redação IT Management 01/08/2017
Especialista em Big Data, tecnologias sociais móveis e comportamento do consumidor. Assim pode ser apresentado o consultor Andreas Weigend, autor de “Data for the people” (sem versão no Brasil). Ex-Chief Scientist da Amazon, cuja estratégia de dados ajudou a criar, ele é o entrevistado da revista IT Management #11.
No bate-papo exclusivo com a reportagem, Weigend crava: “humanos são muito ruins em fazer escolhas”. Para ele, é preciso deixar as pessoas fazerem o que realmente dominam, delegando às máquinas o que estas fazem melhor. Nesta era do Big Data e da Inteligência Artificial, garante o autor, vivemos a revolução do “social data”. Se treinarmos um computador com dados, pondera, “é provável que ele tome decisões melhores que as nossas”. E o que restará à sociedade, se fazer escolhas for incumbência das máquinas? “O juízo de valor”, responde Weigend. “Pensar no mundo em que realmente queremos viver. Isso o computador não nos dirá”. Para o cientista, poderemos finalmente nos concentrar em reescrever a equação da sociedade. “Como queremos que a riqueza seja distribuída, como queremos que seja a educação? São perguntas muito importantes”, analisa Andreas Weigend.
A seguir, confira trechos da entrevista do especialista em Big Data:
Você trabalhou na Amazon, uma empresa construída sobre os pilares do Big Data. Qual o maior aprendizado dessa experiência?
Acho que a maior lição foi que a cultura, especialmente a cultura de dados, vem do CEO. É algo que Jeff Bezos compreende e adota. É por isso que a Amazon é uma organização tão focada em experimentos e em dados. O CEO realmente vive e respira dados. É assim que discussões são resolvidas. Se pessoas diferentes têm opiniões diferentes, realiza-se um experimento e descobre-se a resposta. Essa cultura foi o que aprendi.
Nesta era do Big Data, nós produzimos muito mais dados do que anos atrás. De que maneira as empresas podem mapeá-los e gerenciá-los? Como saber quais dados utilizar?
Ótima pergunta! E a resposta é que você deve começar se perguntando que decisões a empresa costuma tomar. Uma abordagem correta seria, por exemplo, dizer “certo, vamos lançar um produto. Quais são nossas decisões, considerando esse lançamento?”. A partir daí, perguntar-se como realizar um experimento e que dados obter com ele. Essa é uma abordagem acessível. Mas dizer “meu Deus, temos todos esses dados e nem sabemos por onde começar a análise” conduzirá ao fracasso. Por isso se deve começar com a pergunta, não com os dados.
Você diz que o Big Data tem oito regras. Quais podem ser consideradas as mais importantes?
A primeira regra é começar com uma decisão, não com os dados. Outra que considero bem importante, nesta era de Inteligência Artificial, é deixar as pessoas fazerem aquilo no que são boas, e os computadores fazerem aquilo no que são bons, sem misturar. Acontece que seres humanos são muito ruins em fazer escolhas, sejam econômicas ou heurísticas. Se pudermos treinar um computador com dados, a probabilidade é que ele tome decisões melhores. E, então, o que resta às pessoas? O juízo de valor. Pensar no mundo em que realmente queremos viver. Isso o computador não nos dirá. Nunca vivemos uma época melhor, pois nos livramos de muitas coisas mundanas. Agora podemos focar no que as pessoas realmente deveriam e poderiam fazer, que seria escrever a equação da sociedade. Como queremos que nossa riqueza seja distribuída? Como queremos que seja a educação? Essas são perguntas muito importantes.
Você fala numa revolução do social data. O que isso significa?
Revolução significa que a estrutura e as relações de poder são redefinidas – não apenas para algumas pessoas, mas para muitas delas. O que eu chamo de revolução do social data é, precisamente, o que levou a isso. Pense na forma como as marcas perderam seu poder com a internet. As marcas já não conseguem mais controlar a mensagem da mesma maneira que o faziam. A revolução do social datacriou transparência.
Muitas pessoas temem perder a privacidade. De que maneira as companhias vêm lidando com o Big Data em relação à privacidade de seus consumidores?
É importante traçar uma distinção entre segurança e privacidade. As companhias devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter os dados dos consumidores seguros, o que significa não ter falhas. Esse é um ponto fácil de entender e que deve ser a prioridade máxima de qualquer companhia hoje em dia. Isso é muito diferente da discussão sobre privacidade. Penso que não temos privacidade. Nós temos a chance de aceitar isso, de dizer “tudo bem”. Qualquer pessoa, potencialmente, pode descobrir coisas a nosso respeito. Nós publicamos todo tipo de fotos no Facebook ou no Twitter! A tentativa de dizer “eu não quero que esses dados vazem para o mundo” é, na minha opinião, uma tentativa frustrada.
Se partirmos do pressuposto de que todos sabem tudo que querem sobre nós, o que, de fato, podemos tirar disso? O que exigimos das companhias em troca de nossos dados pessoais? Essa é uma distinção muito importante. Eu veementemente quero ter certeza de que os dados estão seguros. Má qualidade não é uma opção. O assustador pode ser uma opção, porque, em muitos casos, significa que as pessoas simplesmente não entendem que tipo de dados elas criaram. É por isso que elas se assustam com algo que, na verdade, é necessário.
Fonte: www.itmanagement.com.br