão de que o Luiz Carlos Lodi deve pagar R$ 398 mil de indenização por danos morais à Tatielle Gomes , dando desfecho a uma história que começou 15 anos antes, quando o padre impediu que ela realizasse um aborto permitido pela lei brasileira.
Djamila Ribeiro

Apesar do Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras) ter sido lançado no final de 2019, foi em 2020 que ele se transformou em best-seller. O livro vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas, foi o sexto de não ficção mais vendido no ano. Tem mais: desde o início de 2020, os oito títulos da coleção Feminismos plurais, coordenada por Djamila Ribeiro , venderam mais de 120 mil cópias físicas e 17 mil digitais somente em 2020. Sobre o enorme sucesso de seus livros, a filósofa escreveu em suas redes sociais: “Quem me acompanha há algum tempo sabe do meu compromisso para a ampliação das vozes negras, nos mais diversos formatos. A realidade não é natural e, nesse sentido, precisamos interpretá-la e seguir fazendo uma disputa de consciência. Antirracismo é prática diária e todos nós temos muito para aprender e construir”.
Erika Hilton

Nas eleições municipais de 2020, Erika Hilton se tornou a mulher mais votada para vereança em São Paulo, e a sexta no ranking geral, com 50.508 votos. A política do PSOL será a primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal da capital paulista. Até então, Erika havia atuado como codeputada à Assembleia Legislativa do estado de São Paulo pela Bancada Ativista, também do PSOL, eleita em 2018. Na ocasião de sua recente vitória, declarou: Nós, corpos negros, trans, periféricos, podemos existir e atuar para além dos espaços que nos foram sentenciados, como as esquinas, o cárcere, os manicômicos .
Jacinda Ardern

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern , é a gestora modelo quando falamos em pandemia. Seu governo foi reconhecido internacionalmente pela estratégia de contenção da crise do novo coronavírus, que causou apenas 25 mortes em uma população de quase cinco milhões de habitantes. Ela já estaria nesta lista apenas por isso, mas como não citar seus últimos e exemplares movimentos? Em novembro, após ser reeleita, Jacinda definiu o novo escalão de seu novo mandato como “incrivelmente diverso”, anunciando Nanaia Mahuta como Ministra das Relações Exteriores. Nanaia é maori, o maior dos povos indígenas da Nova Zelândia. Será a primeira mulher a ocupar o cargo. Jacinda nomeou ainda Grant Robertson como vice-primeiro-ministro, tornando-o a primeira pessoa assumidamente homossexual a ocupar o cargo. A líder de centro-esquerda reformulou sua formação ministerial após uma vitória eleitoral esmagadora, dizendo que suas prioridades para o segundo mandato eram responder à Covid-19 e promover a recuperação econômica.
Kamala Harris

Após uma disputa acirrada que parou o mundo por uma semana, Joe Biden foi eleito democraticamente como o novo presidente dos Estados Unidos. Com ele, o Partido Democrata também subiu ao poder Kamala Harris , a primeira mulher e filha de imigrantes a se tornar vice-presidente. O ato a transforma num importante personagem histórico, já que seu país é marcado por conflitos raciais e de luta do movimento negro por direitos civis, contra o racismo e a violência – particularmente escancarada neste ano pelas manifestações organizadas do Black Lives Matter. Em 7 de novembro, dia em que a principal agência de notícias norte-americana anunciou a vitória de Joe e Kamala, ela citou a mãe, que chegou da Índia aos 19 anos, e todas as gerações de mulheres que construíram os Estados Unidos. Inclusive as mulheres negras que muitas vezes são esquecidas, mas que são a base de nossa democracia , completou. Embora eu seja a primeira mulher nesse posto, não serei a última , concluiu a vice-presidente eleita.
Luiza Trajano

A empresária Luiza Trajano é habitué das listas de mulheres que marcam os anos. Em 2020 não haveria de ser diferente. Em março, assim que a pandemia foi oficializada no Brasil, tomou frente de uma campanha pedindo que empresários não demitissem durante a crise. Em setembro, a presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza precisou responder por um passo da companhia que rendeu polêmica a perder de vista: a gigante do varejo abriu 18 vagas de trainee só para pessoas negras. Atacado em redes sociais como “racismo reverso”, o programa foi lançado para corrigir um problema no quadro de funcionários da rede: embora 53% dos colaboradores sejam negros, apenas 16% dessa liderança é ocupada por pretos e pardos. Para Luiza, “cota é um processo transitório para acertar uma desigualdade”. Em dezembro, como presidente do grupo Mulheres do Brasil, que abarca 65 mil mulheres integrantes, organizou o que chamou de ato pró-vacina, pedindo que todos os brasileiros apagassem as luzes de suas casas e acendessem lanternas como forma de pedir às autoridades que se organizem para a vacinação em massa no país.
Mariana Ferrer

A produtora de eventos Mariana Ferrer foi protagonista e vítima de cenas indigestas vindas de gravações da audiência em que ela acusava o empresário André de Camargo Aranha pelo crime de estupro. Na ocasião, ele foi absolvido. Por conta de uma reportagem do The Intercept Brasil , que foi ao ar em novembro, as cenas do julgamento vieram a público e escancaram o machismo ainda presente nas cortes brasileiras. Também a partir da reportagem, assinada por Schirlei Alves , surgiu o termo estupro culposo , uma interpretação da publicação para a tese do Ministério Público de Santa Catarina, que dizia que não havia como André saber que Mariana não estava em condições de consentir a relação, não existindo portanto intenção de estuprar. O assombro com o termo e com o teor das cenas vazadas (diante de ofensas do advogado do acusado, Mariana chora e pede respeito ao juiz) mobilizou a internet e fez imprensa e opinião pública refletirem sobre a violência a qual a produtora de eventos foi submetida pelo próprio judiciário. O caso Mariana Ferrer marcou 2020 e reacendeu a discussão de temas importantíssimos como estupro, estupro de vulnerável e o tratamento que denunciantes de crimes sexuais recebem da Justiça deste país.
Marília Mendonça

Foi em abril, logo no início da quarentena, que Marília Mendonça , a Rainha da Sofrência”, fez um show histórico pelo Youtube. Numa transmissão que fez parte do projeto #FiqueEmCasa e que durou mais de 3 horas, a cantora bateu o recorde de acessos simultâneos na plataforma, com 3,2 milhões de espectadores ao vivo. A marca anterior era da dupla Jorge e Mateus , com 3,1 milhões de views. Naquele dia, 13 dos 20 assuntos mais comentados no Twitter eram relacionados à transmissão. Com sua live, Marília arrecadou mais de 225 toneladas de alimentos, 2 toneladas de produtos de limpeza, 2 toneladas de argamassa, e diversos outros produtos para famílias de baixa renda que foram ajudadas no período de isolamento. Durante o show, o então ministro da Saúde Henrique Mandetta fez uma aparição gravada para alertar a população da importância de ficar em casa. Como se não bastasse, o ano de Marília termina com outros dois importantes marcos: ela é a artista, entre e mulheres, mais ouvida no Brasil no Spotify, e tem o clipe musical mais visto do YouTube, também no Brasil, com a música Graveto .
Maya Gabeira

Maya Gabeira é a maior surfista brasileira, uma big rider – ou seja, uma atleta que encara ondas gigantescas – renomada pelos seus muitos troféus conquistados ao redor do mundo. Em setembro, em Nazaré, Portugal, estabeleceu um novo recorde. Encarou a maior onda já surfada por uma mulher na história, avaliada em 73,5 pés (22,4 metros). Com o feito, Maya superou sua própria marca, de 68 pés (20,72 metros), que já havia sido o primeiro recorde feminino de maior onda homologado pelo Guinnes World Records. Em entrevista a Marie Claire na ocasião da conquista , nos disse que se sente animada em poder inspirar outras mulheres a seguir o esporte e quebrar limites. Não me considero um exemplo. Mas fico muito feliz em poder abrir caminhos e provar que conseguimos chegar além do que se espera de nós. Alguma dúvida de que Maya marcou 2020?
Mirtes Souza

Era 2 de junho quando a trabalhadora doméstica Mirtes Souza saiu para passear com o cachorro de sua então empregadora, Sari Côrte Real , e deixou o filho, Miguel, de 5 anos, sob os cuidados dela. Ao voltar da rua, encontrou o menino morto. Miguel caiu do 9º andar do edifício Píer Maurício de Nassau, no bairro de Santo Antônio, centro do Recife. Naquele dia, Sari foi presa em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Em 1º de julho, foi indiciada pela polícia por abandono de incapaz que resultou em morte. Apesar de toda a dor, das lembranças do filho que nunca mais poderá abraçar, Mirtes segue firme em seus objetivos, ciente de que a dor caminhará ao seu lado para o resto da vida. Para ajudar a apaziguar o sofrimento, decidiu prestar vestibular para o curso de direito. Na nova caminhada, quer ajudar pessoas que passam por dores parecidas. 2020 marcou a vida de Mirtes para sempre. Já sua trágica história, marcou o ano e brasileiras que como ela, se dedicam a cuidar da casa e da rotina dos outros.
O trio Opal Tometi, Alicia Garza, Patrisse Cullors

O ano de 2020 entrará para a história por dois acontecimentos cruéis e traumáticos. Primeiramente, a pandemia do novo coronavírus, maior crise sanitária deste jovem século. O segundo é a imagem do afro-americano George Floyd deitado no chão dizendo: “Eu não consigo respirar”, enquanto um policial branco o imobilizava, apertando seu pescoço com o joelho por 8 minutos e 46 segundos. O registro em vídeo da tortura que provocou sua morte em maio, somado às então 300 mil mortes por Covid-19 só nos Estados Unidos, mostrou-se uma bomba-relógio, que explodiu quando multidões ocuparam as ruas, na maior manifestação do país, e que se propagou por outros continentes. Unindo toda essa gente, uma frase em uníssono: vidas negras importam (em inglês, black lives matter). O slogan não é novo. Surgiu há sete anos, durante protestos contra o julgamento que absolveu o segurança George Zimmerman (branco) por ter atirado num rapaz de 17 anos, Trayvon Martin (negro), matando o estudante secundarista que, para o vigia, estaria armado – ele não estava. Na lista das 100 pessoas mais influentes do planeta neste ano, segundo a revista Time, Opal Tometi , Alicia Garza e Patrisse Cullors são as três mulheres que deram início a essa agitação social e ao que transformou o grito black lives matter em movimento.
Patricia Arce Guzman

Em 2019, Patricia Arce Guzman , então prefeita da pequena cidade de Vinto, no departamento de Cochabamba, teve o cabelo cortado, o corpo pintado de vermelho e foi forçada a andar descalça por vários quarteirões em meio aos gritos de “assassina! assassina!”. As cenas, que ganharam o mundo, transformaram-se no símbolo de um período de tensão política e violência que culminou na renúncia de Evo Morales sob ultimato dos militares. Em outubro deste ano, no entanto, Arce comemorou sua eleição como senadora, pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS), uma das três cadeiras na Casa que a legenda obteve em Cochabamba. Com a vitória, ela irá se mudar para La Paz, onde fica o Congresso boliviano. Sua bandeira, afirmou, será a defesa dos direitos das mulheres. Quero que nenhuma outra mulher da Bolívia sofra maus-tratos, acosso ou violência , declarou.
Shi Zhengli

Em 30 de dezembro de 2019, Shi Zhengli, uma virologista do Instituto de Virologia de Wuhan, recebeu uma amostra do que então seria uma suspeita de um novo coronavírus que estava causando pneumonia atípica em certos pacientes. “Largue tudo o que está fazendo e se dedique a isso”, pediu seu chefe. Ela foi uma das primeiras cientistas do mundo a isolar o vírus que causou a pandemia da Covid-19. Apesar de o vírus ser novidade para ciência, Shi suspeitava de onde ele vinha: morcegos. A cientista passou os últimos 16 anos fazendo expedições em cavernas de morcegos e estudando a prevalência de tipos de coronavírus em animais selvagens. Foi ela e seu time que descobriram que o vírus causador da SARS, epidemia que arrasou o sul da Ásia em 2003. A SARS vinha de morcegos de uma caverna no sudoeste da China. Daí veio o apelido de “Mulher Morcego”. Em 2015, Shi e seus colegas alertaram que era apenas uma questão de tempo até que outro coronavírus de morcego “pulasse” para a espécie humana. Cinco anos depois, o SARS-CoV-2 provou que ela estava certa. O laboratório de Shi já foi acusado pela administração de Donald Trump de ter deixado o vírus “vazar”. Mas a cientista se mantém confiante em seu trabalho e avisa que mais tipos de coronavírus vindo de morcegos ainda são uma ameaça. “A missão é seguir em frente. Só descobrimos o topo do iceberg”, ela alerta.
Com informações da Revista Marie Claire